"O sonho de ir para a América é muito atrativo para um tenista europeu"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o antigo número um do ranking ATP dá o favoritismo a Novak Djokovic no US Open. Mats Wilander falou ainda sobre o ténis nacional e disse que João Sousa "abriu a porta" para a modalidade.

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David Silva
28/08/2023 08:02 ‧ 28/08/2023 por David Silva

Desporto

Mats Wilander

Aproxima-se o último Grand Slam do ano. É já nesta segunda-feira, a partir das 16 horas, que os principais tenistas dos circuitos ATP e WTA disputam um dos mais desejados troféus no ténis - o US Open. Em jeito de antevisão, o Desporto ao Minuto falou com alguém que sabe bem o que é ganhar o torneio. Mats Wilander foi vencedor em 1988, diante de Ivan Lendl, num dos sete Grand Slams conquistados ao longo de uma bem sucedida carreira. 

Wilander aponta alguns nomes favoritos para o triunfo e diz que a nova coqueluche do ténis mundial, Carlos Alcaraz, é capaz de ser o sucessor dos 'Big Three' (Federer, Nadal e Djokovic, não necessariamente nesta ordem). Ainda assim, Novak Djokovic tem vantagem no US Open, na opinião do antigo tenista.

"Os dois favoritos, que estão perto dos cinquenta/cinquenta [em termos de chances] são  Novak Djokovic e Carlos Alcaraz, obviamente. Talvez tenha de dizer que Novak tem uma ligeira vantagem, devido àquilo que aconteceu em Cincinnati [o sérvio ganhou na final diante do espanhol] e também devido à experiência acumulada. Ele sabe o que fazer e como se deve sentir antes de uma grande final. Penso que Alcaraz ainda não está 100 por cento seguro do que pode fazer, porque ainda não tem experiência. Ele já sabe o que é ganhar ao Novak, mas ainda não sabe que caminho pode encontrar até à final, se é fisicamente capaz de acabar um encontro com o Novak, quer seja em dois, três ou cinco sets. Há esse pequeno ponto de interrogação no Carlos. Depois, Janik Sinner e Danil Medvedev seriam capazes, mas os primeiros dois referidos são claros favoritos", afirmou Mats Wilander, sobre o torneio que irá ser transmitido na Eurosport.

Wilander deposita grandes esperanças no atual número um do ranking ATP. "Carlos Alcaraz é capaz de ocupar o lugar de qualquer um. Está a aproximar-se aos 'Big Three'. Tenta pôr-se no lugar do Novak, mas o sérvio ainda não o deixou. Está a nivelar o Federer na maneira como joga, na construção das jogadas, na variedade de pancadas, no talento natural que tem. Tenta ocupar o lugar do Nadal devido a paixão que mostra. O Carlos é um pouco mais de altos e baixos que o Rafa, mas mostra muita paixão em competir, de estar em frente às pessoas. É uma tarefa hercúlea. Ele é tão bom que já nem comparamos o Daniil Medveded a esses três", lembra Mats Wilander, que deixa ainda uma garantia: "Nunca teremos um jogador que consiga ao mesmo tempo preencher o talento dos três. Isso não vai acontecer".

Do lado feminino, há uma maior imprevisibilidade. "Iga Swiatek, Aryna [Sabalenka] e Elina [Svitolina] vão ser ameaças desde que estejam no torneio. Quase de certeza que a vencedora será uma delas. Há mais algumas jogadoras que podem acreditar numa vitória, pois podem vencê-las", recordando o triunfo de Coco Gauff em Cincinnati. 

O antigo tenista sueco, que agora é também comentador televisivo, falou ainda sobre o ténis português e as dificuldades que os atletas nacionais encontram ao escalar para o nível profissional. Quando questionado se conhece algum tenista luso, não teve dúvidas em destacar João Sousa.

"Sigo ténis o mais possível. Sei que o João anda por aí. Vejo-o todos os anos e penso 'bem, ele pode chegar à quarta ronda, terceira ronda... talvez até chegar aos quartos de final'. Ele normalmente porta-se bem nos [Grand] Slams. Haver um jogador assim ajuda a que haja novos tenistas. Não gosto de falar de jogadores que ainda não estão entre os melhores do mundo porque é injusto para eles, com as características da cultura do ténis em Portugal. Ele abriu a porta. Não é um grande passo ganhar o Estoril Open e depois chegar à quarta ou terceira ronda de um Grand Slam. Se se consegue ganhar quatro ou cinco jogos no Estoril Open, consegue-se ganhar quatro ou cinco jogos num Grand Slam. É bom o que ele fez por país pequeno como Portugal", disse Wilander.

Mas o ténis português continua bem distante do nível praticado noutros países, tendo o exemplo de 'nuestros hermanos' bem evidente. A melhor prestação nacional de sempre num US Open, por exemplo, foi exatamente de João Sousa, em 2018, tendo chegado à quarta ronda. Nos últimos anos, muitos jovens tenistas lusos partem para os Estados Unidos da América, em busca de bolsas dedicadas a estudantes universitários. Na opinião de Wilander, o sistema universitário é uma boa maneira de ganhar ritmo competitivo. 

"Vir de um pais mais pequeno na Europa em que não tenhas 20 ou 30 Challengers não dá a competição necessária para te tornares profissional aos 18 ou 19 anos. Penso que o sonho de ir para a América para um jovem tenista europeu é muito atrativo. Já foi mostrado que é uma maneira saudável de subir para o nível profissional através das universidades. Se te manténs por dois, três ou quatro anos depende de ti. Mas é uma necessidade para a maior parte dos jogadores de não ser arrasado aos 19 anos por atletas mais velhos. Eu penso que é muito bom. É a preparação básica. Temos tantos atletas que estão no circuito hoje em dia que estiveram no sistema universitário de ténis. E no WTA, deve-se encorajar, em vez de se pensar que é um passo atrás. É um passo em frente", na opinião de Mats Wilander. 

Leia Também: Nole vence Alcaraz e não esquece Nadal: "Os espanhóis nunca desistem"

 

 

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