De capitão nos escalões de formação e títulos no FC Porto ao futebol romeno. Diogo Queirós levantou a UEFA Youth League ao serviço dos azuis e brancos em 2019, título ao qual juntou as vitórias no Europeu de sub-17 em 2016 e de sub-19 em 2018, mas os últimos anos têm sido marcados por alguma falta de consistência.
Tido como uma das grandes promessas da formação do FC Porto, o defesa central, agora com 25 anos, não teve uma transição fácil para o futebol sénior. Deixou o clube da Invicta em 2020 à procura de um novo rumo e seguiu para Famalicão. As coisas correram bem na primeira temporada no clube minhoto, mas daí em diante tudo se complicou para o jogador natural de Matosinhos.
Seguiu-se uma viagem até à Roménia onde Diogo Queirós reencontrou a alegria de jogar futebol. Depois de uma época no Farul Constanta, onde relançou a carreira, o jogador luso garante estar pronto para dar o 'salto' para campeonatos de maior visibilidade.
Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, o jovem futebolista recordou a carreira recheada de títulos na formação do FC Porto e as conquistas nas seleções jovens de Portugal, assim como as dificuldades de afirmação no patamar sénior.
Não me arrependo de nada, o destino assim o quis
Foi um dos líderes de uma geração dourada no FC Porto e fez parte daquela defesa dos Diogos, com o Costa, o Leite e o Dalot. Mas depois, a nível sénior, teve algumas dificuldades em impor-se. Porquê?
No FC Porto não tive as mesmas oportunidades que eles os três tiveram. Tive de procurar alternativas para continuar a tentar singrar na minha carreira. Nos anos que se passaram tive uma fase bastante complicada em que podem ter acontecido situações que não dependiam só de mim e outras em que sim. Foi um conjunto de situações que se foram colocando no meu caminho que me levou até aqui. Não me arrependo de nada, o destino assim o quis. Estou a continuar a trabalhar todos os dias para voltar a subir patamares e alcançar o patamar em que acho que mereço estar.
Era um dos capitães de equipa na formação do FC Porto, mas essa estreia na equipa principal nunca aconteceu. Fica um amargo de boca por conta disso?
Infelizmente não me deram a oportunidade de me estrear na equipa principal. Era por que tinha de ser assim. Com tudo o que eu via à minha frente naquela altura, decidi tomar outro rumo e assim foi. Claramente que é uma altura que me fica marcada. É com muita pena que não me estreei pelo clube que sempre representei e sempre gostei. A vida levou outro caminho e é o que é.
E essa oportunidade não lhe foi dada por culpa própria ou por que à sua frente existiam outros jogadores que tinham maior confiança do treinador?
Na altura em que estava no FC Porto tínhamos grandes jogadores como o Pepe, o Militão e o Felipe. Eram jogadores de grande nível e isso não ajudava a que eu pudesse ter essas oportunidades. Foram situações que foram acontecendo... Se calhar na altura o míster achava que eu não estava preparado ou que não era a melhor opção para ele. E assim foi. Não digo que alguém tem culpa, foi esse o rumo que as coisas levaram. Mas está no passado e agora estou focado no que se passa atualmente.
Diogo Queirós deixou o FC Porto em 2020© Getty Images
Está intimamente ligado ao FC Porto, onde fez grande parte da formação. Como tem visto estas mudanças recentes no clube?
É com tristeza que vejo a situação atual do FC Porto, mas ao mesmo tempo desejo que estas mudanças tragam uma nova vida ao clube, que saia tudo pelo melhor e que possamos ver um clube voltar a evoluir, a crescer e a estabilizar na Europa e no mundo.
O míster Vítor Bruno foi sempre impecável comigo
Vítor Bruno parece-lhe uma boa opção para render Sérgio Conceição?
Considero que é uma excelente opção. Todo o tempo em que eu estive na equipa principal do FC Porto o míster Vítor Bruno foi sempre impecável comigo. Já nessa altura via grandes qualidades nele como treinador adjunto, mas também dava para ver que seria um bom treinador principal. Foi-lhe dada essa oportunidade agora. Espero que lhe corra tudo pelo melhor, que tenha muitos êxitos e que traga muitas alegrias para os portistas.
E do que tem visto nas últimas semanas, como tem visto o trabalho realizado pelo presidente André Villas-Boas? Tem uma herança pesada de Pinto da Costa…
Considero que o legado do ex-presidente Jorge Nuno Pinto da Costa nunca vai desaparecer, não pode ser apagado. Ainda vejo o FC Porto num processo de transição. É tudo muito recente, muto novo. Considero que as coisas ainda estão a assentar. O que desejo é que o nosso presidente traga boas coisas para o clube e que o FC Porto seja uma referência mundial novamente.
Acredita que, apesar destas mudanças todas, o FC Porto não sairá fragilizado na luta pela conquista do título de campeão nacional na nova época?
O FC Porto é eternamente um candidato ao título. Já provou inúmeras vezes que, contra todas as probabilidades, sai por cima. Vai começar agora a nova época e acredito que o FC Porto será novamente candidato ao título e que vai fazer tudo para conquistar o campeonato. Tenho a certeza de que qualquer que seja o jogador que entre em campo para representar a camisola do FC Porto vai dar tudo em campo e dignificar o clube.
