Foi na passada sexta-feira que Francisco Conceição recebeu uma notícia que, certamente, há muito tempo esperava. De regresso ao FC Porto após uma passagem menos sucedida ao serviço do Ajax na época passada, o jovem extremo tem-se afirmado nos azuis e brancos.
Depois de um início de temporada em que esteve mais vezes no banco de suplentes, o camisola 10 dos dragões tem crescido de forma nas últimas semanas e é, neste momento, um dos indiscutíveis no onze de Sérgio Conceição.
As boas exibições do jovem extremo não passaram despercebidas a Roberto Martínez e o selecionador nacional acabou por chamar o jogador, de 21 anos, para os particulares com Suécia e Eslovénia. Foi, assim, a estreia de Francisco Conceição na equipa das quinas, ele que tem uma larga ligação às camadas jovens nacionais.
Vítor Martins, técnico que orientou o jovem ala na formação do FC Porto, garante não estar surpreendido com esta subida de forma de Francisco Conceição. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o treinador, de 37 anos, apelida o jovem de "animal competitivo".
"Estou zero surpreendido com esta chamada, era uma questão de tempo. Poderia ter sido antes ou mais à frente. Mas o caminho natural do Francisco ia passar por isto. Pelo talento que tem, pela forma como encara o trabalho e o animal competitivo que é, naturalmente que ia acabar por conseguir chegar a uma seleção nacional. É mais um passo e agora segue-se a afirmação dele que será também um processo através da resiliência, capacidade de luta e de trabalho", começou por dizer Vítor Martins.
"Tem muita qualidade, é um ala como já não há muitos e com uma capacidade muito grande no um para um. Foi ganhando maturação e experiência. Foi também no insucesso daquele que foi o empréstimo ao Ajax onde jogou muito pouco... Surpreendente seria não chegar e não conseguir este feito", acrescentou o técnico, que se cruzou com Francisco Conceição na equipa B do FC Porto.
O 'fantasma' do pai Sérgio Conceição
De regresso ao futebol português, o jovem Francisco Conceição tem, nas últimas semanas, visto o seu nome associado aos feitos que o pai Sérgio Conceição alcançou enquanto foi futebolista, sobretudo agora que alcançou a seleção nacional.
Vítor Martins acredita que o extremo tem qualquer tipo de favorecimento por ser filho de quem é, e recordou palavras recentes de Sérgio Conceição que, quando confrontado com a chamada de Francisco por parte de Roberto Martínez, disse que os jogadores que tem à sua disposição no plantel do FC Porto "são todos meus filhos".
"Acredito que, no espaço de jogo e treino, isso não existe. Há o que é o balanço, a crítica e as redes sociais... Sabemos o nível a quem estão o Francisco e o Sérgio Conceção e esse tipo de comentários são normais. O Sérgio disse publicamente que não há pais e há filhos, que são todos seus filhos. Eu sinto que não há guarda-chuva nenhum. O Francisco voltou a uma casa que conhecia, onde sabe da pressão que existe e tudo o que o FC Porto representa no futebol português. Ele veio mais para dentro do que é o espírito dele, ao contrário do que encontrava no Ajax que era um mundo diferente. Ele aí tem sim um guarda-chuva, mas que é competitivo e não confortável", frisou.
"O Francisco está a jogar no FC Porto porque consegue jogar, luto pelo lutar dele, apresenta números, tem golos e assistências, assim como recuperações e capacidade de pressão. Se assim não fosse, ele não jogava por ser filho de quem é. Mas a história diz-nos também que é muito raro o filho do jogador de um nível que o Sérgio teve que se consegue impor desta forma. Mas o Francisco é um jogador muito focado, resiliente e que parece que, aconteça o que acontecer, está ali para trabalhar, jogar e ser mais um membro da equipa. O crescimento individual dele vem no seguimento destes pilares coletivos", ressalvou.
