José Pedro Pereira da Costa foi esta quinta-feira apresentado como CFO (Chief Financial Officer) da lista de candidatura de André Villas-Boas à presidência do FC Porto. Na cerimónia que decorreu na cidade do Porto, o possível administrador financeiro dos azuis e brancos deixou um grave alerta para a situação periclitante em que o clube se encontra.
"Levo 23 anos como CFO de grandes empresas, pelo que me sinto capacitado e motivado para estas funções no FC Porto. Sou portuense, sócio do FC Porto desde 1971. Tive a felicidade de ser inscrito pelo meu avô, foi com ele que frequentei as Antas. As minhas primeiras recordações de infância estão ligadas ao FC Porto. Na infância o momento alto da semana era ir com o meu avô ver os jogos. Lembro-me de ter chorado a morte de um dos grandes mitos do FC Porto, do perfume de Cubillas e dos meus tios me contarem as maravilhas do Dayle Dover no basquetebol. Mais tarde, por força do meu pai, seis vezes campeão em andebol, fui viver para Lisboa e acompanhei sempre os jogos lá. Eram tempos em que era difícil ser portista. Dificilmente ganhávamos jogos, mesmo contra Atlético, Estoril ou Vitória FC. Vivi com intensidade o primeiro título após 19 anos", começou por contar o gestor, apontado a um mudança do que tem acontecido nos últimos anos no FC Porto.
"Considero urgente a mudança no FC Porto. Visão, rigor pela nomeação, disciplina e transparência, sustentabilidade, ética foram algumas das linhas de força do programa do André. Considero que o FC Porto precisa de se renovar e entrar numa nova fase de gestão financeira. O André apresentou-me há alguns meses o seu projeto. No início, fiquei surpreso por não ter uma ligação conhecida ao clube, mas não podia ficar indiferente a este apelo, para ajudar a transformar o clube que tantas alegrias me deu. A minha família apoiou-me desde o primeiro momento. Da surpresa, passei ao sim incondicional, aceitando o convite. Partilhamos ideias e conhecimentos que reforçaram a ideia de ter tomado a decisão certa e o candidato ideal para presidente do FC Porto. Tem capacidade de liderança e competência. Acrescento ainda que conhece como poucos a indústria do futebol e o FC Porto por dentro e por fora. As ideias para gestão desportiva estão alinhadas com as melhores práticas. Finalmente, porque tenho a certeza que quer o melhor para o nosso FC Porto. Vai dar o máximo para continuar a vencer no plano nacional, reforçando o estatuto internacional juntando os valores como a ética e a sustentabilidade financeira", sustentou o gestor.
"Primeiro, uma análise rigorosa que levou ao atual estado financeiro, o qual é muito preocupante. O resultado líquido foi de 250 milhões negativos em dez anos, uma média de cerca de 25 por ano, resultando num passivo de 530 milhões de euros e dívida financeira de 310 milhões de euros. Antes de avançar com qualquer processo de reestruturação, é preciso ter resposta a várias questões. Por que no FC Porto fizemos vendas de passes de 430 milhões de euros em seis anos, mas só foram registados cerca de 30 milhões de euros dessas vendas, ou seja, 7%, após abatidos os custos associados, amortizações e imparidades? Deixo os números conseguidos pelos nossos principais rivais para reflexão. Um fez vendas no mesmo período de 570 milhões de euros com resultado de 200 milhões de euros, 35%; o outro realizou vendas de 400 milhões de euros, 170 milhões de euros, 40%. No último exercício, a venda de bilhetes jogo a jogo e anual, sem suporte business, foi de apenas 10,8 milhões de euros. O rival com maior valor, 13,6 milhões de euros, teve assistência média na última época 30% inferior ao FC Porto" sustentou José Pedro Pereira da Costa, continuando a análise à situação financeira.
"Por que o FC Porto, com receitas de merchandising que correspondem aos equipamentos, 8/9 milhões de euros por ano, tem 2 milhões de euros de custos a mais do que os rivais? Por que nossa margem é de 35%, quando no rival é de 60%? Quarta pergunta: em que consistem as despesas de representação de mais de 2,4 milhões de euros por ano? Já agora, refiro que há seis anos na SAD pagavam-se por ano 500 mil euros em despesas de representação, valor que foi aumentando 1 milhões de euros nessa rubrica. Finalmente, o que são 3 milhões de euros de outros fornecimentos externos?", questionou o gestor.
"Importa conhecer esta realidade e esclarecer algumas das questões antes de avançar com um plano concreto. Numa primeira avaliação, parece que existem muitas oportunidades de melhoria e rentabilidade sem comprometer em nada a qualidade e o investimento da equipa. Como tal, as linhas estratégicas vão passar por um modelo operacional mais leve e rigoroso, com forte disciplina financeira. Controlo e racionalização de custos, identificando com os parceiros a renegociação de contratos e dívidas. Transformação digital do clube para simplificar processos. Numa outro frente, iniciativas para crescer a marca e aumentar vendas. Temos algumas ideias. Sabemos que é possível fazer melhor na bilheteira, merchandising e rentabilização do estádio. Numa área crítica, temos que gerar resultados com os ativos, temos de aumentar fortemente os resultados desta atividade", atirou, antes de apresentar o plano para o futuro.
"Passa por apostar forte na formação, planeamento rigoroso a curto prazo, scouting e redução dos custos de transição dos jogadores. Conseguir uma atividade operacional positiva é fundamental para inverter a trajetória do aumento do passivo. Só assim será possível iniciar a busca de redução da dívida. Na dívida financeira, propomo-nos a restabelecer a credibilidade junto dos principais credores financeiros, diversificar prazos mais longos de pagamento para aliviar a tesouraria. Para concluir, queremos implementar uma governança, com transparência e ética como pilares, e administração mais leve em custos", finalizou o CFO de André Villas-Boas.
Leia Também: "FC Porto parece quintal com galinha dos ovos de ouro que serve alguns"