E um regresso ao FC Porto pode acontecer no futuro?
Obviamente que seria muito bom esse regresso, visto que se eu chegasse novamente ao FC Porto seria dar passos em frente na minha carreira. Claramente que está em cima da mesa e eu só posso trabalhar e conquistar cada vez mais e mais na minha carreira. Se essa oportunidade chegar, claro que irei agarrá-la com tudo. Veremos o que o futuro traz. Ninguém sabe o que irá acontecer.
Diogo Queirós esteve três temporadas ligado ao Famalicão© Getty Images
Depois de abandonar o FC Porto em 2020, segue para o Famalicão onde as coisas correm bem na primeira temporada. Acontece uma ida para Espanha e uma perda de minutos significativa no regresso a Famalicão. O que aconteceu?
Chego ao Famalicão, faço uma boa primeira época em que só nos últimos meses o treinador que veio preferiu outros jogadores em vez de mim. Acabei por não ser opção nessa reta final. Mesmo assim, nessa época tivemos o Europeu de sub-21 onde me correu tudo super bem. Depois rumei a Espanha em que tudo começa bem e depois o míster decidiu que preferia outros jogadores. Volto ao Famalicão e foi o que toda a gente viu. Não consegui jogar, nem ter minutos. Não sei se foi tudo que eu pudesse controlar. Foi o que foi, o que aconteceu. Era o que estava traçado para mim. Agora chego à Roménia para tentar relançar a minha carreira. Vendo como a situação está agora, foi um passo bom e feliz que dei.
Tinha idealizado uma carreira ou um caminho que nada tem a ver com o que tive
E como surgiu essa oportunidade de rumar ao Farul Constanta no verão passado?
No verão passado a minha situação não estava nada sorridente. Tinha de me fazer à vida e procurar soluções para mim. O meu contrato com o Famalicão tinha acabado... Como a minha situação não estava boa, tinha de estar aberto a qualquer projeto que me aparecesse. Felizmente apareceu-me este projeto bastante interessante do Farul que tinha acabado de ser campeão na Roménia. Agarrei-o. Vendo como as coisas estão a correr aqui, ainda bem que o agarrei.
Foi um convite difícil de aceitar?
Os últimos anos foram tempos difíceis. Claramente que tinha idealizado uma carreira ou um caminho que nada tem a ver com o que tive. A minha situação não estava fácil no ano passado e tive de pensar com frieza. Pensei que tinha de rumar a uma Liga mais externa do top do futebol mundial para voltar a ter minutos, a ganhar confiança e voltar a jogar para ver se relançava a minha carreira.
Tem mais um ano de contrato com o Farul. Há hipótese de deixar o clube neste verão? Têm surgido convites nesse sentido?
Tenho mais este ano de contrato com o clube. Estou neste momento a fazer a pré-época e focado em ajudar a equipa e ficar aqui. Vim para aqui para relançar a minha carreira e já devo bastante ao clube e às pessoas envolvidas que me ajudaram neste processo. Ambiciono mais e mais. Trabalho todos os dias para rumar a maiores palcos. Convites? Deixo isso para quem me ajuda. Para já, que eu saiba, não tenho nada.
Diogo Queirós foi finalista vencido no Europeu sub-21 em 2021© Getty Images
Foi campeão europeu sub-17 e sub-19 pela seleção nacional, mas a chegada à seleção nacional nunca aconteceu. Porque acha que nunca se estreou pela equipa sénior?
Acho que é simples. Na altura em que eu estava bem, os selecionadores tinham inúmeros jogadores que estavam melhor do que eu. Ainda era bastante jovem para ir à seleção. No Famalicão as coisas não me correram tão bem, por isso é normal não ter ido. Mas esse objetivo continua presente em mim. Se puder evoluir na minha carreira primeiro nos clubes onde estiver, o trabalho que eu faça dará os seus frutos. No futuro, se o selecionador achar que estou preparado e sou a melhor opção para ele, assim o farei e estarei contente.
Acredita que o facto de estar num campeonato mais longínquo como o da Roménia o afasta dessa possível convocatória?
É lógico que sim. Quem está em melhores campeonatos e mais presente nas melhores Ligas, está sempre em cima. Obviamente que, com todo o respeito à Roménia, existem outras Ligas que são mais competitivas e muito melhores. É normal que os jogadores que participam nessas competições estejam à minha frente.
Com apenas 25 anos, ainda tem alguns anos como futebolista pela frente. Quais são os planos e objetivos, nesta altura?
Devido a tudo o que se passou na minha carreira até agora, mudei muito a forma de pensar e a maneira de ver o futuro. É ir passo a passo, dar passos firmes e certeiros no meu caminho, de atingir objetivos no máximo a médio prazo. O meu objetivo é continuar a fazer um bom trabalho no Farul. De certeza que se fizer um bom trabalho aqui, irão surgir coisas melhores para mim. E assim sucessivamente até chegar a um sítio em que me sinta satisfeito. E poder representar o nosso país que acho que é o objetivo de todos os jogadores.
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