Na Web Summit, em Lisboa, em entrevista à agência Lusa, a futebolista dos suíços do Grasshoppers justificou o destaque alcançado com o empenho geral na modalidade.
"Acho que o futebol feminino está a ter mais atenção, porque estamos a progredir em tudo: na qualidade, no estilo de jogo e também nas oportunidades que temos, e isso tem chamado mais atenção", afirmou a croata, de 24 anos.
A recuperar de uma rotura nos ligamentos cruzados do joelho direito, a avançada defendeu a evolução técnico-tática do futebol feminino, graças à vontade das jogadoras.
"A nossa qualidade de jogo é muito maior do que era no passado. O que eu acho é que as pessoas estão a reconhecer o nosso esforço, que nós estamos a trabalhar arduamente para isto, porque estamos mesmo a tentar ser as melhores. A explicação para este crescimento é que todas as mulheres também estão a contribuir para o nosso futebol", sustentou.
Mesmo assim, Ana Markovic não desdenha uma 'ajuda' das maiores 'estrelas' do futebol na divulgação do feminino.
"Eu penso que os homens e os jogadores masculinos devem acreditar em nós, aliás, todos devem acreditar em nós, as outras mulheres também. Mas, sim, acho que os maiores nomes do futebol podiam ajudar, se viessem ver os nossos jogos, se jogadores como o Mbappé ou o Haaland fossem ver os jogos dos seus clubes ou o Neymar a seleção brasileira. Mas irem e aproveitarem os nossos jogos e não apenas estarem lá", disse.
Ana Markovic recordou o "incrível" Mundial, disputado "com os estádios cheios", na Austrália e na Nova Zelândia, mas que pode ter mais destaque quando for disputado na Europa.
"Penso que ainda podemos conseguir melhor. Este Mundial foi num local bastante distante, acho que se fosse num país europeu, como em Inglaterra, teríamos ainda mais atenção e, também, os estádios cheios", referiu, assinalando a diferença entre jogar "em estádios e não apenas campos ou centros de treino, onde as pessoas nunca começarão a ir aos jogos".
Markovic foi da euforia à tristeza com o episódio protagonizado por Luis Rubiales nos festejos da inédita conquista da seleção espanhola, com a capitã da 'roja' Jenni Hermoso.
"É muito triste para mim. É um escândalo que nunca pode acontecer. Elas, a Espanha, ganharam o Mundial e toda a gente falava deste escândalo. Foi algo muito mau, sobretudo porque deixaram de falar do feito que foi vencer o campeonato. Claro que se fosse uma mulher também seria um escândalo, mas é pior porque foi um homem", lamentou.
Depois de ter participado numa conferência sobre os atletas e as redes sociais, Markovic, que, só no Instagram conta com 2,9 milhões de seguidores, condenou as abordagens sexistas.
"Todas as mulheres mostram o que querem mostrar. Eu sou uma pessoa. Não estou a tentar mostrar quão 'sexy' sou, mas gosto de mostrar como trabalho imenso e que tenho um estilo de vida saudável, bonito e também de moda, como os meus amigos e a minha família, mas não gosto que digam que sou 'sexy' porque isso é um 'cliché'", referiu.
Para a avançada, isto acontece por jogar futebol, por estar a conquistar um espaço num mundo masculino.
"Eu acho que se trabalhasse em moda, não me iam dizer que era 'sexy'. É porque jogo futebol e, aparentemente, parece que uma mulher não pode ser bonita e jogar futebol. Eu sou mulher e gosto de juntar as duas coisas", vincou.
Apesar de se sentir "confortável" a jogar na Suíça, Markovic gostaria de "em breve" ter oportunidade para jogar noutro país, aproveitando ainda para elogiar "o bom nível" da equipa feminina do Benfica, que acompanhou na qualificação para a Liga dos Campeões, e o desempenho da seleção lusa no último Mundial.
"Foi a primeira qualificação de Portugal, e elas estiveram muito bem", frisou a croata, recordando o feito nas 'navegadoras', que, na primeira presença, conquistaram a primeira vitória em Campeonatos do Mundo.