A três dias da estreia de Portugal no Campeonato do Mundo diante do Gana, Fernando Santos terá, certamente, algumas dúvidas para formar aquele que será o onze de estreia da equipa das quinas no Mundial'2022, dada a grande qualidade existente nos 26 jogadores convocados.
Se a questão da baliza e dos laterais pode ser um dado fechado para o técnico, de 68 anos, o mesmo não se pode dizer na questão dos centrais e até mesmo do meio-campo, onde as opções de qualidade darão, certamente, algumas (boas) dores de cabeça ao selecionador nacional.
Em conversa exclusiva com o Desporto ao Minuto, Josué Pesqueira perspetivou aquelas que podem ser as opções táticas de Fernando Santos no Campeonato do Mundo do Qatar, durante as próximas semanas.
O jogador, de 32 anos, aponta Diogo Costa como o 'dono' das redes nacionais e coloca Pepe e Rúben Dias como a dupla de centrais. Ainda assim, o médio antevê que o selecionador possa ter algumas dúvidas no meio-campo e no ataque.
O treinador tem de ser sentir confiante que aqueles 26 que escolhe lhe permitem chegar aos objetivos que se propôs dentro do grupo e a título pessoal
De fora, como é que vê o conjunto de 26 jogadores que Fernando Santos vai levar ao Qatar?
Quando saiu a convocatória, ouvi muitos jornalistas e pessoas a falarem que não levava este ou aquele jogador. Eu acho que, sendo selecionador, nunca seria fácil escolher 26 jogadores dada a grande qualidade que temos no nosso país. Haveriam sempre jogadores muito bons a ficarem de fora. Se o selecionador escolheu estes 26, é porque acredita ao máximo que eles podem dar garantias para serem campeões do mundo.
E quem colocaria fora desta lista?
Não tenho nenhum jogador que colocaria de fora, se tivesse mesmo não tinha problemas em dizê-lo. Eu respeito muito as decisões do nosso selecionador. Não é um trabalho fácil, toda a gente pensa que pode sê-lo, mas não é. O treinador tem de se sentir confiante que aqueles 26 que escolhe lhe permitem chegar aos objetivos que se propôs dentro do grupo e a título pessoal. É tudo uma questão de respeito, de lógica. Para mim, por exemplo, podia estar a dizer que gosto desta tática ou daquela. O selecionador, a partir do momento que define um plano de jogo para a seleção, escolhe aqueles que acha que lhes vão dar garantias e são esses 26 que temos de apoiar.
Na minha opinião, num Mundial ou em jogos decisivos como são as finais, o mais importante é chegar ao final do jogo e vencer
É daqueles que alinham na tese de que Portugal joga mal?
Eu sou daqueles que alinham na tese de que não me importava que Portugal jogasse mal, ganhasse todos os jogos e fosse campeão do mundo. Óbvio que a seleção, com os jogadores que estão à disposição, tem condições para fazer grandes jogos, mas, como profissional, sei que nem sempre isso é possível. Também nem sempre é fácil isso acontecer porque existem 11 adversários do outro lado, que querem dificultar a vida ao máximo à seleção. Na minha opinião, num Mundial ou em jogos decisivos como são as finais, o mais importante é chegar ao final do jogo e vencer. Podem-me dizer que, se jogarmos bem, estamos mais perto de ganhar. Isso é verdade, mas também se pode jogar bem e não vencer o jogo. Acho que Portugal vai jogar muito melhor do que aquilo que poderá ter demonstrado na Liga das Nações.
Portugal defronta o Gana na quinta-feira© Getty Images
Que tipo de equipa acredita que poderemos apresentar no Qatar?
Portugal tem um padrão de jogo definido. Os jogadores têm treinado juntos e têm vindo a conhecer-se há muitos anos. É muito diferente estar muito tempo no clube e chegar às seleções e ter tão pouco tempo. Poder ter esse entrosamento entre eles é o mais importante. Agora, se vamos ter jogadores mais criativos ou trabalhadores… Eu acho que os jogadores que Portugal tem são todos trabalhadores e têm muita criatividade. Não é por nada que temos jogadores nacionais a jogar nos melhores campeonatos da Europa. Em relação a isso, estamos tranquilos. Acredito que vai haver um mix entre trabalho e criatividade. O mais importante é que todos lutem por um objetivo comum, que é a conquista do Mundial. Quando remam todos para o mesmo lado, é tudo mais fácil.