Sem querer traçar uma comparação entre o que foi a carreira de Sérgio Conceição enquanto futebolista e a que será a de Francisco Conceição, Vítor Martins acredita que o camisola 10 dos dragões tem tudo para chegar ao mais alto nível no futebol profissional.
"É muito subjetivo estarmos a falar de quem é melhor. Os tempos são diferentes, assim como as condicionantes... Podemos chegar ao final das carreiras dos dois e ver quem fez mais golos, quem jogou mais, quem tem mais internacionalizações ou mais títulos... podemos fazer esse balanço, mas é difícil estar a projetar. Mas alguém que trabalhe com a competitividade que o Chico o faz, arrisca-se a ir para voos muito altos", observou.
"O exercício competitivo para ele... é alguém que não admite a derrota, o perder seja o que for, quer estar sempre a superar-se e a ganhar. Quando assim é, não há limites. E quando a isso se alia o talento que o Francisco tem... É um jogador muito virtuoso no um para um, agressivo com bola, a atacar espaços e a enfrentar adversários. Tem uma capacidade física de insistência e procura sempre mais... Ainda no último jogo que o FC Porto fez [diante do Vizela] parecia que a placa de substituição era para ele... No lance a seguir está a participar em mais um golo. É alguém que está sempre muito focado, que trabalha nos limites. E quando se alia este talento a esta capacidade de trabalho, ninguém pode antecipar limites. Está agora a começar a carreira, mas tem todas as condições para chegar ao mais alto nível. Acredito que será risonha, cheia de bons números e títulos", afirmou Vítor Martins.
A chegada à seleção e a certeza sobre o Euro'2024
Ainda que Francisco Conceição seja estreante nas lides da seleção nacional, o treinador, de 37 anos, acredita que o jovem pode fazer a diferença nos eleitos de Roberto Martínez e destacou ainda o que o extremo pode trazer de novidade à equipa das quinas.
"O Roberto Martínez tem muita qualidade à sua disposição, e é difícil que possa chegar alguém e ofereça coisas tão diferentes. O Francisco é mais um... ele é um ala de largura, que não ocupa tanto espaços interiores ainda que tenha capacidade para tal. Tem uma capacidade estonteante de ir para cima do adversário, de encarar os adversários. Está sempre no 'red line', nunca vai desligar. Entre na reta final do jogo ou comece de início, joga sempre no máximo. Vai trazer esse espírito competitivo e assertividade competitiva que qualquer seleção deverá ter. O Chico vai lá chegar e, conhecendo como o conheço, pensar que é mais uma etapa para agarrar como agarra todas. É alguém com um compromisso muito grande e que vai acrescentar ao máximo dentro de que são as capacidades dele", ressalvou Vítor Martins, que se encontra, neste momento, sem clube.
Ainda que reconheça que o extremo, de 21 anos, tenha muita concorrência pela frente, Vítor Martins não tem dúvidas de que o camisola 10 dos dragões poderá ser um dos escolhidos na lista final rumo ao Campeonato da Europa de 2024.
"Honestamente acredito que sim. E as palavras dele [afirmou que queria complicar as contas a Roberto Martínez] são nesse sentido. Por onde passar, o Chico será um problema. Vai ser sempre aquele jogador que, por muito que as coisas possam ter corrido mal, vai dar sempre tudo. Este tipo de jogadores terá de ser sempre compensado. Quando isto alia à qualidade que ele tem, como já falei, as coisas podem encaixar. Ainda que a concorrência dele seja muito forte, o Francisco poderá estar nessa lista final. Felizmente o Roberto Martínez tem muito por onde escolher dada a qualidade que existem, mas ele será uma grande dor de cabeça. Este tipo de perfil de jogadores, como é o Chico, vai aproveitar as oportunidades. Agora que se abriu esta porta, tenho a certeza de que ele não vai abdicar dela. Vai-se entregar ao trabalho como sempre se entregou e vai à luta", finalizou.
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