Num mundo que gira à volta do consumo e da variação sistemática dos modelos de roupa que envergamos, também é certo que a qualidade parece, muitas das vezes, refém deste universo onde quem tem mais opções de escolha arrisca-se a ficar, menos vezes, de pé descalço. Todavia, às vezes, esta premissa deriva para uma enorme mentira. Os modelos atuais parecem propensos a estragar-se com maior facilidade e o conforto, algumas vezes, já não é ingrediente primordial para muitas marcas.

É o que se passa no universo das chuteiras, onde Nuno Miguel, fundador e CEO da UNIC Football Boots, um certo dia decidiu recorrer ao armário que tinha em casa e procurar umas botas antigas para jogar futebol. O sucesso foi tão grande que rapidamente os companheiros, em encontros de futebol amador, começaram por reclamar as chuteiras de outras eras.

"Este projeto já existe há cerca de quatro anos. Na altura jogava futebol a nível amador e não gostava das chuteiras que utilizava, como solução recorri a uns pares antigos para terminar a época. Quando levei essas chuteiras para o treino começou a gerar-se uma enorme azáfama e um interesse enorme dos meus colegas. Comecei a estudar o mercado e a tentar perceber o que já se fazia na altura", começou por confessar Nuno Miguel, em conversa com o Desporto ao Minuto. De um pequeno sonho ao mundo real nem sempre é preciso recorrer à 'varinha mágica', apenas ter a resiliência suficiente para calçar o par perfeito.

Do futebol amador até 'calçar' Vinícius Júnior

"Tudo começou por ser um pequeno hobby, através da minha página de Instagram, depois evoluiu para a comprar de pares para vender. A brincadeira tornou-se algo séria, com muitos jogadores interessados, e depois transformou-se na empresa que é hoje em dia". Marlon Xavier, atualmente no Cruzeiro mas outrora no Boavista, foi o primeiro jogador profissional de envergadura a recorrer aos serviços de Nuno Miguel, mas a porta maior viria a ser aberta tempos depois.

"Os pedidos mais especiais foram o do Alex Telles, que na altura ele jogava no FC Porto, e do Darwin Núñez, então jogador do Benfica. Foram pedidos que realmente me fizeram tremer. O modelo que o Alex Telles me pediu era tão raro e encontrar esse par, com o número que ele calçava, realmente não era fácil". O pedido do internacional brasileiro deixou-o de olhos reluzentes e ter podido satisfazer o sonho de criança do avançado uruguaio também resultou em 'bonança gorda' para o líder da UNIC Football Boots.

"Aquele par fazia-lhe relembrar os tempos em que era apanha-bolas no estádio do Peñarol. E como não tinha dinheiro para comprar essas chuteiras na altura, quis anos mais tarde concretizar o seu sonho de criança", contou Nuno Miguel, que não esconde que a lista de personalidades já vai longa. Nuno Mendes, Marcus Edwards, Matheus Cunha, Rúben Vinagre, até chegar à 'nata' do futebol mundial e lá chegar o pedido de… Vinícius Jr.

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"Na altura foi um dos melhores amigos dele que entrou em contacto connosco. Ele não se identificava com os modelos mais recentes da Nike e só conseguia utilizar determinado par, porque era o que lhe dava mais conforto ao pé". Se emocionalmente o coração continua, ano após ano, a ser tributado com excelentes experiências, também economicamente e anualmente o negócio tem um crescimento a rondar os 30%.

E o sonho passa por receber uma chamada de... Miguel Veloso

Grande parte dos jogadores da I Liga já recorrem aos modelos da UNIC Football Boots, mas agora o objetivo passa por alargar o projeto às grandes Ligas europeias. "O objetivo passa também por aumentar o nosso stock, apesar de se tratarem de modelos antigos, e conseguir pôr no terreno a nossa primeira loja física para que também houvesse a possibilidade de as pessoas fazerem uma viagem única ao passado e recordarem certos modelos que as marcaram". E, claro, a conversa não podia terminar com ‘a tal chamada’. Afinal, por quem é que Nuno Miguel gostaria ainda de ser contactado.

"Pelo meu ídolo de infância: Miguel Veloso. Aqui há uns tempos é curioso que vendi um par de botas a um colega de equipa dele [então no Verona] e até lhe enviei uma camisola para depois o Miguel me autografar. E, claro, Cristiano Ronaldo, mas isso é outro patamar. Possivelmente, na I Liga, o Pedro Gonçalves…". 

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