Remontemos a 15 de janeiro de 2014. O Benfica venceu o Leixões por 2-0 e, na chamada flash interview, Jorge Jesus proferiu célebres palavras, quando questionado sobre a saída de Nemanja Matic para o Chelsea: "Se o Matic não jogar... joga o 'Manel'". Traduzindo estas afirmações, a profundidade do plantel é uma das maiores valias para um treinador. Quase dez anos depois, o 'Manel' do Benfica foi David Neres, quando Schmidt se deparou com a ausência de Ángel Di María. Ele, que tem sido relegado tantas vezes ao banco de suplentes, foi decisivo.
O Benfica conseguiu vencer o Portimonense de forma algo caricata. Na primeira metade foi dominador, aproveitando as fragilidades do adversário na transição defensiva, mais lenta do que Paulo Sérgio quereria, certamente. Aos 17 minutos, já vencia por 2-0, e não fosse duas perdidas de Rafa Silva, a vantagem podia ser ainda maior ao intervalo. No entanto, a vitória esteve em risco na segunda metade, não fosse uma grande penalidade defendida por Trubin à passagem da hora de jogo.
Mas vamos à história do jogo. O Benfica visitava um adversário que normalmente não dá grandes calafrios ao Benfica - ganhou em Portimão por 5-1, ainda em maio. Se bem que Rui Vitória fez o último jogo ao comando do Benfica neste local, em 2018. Roger Schmidt partiu para este jogo com várias alterações face ao desaire europeu, fazendo entrar Morato, Neres e Florentino.
O Benfica teve muitas facilidades na primeira parte e obteve o primeiro golo por intermédio de Alexander Bah logo aos cinco minutos de jogo. Atirou com muita força, de fora da área, para marcar o segundo golo da carreira no Benfica. Ele que seria substituído ao intervalo depois de apresentar queixas físicas.
O segundo golo chegou dez minutos depois, em mais uma transição ofensiva do Benfica. David Neres conduziu pela esquerda, sem grande oposição, e cruzou para o interior da área. Lá, estava Petar Musa, com oportunismo, a fazer o segundo tento da noite. E, se não fosse pelo desperdício de Rafa na frente, o Benfica podia sair ainda mais tranquilo para o intervalo.
Autoestrada aberta e pé fora do acelerador
Na segunda parte, o Benfica facilitou, talvez pensando que o jogo estava ganho, e permitiu a resposta do Portimonense. Praticamente no primeiro lance de perigo, a equipa da casa conseguiu o golo por intermédio de Helio Varela, numa arrancada pela esquerda. Aursnes pareceu lento na recuperação e Florentino não acompanhou o oponente até ao fim.
A bola foi ao meio do campo e surgiu grande penalidade para o Portimonense. O esférico bateu na mão de Morato e o árbitro considerou que houve ação faltosa (ia em direção à baliza). O que valeu ao Benfica foi a 'adivinhação' de Trubin, que defendeu um penálti de Rildo.
Seis minutos depois, David Neres empatou, mais uma vez numa transição. Destaque para a ligação entre Rafa Silva, que conduziu vários metros, e o brasileiro. Foi um golo que deu tranquilidade aos encarnados e permitiu a reorganização da equipa. O resultado final fixou-se mesmo em 1-3.
Figura
Foi considerado oficialmente o homem do jogo e, para o Desporto ao Minuto, David Neres foi efetivamente a figura maior destes jogo. Beneficiou da ausência de Ángel Di María - ao que tudo indica, por lesão - e obteve um golo e uma assistência. Deu a profundidade que tantas vezes falta ao corredor esquerdo.
Surpresa
Helio Varela usou este encontro em Portimão como uma bela 'montra' para as suas capacidades. Explosão, técnica, capacidade de drible... com apenas 22 anos, pode merecer voos maiores. Está na primeira época na equipa principal do clube, após destacar-se na equipa sub-23 dos algarvios durante a última temporada.
Desilusão
Fredrik Aursnes parece começar a sofrer com a sua polivalência. Não cria rotinas em nenhuma posição - ora é utilizado como médio-esquerdo, ora lateral-esquerdo, médio, lateral-direito - e, se as fragilidades no posicionamento foram evidentes contra o Salzburgo, foram de novo decisivas para o primeiro golo do Portimonense.
Treinadores
Paulo Sérgio: O treinador do Portimonense utilizou as armas à sua disposição para enfrentar a desvantagem - foi proativo na entradas de Rildo e Guga - e fica o sabor agridoce de um possível empate diante do Benfica, evitado por Trubin. Mas a verdade é que a postura do Portimonense facilitou bastante a abordagem do Benfica. Era permitido muito espaço e tempo aos jogadores encarnados.
Roger Schmidt: O técnico do Benfica fez algo de incaracterístico, desde que chegou ao Benfica - alterou três peças no onze inicial e só uma delas por necessidade. A titularidade de Neres parece ter funcionado na perfeição e Florentino esteve também em bom plano. O alemão pecou, no entanto, em ter deixado a equipa 'desligar-se' na segunda parte e no 'fetiche' habitual: trocar as voltas a Aursnes.
Árbitro: Num jogo sem grandes lances de difícil interpretação, Hélder Malheiro teve o mérito de privilegiar o espetáculo e parar muito pouco o jogo. Apenas um amarelo foi mostrado, a Helio Varela. A falta da grande penalidade parece bem assinalada.
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