O Diogo Costa será, certamente, o titular nesta prova dada a boa época que tem vindo a realizar no FC Porto. Acredita que ele pode ser um dos esteios da nossa participação?
Acredito, porque ele é o guarda-redes. Ele já ajudou o FC Porto este ano, na Liga dos Campeões, em várias situações, como penáltis e outras grandes defesas, e não tenho dúvidas de que pode ser umas das peças chave na seleção. Mas gosto mais de olhar para o conjunto. A partir do momento em que os 11 jogadores entrarem em campo, acho que todos eles vão ser importantes. Não vai ser apenas o Diogo Costa ou o Cristiano. Também são muito importantes aqueles que não entrarem, porque têm um papel de grande importância para incentivar e dar apoio aos que estão a jogar. Não é fácil para esses que não estão a jogar, têm de ser muito fortes mentalmente. Mas não tenho dúvidas de que Portugal está preparado e vai fazer uma grande competição. Temos jogadores de qualidade em todos os setores e um conjunto que pode provocar danos bons para nós, nomeadamente, ganhar o Campeonato do Mundo.
O Rui já passou por várias fases finais e sabe lidar muito bem com a pressão
E o Rui Patrício pode ser uma peça importante para dar conselhos ao Diogo, dada a larga experiência que tem na seleção e já ter sido campeão europeu?
Claro que o Rui Patrício vai ter um papel importante, assim como terão o Pepe, o Cristiano Ronaldo, o Bruno Fernandes, o Rúben Dias… Todos vão ter um papel importante. A parte da baliza é uma posição específica, não há trocas nem substituições a meio do jogo. Acredito que o Diogo vai ser o guarda-redes titular da seleção, mas também tenho a certeza de que o Rui vai estar do lado dele, ajudando-o em muitas coisas que não são apenas o futebol. O Rui já passou por várias fases finais e sabe lidar muito bem com a pressão.
Olhemos um pouco para a questão dos centrais. Há Pepe, Rúben Dias, Danilo Pereira e António Silva para a posição. Quem acredita que poderá formar esta dupla?
Acho que vão ser o Pepe e o Rúben Dias. Vendo os últimos jogos da seleção, não tenho dúvidas de que serão eles os dois. O Pepe tem um papel muito importante dentro e fora de campo, é um líder nato. A presença dele dá outro poder de luta à seleção.
Pepe deverá ter lugar no onze de Fernando Santos© Getty Images
António Silva mostrou o que vale na partida diante da Nigéria. Acredita que ele poderá ter espaço perante estes três homens de confiança de Fernando Santos?
Acredito que poderá ter espaço, porque, se isso não acontecesse, acho que o Fernando Santos não iria levar um jogador que achava que não poderia ter o espaço dele na seleção. Certamente está muito contente. Neste momento, só o facto do António Silva estar lá apenas com a idade que tem [19 anos] já é um prémio e que é uma maneira de aprender e crescer.
António Silva estreou-se pela seleção diante da Nigéria© Getty Images
Nas laterais, há Cancelo e Dalot para a direita e Nuno Mendes e Raphael Guerreiro para a esquerda. Na sua opinião, e dado o momento de forma dos quatro, quem deverão ser os titulares nas faixas laterais?
Não sei se poderá mexer muito nos laterais. Isto é uma fase final, não temos assim tantos jogos. Vai tudo depender da qualidade de cada jogo, do que cada jogador tiver para oferecer à equipa, se vai estar bem ou mal. É tudo uma questão de ‘ses’. Portugal está muito bem servido nas laterais. Para mim, Cancelo é um dos melhores do mundo. Dalot tem tido uma época incrível e crescido muito. Eu sabia do valor do Dalot, mas foi uma grande surpresa a maneira como ele cresceu tão rápido num clube que não é fácil, como o Manchester United, que está sempre a ser alvo de críticas. Do outro lado, há Raphael Guerreiro e Nuno Mendes, que também são muito bons. Jogue quem jogar Portugal está mesmo muito bem servido.
Olhemos agora um pouco para o meio campo, posição onde o Josué atua. Como é que acha que o selecionador poderá arrumar este setor do campo, dada a quantidade e qualidade de opções?
