O 3x4x3 de Rúben Amorim tem sido a identidade do Sporting ,ao longo dos últimos anos. O sistema tático surpreendeu e até indignou os adeptos mais conservadores, que não aceitaram a inovação do jovem treinador.
Passados quase quatro anos, com vários troféus conquistados, incluindo a I Liga, há uma mudança à vista. Em Paços de Ferreira, Rúben Amorim usou os últimos minutos de jogo para experimentar algo que já tinha sido amplamente discutido: uma alteração no sistema tático.
O 3x4x3 trasnformou-se num 4x4x2, guiando a equipa ao último golo do jogo, por Chermiti. Em exclusivo ao Desporto ao Minuto, Augusto Inácio fez a leitura da alteração que se adivinha.
"Tem de haver plano A e plano B. Nos últimos anos, o Sporting jogou sempre com o mesmo sistema, quer estivesse a ganhar ou a perder. Depois, à última, quando já não havia mais possibilidades, avançava o Coates para ponta de lança, que era aquele que podia fazer a diferença na frente, numa bola parada, num ressalto, no jogo aéreo. Há dois anos, resolveu muitos problemas ao Sporting e foi muito importante nesse sentido porque marcou golos aos 90, aos 88, aos 91...", começou por dizer o antigo treinador dos leões, falando, ainda, sobre as necessidades da equipa para alterar o sistema.
Rúben Amorim adotou o 4x4x2 nos minutos finais do jogo em Paços de Ferreira© Global Imagens
"Eu, pessoalmente, gosto do sistema 4x4x2, mas tudo depende daqueles que o Sporting terá como defesas centrais e laterais. Se virmos bem o que o Coates fez há três anos, antes de o Rúben Amorim chegar, ele parecia, na minha opinião, um jogador vulgaríssimo, até teve azar de marcar golos na própria baliza e fazer penáltis. Quando passou para um sistema de três defesas, tornou-se o patrão. Há sistemas que beneficiam muito este ou aquele jogador. Não estou a ver o Coates a jogar a central só com um colega ao lado. Para se jogar em 4x4x2, é preciso ter atenção a um somatório de várias coisas", disse ainda.
A mudança chega na fase final da temporada, altura ideia para experiências, na opinião de Augusto Inácio.
"Se o Sporting quiser mudar de sistema, tem tempo para poder fazer uma planificação. Mas também não se passa de um sistema de há três anos, o 3x4x3, para o 4x4x2, de repente. Ideias, pode-se ter muitas, mas têm de ser trabalhadas, rotinadas. Demora o seu tempo. Enquanto o 3x4x3 já tem anos de trabalho em cima, é só colocar jogadores nas posições e passar a filosofia, no 4x4x2, todos vão ter de reaprender aquilo que o treinador pretende e as funções dentro do campo. Estamos em maio, há muito tempo para trabalhar e, acima de tudo, para contratar jogadores para esse sistema", afirmou, vendo risco nulo na mudança.
Chermiti e Paulinho são as únicas opções de Rúben Amorim para ponta de lança© Global Imagens
"Faltam três jogos para acabar o campeonato, não há nada a arriscar. Tem o campeonato feito, ainda está à espreita do terceiro lugar que pode dar acesso à pré-eliminatória da Liga dos Campeões. É a única coisa que está a procurar porque, de resto, o seu campeonato já está feito. A ter de fazer algumas experiências, terá estes três jogos para as fazer, para perceber como pode ligar Chermiti a Paulinho. No papel, é uma coisa, mas, na prática é outra, tem de haver o treino", disse ainda.
Para transformar a equipa num novo sistema tático, Rúben Amorim deverá ter de ceder. Augusto Inácio vê necessidade de, pelo menos, mais dois reforços para a posição.
"Jogando com dois pontas de lança, o Sporting não tem outro, Tem Chermiti e tem Paulinho. Se quiser jogar assim, o Sporting tem de ter, no mínimo, quatro pontas de lança. Dois acaba por ser curto. Pode haver alguma lesão, um castigo, e tem de ter sempre dois que possam substituir os outros dois que estão de fora", acredita.
É verdade que sistema tático e ideia de jogo são conceitos diferentes, mas ambos mudam o jogo da equipa. Que vantagens terá este Sporting a jogar neste desenho tático?
"Uma equipa grande, a jogar em 4x4x2, terá mais possibilidades de fazer mais golos do que com o 4x3x3. O Sporting tem de pressionar muito na frente, jogando contra equipas com blocos baixos e linhas de cinco defesas e quatro jogadores no meio campo, há que haver presença na área e outra mobilidade ofensiva. O 3x4x3 obriga os laterais a fazerem piscinas no campo, têm de fazer quilómetros para cima e para baixo. No 4x4x2, pode 'desfixar' o sistema de três centrais do adversário, dar oportunidade aos avançados de encaixarem na defesa do adversário e ter oportunidade de marcar mais golos de cabeça do que aqueles que tem feito. O Sporting tem feito muitos golos nas triangulações, nas entradas, com a cabeça faz muito poucos, só de bola parada quando vão lá os centrais, mais altos", disse, deixando ainda um aviso para o trabalho de personalização a fazer dentro da equipa.
Sporting continua na luta pelo terceiro lugar da I Liga, que pertence ao Sp. Braga© Global Imagens
"Pode-se jogar no 4x4x2, no 3x4x3, no 3x5x2, mas, se não houver dinâmica... O Sporting não pode estar à espera do adversário, tem de pressionar, ter os pesos do jogo, tem de ter a iniciativa. Tudo isso faz com que a equipa esteja mais perto do golo, mas está sujeito ao contragolpe dos adversários. Esse é o risco que as equipas grandes que jogam assim têm. Mas tem de ser assim, pode sofrer dois ou três golos, mas marcar quatro ou cinco, e com dois pontas de lança aumenta a possibilidade de os marcar", concluiu.
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