A última vez que os dois emblemas se encontraram foi a 06 de maio de 1984, no antigo Estádio Municipal de Coimbra, numa partida da então II Divisão Nacional -- Zona Centro, com a vitória a sorrir ao clube dos 'estudantes', que, nesse ano, subiu à I Divisão Nacional e ostentava o nome de Clube Académico de Coimbra (1974-1984).
O antigo jogador e treinador Francisco Andrade, de 83 anos, que representou os dois adversários, e liderava o União no último dérbi de há 39 anos, recordou à agência Lusa que nas décadas de 50 e 60 do século XX existia uma "rivalidade tremenda", com jogos "escaldantes", que chegaram a acabar em pancadaria entre os apoiantes desde o campo de Santa Cruz (Alta) até ao mítico café Santa Cruz (na Baixa).
Os estudantes e pessoas ligadas à universidade e à sua academia eram, por norma, apoiantes da Académica, enquanto os operários da cidade e comerciantes da Baixa torciam pelo União, que tinha como emblema a cruz de Santiago.
"Essa rivalidade de antigamente morreu. Depois de 1974, com a mudança de nome da Académica, houve muitos sócios que abandonaram o clube e depois aconteceu que os filhos dos operários e comerciantes começaram também a estudar na universidade, numa mistura que atenuou as paixões clubísticas", explicou Francisco Andrade, que esteve 12 anos ligado à 'briosa' e nove ao União.
Segundo Francisco Andrade, a "alteração da maneira de viver da Académica", que residia muito no jogador-estudante, levou a que as diferenças entre os dois clubes se esbatessem e o União também tivesse tido no seu plantel muitos atletas universitários, que terminaram os seus cursos a equipar de azul.
O presidente da Académica, Miguel Ribeiro, vê com satisfação o regresso de um dérbi "que sempre animou a cidade, fosse no futebol sénior ou nos escalões de formação, esperando que o jogo seja uma festa num momento histórico, em que para a Taça de Portugal os dois clubes nunca se defrontaram".
"O encontro está a ser encarado pela população da cidade com muito entusiasmo e as expectativas são boas. Espero que seja um bom espetáculo, com empenho de todas as equipas e que a Académica ganhe, porque tem pergaminhos na Taça de Portugal, que já ganhou por duas vezes", salientou à agência Lusa.
O jogo, "alimentado pelas antigas rivalidades", é um sinal de vitalidade da cidade, considerou o dirigente, que apontou para uma moldura humana no Estádio Cidade de Coimbra na ordem das 10 mil pessoas, um terço da sua capacidade.
"Acima desse número é superar as expectativas", frisou o presidente da Académica.
Para o União, o dérbi reveste-se de enorme importância, por se tratar "de um jogo histórico e inédito", realçou à agência Lusa o presidente Fernando Soares (Maná).
"Penso que vai ser um jogo com muitos adeptos de parte a parte, com as pessoas envolvidas e a quererem ir assistir à partida", disse.
Salientando que vai ser "um dia de festa" para os dois emblemas, Maná espera muita adesão e a presença de 2.000 adeptos unionistas no Estádio Cidade de Coimbra, número que poderia ser maior se os adeptos do clube não tivessem sido colocados num dos topos, atrás de uma baliza.
"Pelo que sei e ouço, há um historial e rivalidade muito grande entre as duas equipas, que, neste sábado, espero que seja saudável, num grande dia de festa para a cidade e para o futebol, em que as duas equipas e as respetivas direções se respeitem para sairmos todos valorizados", sublinhou.
Com histórias diferentes, a Académica, que milita atualmente na Liga 3, esteve 64 anos na I Divisão, e o União, que disputa o Campeonato de Portugal, apenas competiu no principal escalão do futebol nacional na época 1972/1973, precisamente na temporada em que o rival da cidade tinha sido despromovido à II Divisão Nacional.
Na segunda década deste milénio, os 'azuis' da cruz de Santiago entraram em processo de insolvência e foram obrigados a mudar o nome do clube para União 1919, numa referência ao ano de fundação.
O jogo entre as duas formações para a Taça de Portugal disputa-se no sábado, a partir das 17:30, no Estádio Cidade de Coimbra.
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