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"A Amadora vai ganhar uma nova vida. Já se nota o fervor antes dos jogos"

Rui Neves realizou 433 jogos ao serviço do Estrela da Amadora. É um dos símbolos do clube da Reboleira e acredita que a formação tricolor tem a receita certa para se manter entre os grandes.

"A Amadora vai ganhar uma nova vida. Já se nota o fervor antes dos jogos"
Notícias ao Minuto

07:14 - 12/08/23 por Ruben Valente

Desporto Exclusivo

Foram 14 anos de ausência entre os grandes. O Estrela da Amadora está de regresso à I Liga e tem, este domingo, o primeiro de 34 testes a doer no escalão mais alto do futebol português.

Antes do encontro frente ao Vitória SC, no estádio José Gomes, que batiza o regresso dos tricolores, quisemos falar com um dos históricos do emblema da Reboleira. Rui Neves representou o Estrela da Amadora ao longo de 15 temporadas como sénior. É, nada mais nada menos, do que o segundo jogador com mais jogos pelo clube amadorense (433).

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Rui Neves não escondeu a emoção pelo facto de o clube estar novamente no palco de onde nunca deveria de ter saído. O antigo jogador, agora com 53 anos, viveu de perto a extinção do Estrela da Amadora, em 2011, e foi sempre acompanhando o percurso que trouxe os tricolores de volta à ribalta.

Rui Neves elogiou o projeto, perspetivou um ano difícil, mas ao mesmo tempo disse acreditar que o Estrela tem o que é preciso para assegurar a manutenção. Como o próprio diz, com este renascimento ganharam todos: o clube, os que gostam dele e a cidade da Amadora.

Se me perguntassem, o ano passado, se o Estrela ia subir, acho que nem eu, nem a maioria, dizia que simComeço por lhe perguntar: O que é que sentiu quando o Estrela consumou o regresso à Primeira Liga?

Fiquei feliz, obviamente. Depois dos anos todos que passei no clube e depois de este ter terminado, como todos sabem, foi uma alegria saber que o Estrela vai estar novamente entre os grandes. Mesmo para a cidade é muito bom.

Acredita que o clube tem o que é preciso para se manter no principal escalão, este ano?

Se me perguntassem, o ano passado, se o Estrela ia subir, acho que nem eu, nem a maioria, dizia que sim. Era um sonho, mas, à partida, seria um sonho difícil de atingir, até pelos adversários em questão. Na parte final do campeonato, o Estrela viu-se numa boa posição e agarrou isso com unhas e dentes, com todo o mérito.

Este ano, vai ser muito difícil, pelo facto de ser um recém-promovido. Mas tendo em conta o planeamento, baseado no sucesso do ano anterior, acho que pode haver sucesso. Os jogadores já se conhecem, o treinador é o mesmo, as rotinas estão trabalhadas e cada vez melhores. Reconhecendo que vai ser difícil, acredito que o plantel possa conseguir os seus objetivos.

Notícias ao Minuto Sérgio Vieira e parte do plantel durante o jogo de apresentação aos sócios © Álvaro Isidoro / Global Imagens

Como vê a liderança de Sérgio Vieira?

O Sérgio tem feito bons trabalhos por onde tem passado e, desde que agarrou no Estrela, conseguiu fazer um excelente grupo. Sem nomes sonantes, o grupo é muito eficaz dentro do modelo de jogo que ele pretende. As características dos jogadores foram ao encontro do que ele pretendia e resultou. Isso vê-se na promoção à I Liga.

E como é que avalia o impacto do regresso do Estrela à Primeira para a região da Amadora?

Há meia dúzia de anos, quando o Estrela estava parado e quase que abandonado, sentia-se que faltava vida ali à volta. Agora, no último ano, sentiu-se outra atmosfera e acredito que, este ano, se vá notar ainda mais. A cidade vai ganhar uma nova vida, já se nota o fervor antes dos jogos, e o nome da Amadora volta a ser mais falado. Acho que vai mexer, vai ter impacto e trazer novas pessoas à Amadora.

