"Não é preciso ter muitos inimigos, apenas alguns", dizia Luis Rubiales, numa entrevista concedida ao diário El País, em outubro de 2022. O desejo do ainda presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, afinal, acabou mesmo por se cumprir...
Porém, Rubiales não tem só um par de inimigos, mas vários. E colecionou uma longa lista, no passado domingo, após a final do Mundial feminino de futebol. O dirigente da RFEF começou por chocar tudo e todos ao colocar as mãos nas suas zonas baixas, durante os festejos, quando estava na zona VIP do recinto, ao lado da Rainha Letizia e da Infanta Sofia.
O choque já era grande e pior ficou quando decidiu, sem consentimento de Jenni Hermoso, dar-lhe um beijo na boca. Algo que nunca, e pelo menos não havendo imagens que confirmem o contrário, fez com um jogador da variante masculina.
E um beijo é mesmo capaz de 'decapitar' um dirigente. Um beijo como o que Luis Rubiales deu a Jenni Hermoso quando a jogadora espanhola subiu para receber a sua medalha de campeã do mundo. Uma agressão machista que até foi condenada pelo presidente do governo do país vizinho, Pedro Sánchez, e que já está a ser investigada por várias instituições.
O presidente da Federação espanhola foi obrigado a convocar uma Assembleia Extraordinária, mas ninguém confia que ele se demita ou seja obrigado a demitir-se. Rubiales é um sobrevivente e está habituado a sair ileso de qualquer batalha. De facto, o seu mandato tem sido recheado de controvérsias que vão desde a espionagem e a corrupção até às orgias com dinheiros públicos.
Não é a primeira vez que são feitas acusações de machismo à RFEF. Há já algum tempo que Luis Rubiales é apontado como tendo um comportamento desrespeitoso para com as mulheres. Na última Supertaça feminina, ganha pelo Barça, foi acusado de não entregar as medalhas às campeãs, deixando-as numa mesa onde as jogadoras as foram buscar de pé. Rubiales foi também alvo de críticas por parte das 15 jogadoras que pediram para não ser chamadas à seleção espanhola enquanto não houvesse verdadeiras mudanças na equipa e que o treinador, Jorge Vilda, fosse demitido e, simultaneamente, se conseguisse uma efectiva profissionalização do futebol feminino.
Outro dos momentos mais difíceis para o presidente da RFEF foi quando vieram a público as conversas entre o presidente da RFEF e Gerard Piqué, então jogador do Barcelona, em 2019, em que se falava da deslocação da Supertaça de Espanha para a Arábia Saudita. O contrato com a Arábia Saudita, datado de 11 de setembro de 2019, é válido por seis anos e "garantiu à Federação uma receita de 40 milhões de euros livres de impostos por época, um valor que aumentou o salário variável que Rubiales recebe por presidir à organização". Para além disso, a empresa do jogador do Barcelona recebeu uma comissão de 24 milhões de euros.
Rubiales foi acusado de desviar dinheiro da RFEF, mas não se demitiu. Em vez disso, organizou uma conferência de imprensa onde chegou a afirmar que esperava "não aparecer com uma bala numa vala". "Não fumo, não bebo, mas não posso garantir que amanhã não me metam um saco de cocaína na bota", acrescentou.
Depois surgiu o escândalo das orgias
O presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) foi denunciado à Procuradoria Anticorrupção pelo seu próprio tio e ex-chefe de gabinete, Juan Rubiales, por alegadamente ter desviado dinheiro da federação para pagar várias orgias com amigos na localidade granadina de Salobreña, como revela o diário El Mundo.
O dirigente terá realizado este 'evento' num chalé, justificando "dias de trabalho" que, afinal, "não o foram". Na queixa apresentada aos tribunais, Juan Rubiales alega que o sobrinho não realizou qualquer tipo de reunião relacionada com a sua atividade profissional, mas que realizou estas orgias entre oito a dez jovens mulheres "unicamente para seu usufruto e da sua equipa mais direta", incluindo o seu amigo, o ex-futebolista Nené, "pagando as despesas com cartões de empresa da própria RFEF".
Guerra com Javier Tebas
Um dos principais rivais de Luis Rubiales é o presidente da Liga de Futebol Profissional (LFP), Javier Tebas, com quem disputa o controlo do futebol espanhol desde os tempos em que Rubiales era presidente da Associação de Futebolistas Espanhóis (AFE). A rivalidade entre os dois dirigentes começou em 2015, quando Tebas era presidente da La Liga há dois anos e Rubiales convocou uma greve de futebolistas devido a desacordos sobre a distribuição dos direitos televisivos.
Desde então, os dois dirigentes trocaram inúmeras críticas e acusações e tornaram o seu confronto público em conferências de imprensa e até nas redes sociais. Tebas chegou mesmo a dizer publicamente que Rubiales não estava apto para o cargo de presidente da RFEF, pouco antes de ganhar as eleições em 2018.
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