Héctor Bellerín, antigo jogador do Sporting, concedeu nos últimos dias uma entrevista à BBC. E o foco da conversa não foi apenas o futebol, mas também o que acontece fora dele.

O lateral espanhol mostrou-se muito preocupado com a constante pressão feita sobre os jogadores, considerando que se está a tornar elitista.

“É muito engraçado, porque só dizem aos futebolistas para se cingirem ao futebol quando falam ou fazem algo que não é demasiado masculino. Quando jogamos na PlayStation, conduzimos carros rápidos ou nos embebedamos, ninguém te diz nada. Mas quando Borja Iglesias pintou as unhas ou quando vou a um desfile de moda, por exemplo, já é um problema e questionam se isso não afeta o nosso futebol", apontou.

"O futebol foca-se cada vez mais nas margens, em se pode gerar mais dinheiro e menos nas pessoas que o apoiam. É algo que a cada dia se torna mais elitista, estamos a perder um pouco a essência do que é realmente o futebol e de quem o faz. Ter o Mundial em três países diferentes torna mais difícil para os adeptos seguirem a sua nação. Estamos a perder um pouco da essência do que é verdadeiramente o futebol e de quem são as pessoas que realmente fazem o futebol, que são as pessoas que nos seguem e nos veem todos os fins-de-semana", lamentou.

"Para mim, já passámos o tempo da sensibilização. É altura de fazer alguma coisa. Aqui em Espanha tivemos um antigo colega de equipa meu, Victor Camarasa, que precisou de se afastar do futebol por motivos de saúde mental: abriu um precedente. Aconteceu com Ricky Rubio no basquetebol. Aconteceu no ginásio. Aconteceu em todo o mundo. A vida que levamos, as pessoas desculpam-na com a quantidade de dinheiro que recebemos, mas viajamos muito, jogamos muitos jogos, somos agredidos em todos os jogos. Chego a casa com pancadas nas pernas, tive de ser operado, sofri concussões, tudo. As pessoas dizem 'sim, mas tu ganhas muito dinheiro'. Sim, mas isso não quer dizer que não seja difícil", afirmou ainda Héctor Bellerín.

O ex-Sporting destacou ainda a importância da sustentabilidade ambiental.

"Para mim, sempre foi algo muito importante. É algo que tive em conta em cada uma das decisões da minha vida. Fazer parte de um clube consciente de si mesmo, que tenta pôr em prática sistemas para os adeptos, os trabalhadores e também para os jogadores, de forma a terem um estilo de vida mais ecológico, é importante e uma inspiração. Às vezes, como consumidores, sentimo-nos muito culpados, mas também é o Estado e as grandes empresas que devem assumir a sua responsabilidade, porque são as que mais contaminam. Cada vez que votamos, temos uma grande oportunidade de assegurarmo-nos de que criamos um futuro mais sustentável. Em quase todos os países da Europa, poderíamos viajar de comboio. Com Arsène Wenger no Arsenal, íamos sempre de comboio para Manchester ou Liverpool, é uma opção mais simples e limpa", finalizou.

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