Notícias ao Minuto Festa da subida fez-se junto ao Estádio José Gomes, na Reboleira © Álvaro Isidoro / Global Imagens

Quando o Estrela fechou portas em 2011, qual foi o sentimento?

Recordo-me bastante bem. Foi um sentimento de grande tristeza. Foi no clube onde fiz toda a minha carreira, onde me formei como jogador e como homem, onde fiz grandes amigos, que ainda hoje falamos. Foi um momento muito triste. Como é que foi possível um clube que atingiu o patamar que atingiu, com uma grande história, quase que evaporar?

Acompanhou depois o processo realizado por alguns sócios para não deixar cair o clube? No fundo, a fundação daquele que foi o Clube Desportivo Estrela.

Não acompanhei por dentro, mas fui acompanhando. As pessoas, ligadas ao Estrela, tiveram uma capacidade enorme para não deixar cair o Estrela e o nome do clube. Há um grande mérito delas, sem dúvida.

Olhando para trás, fiz uma boa carreira. Podia ter saído? Podia, mas não guardo qualquer mágoaA fusão entre o Clube Desportivo Estrela e o Sintra Football Club foi o melhor que poderia ter acontecido para o reerguer do Estrela da Amadora?

É sempre difícil sabermos o que é melhor ou não, mas uma coisa é certa. Com o clube insolvente é que deixou de existir solução. Com o Clube Desportivo Estrela, o facto de tentarem refundar o clube foi importante, e o Sintra ter aparecido foi uma oportunidade. Um clube criado do nada, com todo o mérito pelo Dinis [Delgado], que está agora no Estrela. Foi um bom casamento e julgo que foi bom para ambas as partes. Até agora, as coisas têm dado certo.

Paulo Lopo é o homem forte da SAD do clube. Como avalia o desempenho do presidente até ao momento?

Olhando de fora, no plano desportivo tem havido grandes méritos que estão à vista de todos. Ele tem o mérito natural de ter sabido agarrar no barco, metê-lo a andar e levá-lo a bom porto. Sem dúvida, que até até à data, tem sido um excelente trabalho.

Segundo os dados do Zerozero, conta com 433 jogos ao serviço do emblema tricolor e é o 2.º jogador da história com mais jogos pelo Estrela. Orgulha-se de ter representado o clube durante os seus 15 anos de sénior?

É o meu clube. Será sempre um clube com um grande significado para mim. É assim, todos os jogadores sonhavam em atingir patamares mais altos. Na altura, eu também sonhava com isso… Mas, olhando para trás, na minha opinião, fiz uma boa carreira. Podia ter saído? Podia, mas não guardo qualquer mágoa.

Quando tinha 18 anos, houve interesse de um dos grandesNunca teve propostas para representar um grande?

É curioso porque em quase todas as situações em que estive com um pé noutro clube acontecia qualquer coisa inesperada, que fazia com que abortasse a situação. Aos 18 anos, quando subi a sénior e comecei logo a jogar, houve interesse de um dos grandes. Só que tinha acabado de renovar… E noutra altura foi quando tive a minha única lesão da carreira. Tive um pé no Vitória SC, só que lesionei-me no último jogo e fiz uma fissura no perónio. Faltava assinar e ir para Guimarães, estava tudo acertado, mas, no último jogo dessa época, lesionei-me.

Depois, acabei por sair nesse mesmo ano, porque havia dúvidas em relação à minha lesão. Saí para o Gil Vicente, a época correu-me muito bem e acabei por voltar ao Estrela, que quis ficar comigo apesar de ter vários clubes interessados. Eles até falaram logo comigo e disseram-me que o [João] Alves estava a contar comigo, para tirar qualquer eventual saída da cabeça.

Notícias ao Minuto Rui Neves, na época 1997/98, ao serviço do Estrela da Amadora

Acredito que já saiba a resposta a esta pergunta, mas qual foi o momento mais marcante que viveu com a camisola do Estrela?

Claramente, a vitória na Taça de Portugal. Para um jovem como eu era na altura, tinha acabado de fazer 20 anos… Tive a felicidade de começar logo a titular no primeiro ano de sénior. No segundo ano, ir a uma final no Jamor, é marcante. E até tenho um facto curioso. Estava a representar a seleção de sub-21 e tive de optar entre ir ao torneio de Toulon ou jogar a final da Taça. Achei que era um marco importante para mim, como estava a jogar, pensei que seria algo irrepetível.

