"Quando olhamos para [os equipamentos de] 13 dos 18 clubes, é fácil de percebermos o enorme grau de dependência em relação a estes patrocinadores. A explicação passa por alguma inabilidade da maioria dos emblemas nacionais em atrair outro tipo de 'sponsors'. Estes são os mais simples de se conseguir. Ou seja, exigem pouco esforço de captação, visto que as próprias marcas são muito ativas a quererem entrar nos clubes", reconheceu à agência Lusa o diretor executivo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM).
Boavista, Desportivo de Chaves, Famalicão, Farense, Moreirense e Vitória de Guimarães (Placard), Casa Pia (ESC Online), Estoril Praia, Rio Ave e Vizela (Solverde), FC Porto e Sporting (Betano) e Sporting de Braga (Moosh) contribuem para uma penetração de 72% de casas de apostas na zona frontal, em contraponto com os canais de exposição menor explorados por Arouca (Solverde), Benfica (Betano) e Estrela da Amadora (ESC Online).
"A amplitude [de valores contratualizados] haverá de ser sempre muito significativa, visto que, neste momento, os clubes portugueses, mesmo os da I Liga, têm visibilidades muito diferentes. Acredito que um patrocínio deste calibre pode partir de um valor anual mínimo de 250.000 euros até à casa dos milhões de euros (ME). Estará algures por aí", estimou.
A própria prova passou a designar-se de Liga Betclic em 2023/24, após duas temporadas sob a denominação Liga Bwin, empresa que já tinha sido o 'naming sponsor' da prova de 2005 a 2008 e substituiu a operadora NOS em 2021, com um acordo válido até 2025/26.
"Tudo isto tem os seus ciclos de vida. Há muitos anos, o futebol esteve dependente das petrolíferas e das tabaqueiras, mas a legislação foi afastando esses patrocínios. Depois, tivemos uma geração diferente a seguir as grandes empresas de telecomunicações. Isto vai acompanhando a própria evolução do mundo. Neste momento, um pouco pelo mundo inteiro, muitas empresas da área da tecnologia estão a entrar com força neste papel de patrocinador desportivo. As apostas também ganharam esse peso", observou Daniel Sá.
Os montantes envolvidos nunca foram conhecidos, mas, segundo o Anuário do Futebol Profissional de 2021/22, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) obteve nessa época 12 ME em apostas, contra os 28 ME da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
"Obviamente, há um elefante muito grande na sala. Se o tabaco tinha os seus problemas reputacionais e a questão de fazer mal à saúde, esta indústria também os tem e há uma sombra muito significativa no seu modelo. Na minha perspetiva, não existe coragem para aplicar uma legislação mais agressiva, sobretudo pela força que [o setor] tem nesta altura e por se perceber que o desporto sofre a sério se afastar estes patrocinadores", advertiu.
De acordo com o último relatório trimestral do Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ), as apostas desportivas à cota renderam 40,8% da receita bruta total no país entre abril e junho de 2023, com o futebol a liderar nas preferências dos apostadores (68,4%), seguido à distância pelo ténis (20,1%), basquetebol (7,4%) e outras modalidades (4,1%).
Ao nível das competições desportivas, a I Liga representou 11,2% do volume de apostas protagonizadas no futebol, seguida pelas congéneres inglesa (7,9%), espanhola (6,2%) e italiana (5,3%), enquanto o 'Grand' Slam' Roland Garros se evidenciou no ténis (20,2%).
"A nova geração tem um conjunto de preocupações sociais que as anteriores não tinham. Creio que, a médio prazo, irá ser difícil continuar a aceitar a visibilidade das apostas, com toda a nuvem que existe à sua volta. Vai haver um ponto em que a legislação apertará ou os próprios consumidores farão um 'chega para lá'. A questão da responsabilidade social é tão importante como ter visibilidade. Esta indústria tem riscos associados, além de uma série de histórias que a deixam um bocadinho no campo da dúvida", concluiu Daniel Sá.
De janeiro até junho deste ano, as 13 empresas com licença para exploração de apostas desportivas à cota registaram 799 ME em volume de apostas, para gastos diários de 4,4 ME e receitas brutas de 169,7 ME, valores dos quais se excluem os efeitos do mercado paralelo, também de dimensão considerável e constantemente na mira das autoridades.
As plataformas legais superaram uma afluência de 3,8 milhões de apostadores inscritos, mas o mesmo indivíduo pode estar registado em uma ou mais entidades exploradoras.
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