[Risos] Não sei como é que o Fernando Santos vai fazer, mas sei, de certeza absoluta, que, se todos estiverem ao nível máximo das suas capacidades, o selecionador vai ter uma grande dor de cabeça para eleger as equipas que vão começar os jogos. Portugal tem mesmo muita qualidade. Mas tudo depende do adversário, do objetivo a que o Fernando Santos se propõe para cada jogo. Cada encontro é diferente do anterior e cada equipa é distinta. Acaba por ser uma decisão do staff técnico da seleção que está com eles e os treina diariamente. O selecionador é que tem de escolher o melhor meio campo. Sempre que este setor da seleção funciona muito bem, Portugal é muito difícil de ser travado.
Bernardo Silva é uma das opções para o meio campo© Getty Images
Daqui a dias teremos o jogo com o jogo de estreia diante do Gana. Se fosse o Josué a escolher, optava por uma dupla com menor ou maior criatividade?
Não sei como é que Portugal irá começar o Mundial, se com dois ou três médios. Pessoalmente, gosto muito de ver o Bernardo Silva no meio campo. Óbvio que ele também é um craque encostado à linha, mas prefiro vê-lo no miolo. Não sei mesmo o que posso dizer sobre esta disposição da equipa no meio-campo, depende muito de cada jogo. De certeza absoluta que estudam os outros adversários e tomam as melhores opções. Gosto sobretudo de ver Portugal a jogar em 4x4x2. Por isso, se jogassem nesse esquema, e não podem ser apenas jogadores de qualidade contra o Gana porque eles têm jogadores muito fortes fisicamente, precisávamos de alguém combativo no meio.
Não sei mesmo como Portugal vai encarar o jogo do Gana em termos táticos, mas o que eu sei é que vão estar 100% preparados para este jogo
Partimos agora para a análise tática do ataque. Tendo em conta que, em forma, Cristiano Ronaldo deverá ser um dos titulares, quem é que o Josué colocaria como companheiros de ataque do capitão?
Se jogássemos em 4-3-3, gostava de ver o Bernardo Silva no meio, depois o Otávio que é muito forte a jogar de fora para dentro como falso extremo. Do outro lado, e tendo em conta o momento de forma em que está, o Rafael Leão poderá ser uma dor de cabeça para o selecionador. Não sei mesmo como Portugal vai encarar o jogo do Gana em termos táticos, mas o que eu sei é que vão estar 100% preparados para este jogo. Se eu pudesse escolher, para jogar na frente com o Ronaldo, escolheria o André Silva, que é um jogador mais combativo e isso deixaria o Ronaldo mais solto. O João Félix poderia também jogar descaído para a esquerda, como faz no Atlético Madrid. Também gosto muito do Ricardo Horta.
Gonçalo Ramos marcou e assistiu no jogo de estreia pela seleção nacional© Getty Images
Também temos como opção de ataque Gonçalo Ramos, que tem estado em grande forma ao serviço do Benfica este ano. É da opinião de que ele poderá ser uma das surpresas?
Poderá ser. Como disse antes em relação ao António Silva, se estão lá, é porque o selecionador conta realmente com eles. Não acredito que, numa fase final do Mundial, Fernando Santos fosse levar alguém que não conta para ele a 100%. Mas tudo dependerá dos adversários, da maneira que Portugal quer jogar e dos treinos. Gonçalo Ramos tem qualidade, é matador, o que faz falta à seleção. Mas, a título pessoal ,gostaria mais de ter o André Silva e o Ronaldo na frente, sobretudo pela experiência que têm em jogar juntos, e isso conta muito numa fase final. Mas o Gonçalo Ramos pode ser uma grande surpresa.
Numa fase final de um Mundial, é muito difícil dizer quem poderá ser o “novo Éder”
Agora, uma pergunta mais para descomprimir. Quem poderá ser o Éder da seleção?
[Risos] Acho que não vai haver outro. O Éder é um e espero que, se Portugal conseguir chegar à final, que marquemos muitos golos e não seja preciso existir outro como na final do Europeu 2016. Numa fase final de um Mundial é muito difícil dizer quem poderá ser o “novo Éder”. Espero é que Portugal consiga marcar muitos golos e acho que o Cristiano Ronaldo poderá ser um jogador decisivo no que toca a este capítulo.
E quem poderá ser a arma de secreta de Fernando Santos a partir do banco de suplentes?
Não sei quem irá jogar a titular. A partir do primeiro jogo, de certeza que teria uma melhor resposta para isto. Mas, se Rafael Leão não começar como titular, acho que poderá ser uma boa aposta para colocar no decorrer do jogo, sobretudo pela maneira de estar em campo. Ele é muito forte fisicamente, explosivo e rápido, pelo que poderá ser a arma secreta do selecionador.
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