E não repetiu.

Exatamente! Acabei por ficar no Estrela para a final da Taça e ainda bem que assim foi. Ganhámos a Taça e foi, de facto, um momento marcante.

Notícias ao Minuto Estrela da Amadora conquistou a Taça de Portugal na época 1989/90 © D.R.

E aqueles dias que se seguiram à conquista, como é que foi essa vivência?

Teve um sabor muito especial. Primeiro, por ser um clube que não está habituado a estar numa final, quanto mais ganhá-la. Depois, é toda a envolvência que a final da Taça tem. É um jogo diferente, arrepiante a todos os níveis. Chegar lá, ver o estádio completamente cheio, foi único. Tentei viver o momento e os dias seguintes com a maior intensidade possível. Foram dias de grande festa e momentos únicos.

Foi esse o jogo da sua vida?

Houve vários, mas este acaba por ser o mais marcante. No ano seguinte, o Estrela vai às competições europeias e ainda eliminámos, na 1.ª eliminatória, o Neuchâtel Xamax. Fomos à Suíça eliminá-los e foi um jogo de loucos. Ganhámos nos penáltis, o estádio completamente cheio, e foi uma coisa extraordinária, muito bonito mesmo.

 Quando se deu aquele caos no clube, acabei por me afastar. Foi horrível, houve gestões completamente ruinosasNos 15 anos de Estrela ao peito foi treinado por vários técnicos. Qual aquele que melhor recorda?

Existiram vários e digo já porquê. Pelo Estrela, passaram grandes treinadores com nome e com trabalho reconhecido. De início, um dos que me marcou mais foi o João Alves. Acreditou em mim e foi com ele que comecei a jogar como sénior. Depois, de muitos treinadores, acabei sempre por beber alguma coisa. Lembro-me de ter apanhado até o Mourinho como adjunto do Manuel Fernandes. Apanhei o [Jorge] Jesus durante vários anos também. É um treinador com uma grande capacidade. Trabalhei com o Fernando Santos também… Cada treinador tinha a sua vertente mais vincada, todos diferentes, mas apanhámos técnicos com muita qualidade. Isso vê-se também nos patamares que alguns deles atingiram depois.

Terminou a carreira em 2004. A sua ligação ao futebol terminou também nesse mesmo ano?

A decisão de ter terminado a carreira teve também a ver com uma proposta feita pelo Estrela. Ia estar ligado à formação do clube e via isso com bons olhos. Só que, entretanto, fui de férias e, quando voltei, surgiram alguns acontecimentos que, indiretamente, mexeram comigo. A situação proposta não era bem a mesma que me tinham falado enquanto jogador.

Fiquei, ainda assim, ligado ao clube. Comecei a tirar cursos de treinador, fui até ao terceiro nível e fiquei a treinar na formação. Trabalhei, inclusive, com o Paulo Fonseca. Ele estava nos juniores e eu fiquei com os juvenis nos nacionais. Foram dois ou três anos com os miúdos, depois, voltei a estar ligado ao futebol profissional. Fazia observação de adversários e trabalho com a equipa técnica.

Só que, depois, o clube começou a piorar a olhos vistos. Quando se deu aquele caos, acabei por me afastar. Foi horrível e houve gestões completamente ruinosas, tudo feito em cima do joelho. Isto dava para outra conversa.

O que fez depois de deixar o Estrela?

Depois de sair do clube, fiquei vários anos ligado ao ramo imobiliário, até aos dias de hoje.

E se o Estrela lhe pedisse para assumir alguma função neste momento? Gostava de voltar a estar ligado, novamente, àquele que foi o clube da sua vida?

O futebol é a minha grande paixão e nunca digo que não. A vida dá tantas voltas… Mas gostaria de voltar a estar ligado ao futebol, claro que sim!

Leia Também: Estrela da Amadora não perdoa e processa Marítimo: "O nosso bom nome..."

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