Oito meses no futebol brasileiro, ao serviço do Botafogo, foram suficientes para que Franclim Carvalho, adjunto do Botafogo, conseguisse apontar as várias diferenças por comparação ao futebol português, tanto positivas, como negativa.
Em conversa com o Desporto ao Minuto, o membro da equipa técnica liderada por Artur Jorge confessou não gostar de falar sobre arbitragem e acabou até por apontar fatores que poderiam "diminuir o ruído" ou a "pressão sobre os árbitros" se fossem 'transportados' do futebol no Brasil para Portugal.
"Sobre os árbitros, não gosto de falar. São como os jogadores, como os treinadores. Há uns melhores que outros. Como nunca fui árbitro, apenas sei as regras, mas não sei qual é a sensação de apitar um jogo. Acredito que não seja fácil", começou por admitir, antes de comentar a presença de dirigentes no banco, em Portugal, tratando-se de algo que não acontece no Brasil.
"Não há um banco suplementar [na área técnica] como há em Portugal. Não há nenhum diretor que vai para o banco. São os treinadores, o departamento médico e os jogadores. Não há diretores, nem pessoal do roupeiro. Tem um lado bom porque evita muitos problemas e muitas quezílias que existem extra-campo", contou ainda Franclim Carvalho, deixando ainda um conselho.
"Se calhar, nós temos de começar a pensar numa forma de proteger os árbitros ou diminuir o ruído. Esta podia ser uma delas. É certo que estamos a falar de agentes do futebol, mas daria para reduzir certas coisas se não existissem diretores no banco ou pessoas que não são necessárias, digamos assim, ao jogo. Para mim, é um ponto diferente, para melhor, no futebol brasileiro", completou o raciocínio.
Dos adeptos ao jogo... e à família
O ambiente que se cria à volta de um jogo no Brasil é distinto daquilo que acontece em Portugal, de tal forma que Franclim Carvalho até utilizou o exemplo da célebre festa da Taça de Portugal para ilustrar aquilo que é, praticamente, o quotidiano do futebol canarinho.
"Os adeptos, no Brasil, têm uma paixão incrível, como também existe em Portugal, mas, lá, há uma diferença. A atmosfera que se cria em redor do jogo é diferente do que acontece aqui, atualmente. Antes dos jogos, há barzinhos, barraquinhas, cervejas e o chamado 'comes e bebes'. Isto existia em Portugal, há uns 20 ou 30 anos. Agora, é só no dia da festa da Taça [de Portugal]. Não é algo exista em todas as jornadas. Se calhar, lá, isto também se proporciona pelo clima, que é bom durante quase o ano todo, na maioria dos estados", começou por referir.
"Em Portugal, conseguimos ver a paixão do adepto no Sporting, no Benfica, no FC Porto, no Sporting de Braga e no Vitória SC. Levam adeptos para todo o lado. Agora, é só imaginar isto na dimensão do Brasil. Portugal é do tamanho do Rio de Janeiro, portanto, o Brasil acaba por ser dez vezes maior do que Portugal. É sempre à proporção", vincou, de seguida.
Franclim Carvalho tem sido um dos braços-direitos de Artur Jorge, desde Portugal até ao Brasil.© Getty Images
O adjunto de Artur Jorge não escondeu a surpresa para com a dedicação assinalável dos jogadores no futebol canarinho e falou, ainda, dos relvados de menor qualidade no Brasil, por comparação aos de Portugal, para além da existência de sintéticos na elite do Brasileirão.
"A capacidade de trabalho dos jogadores surpreendeu-me muito, porque tinha uma ideia de que eram mais 'desligados', mas estão muito focados para aquela densidade competitiva, que não é fácil de suportar. Estão completamente adaptados àquele andamento e àquela dinâmica. Nós, de fora, vamos para lá e temos de nos adaptar rápido. Caso contrário, vamos passar mal. Foi um ano duro. Já em Braga, tínhamos feito 50 e tal jogos numa época. O Botafogo fez 75, sendo 55 deles num período temporal diferente, entre abril e dezembro", atirou Franclim Carvalho.
"As grandes diferenças que vejo são mais na qualidade dos relvados. Aqui, em Portugal, 90% deles são muito bom. No Brasil, já não é assim. O campo do Botafogo é sintético e, apesar de ser bom, não deixa de ser um sintético. O campo do Palmeiras também é um sintético, com uma qualidade inferior, na minha opinião. Há relvados como os do Fortaleza ou do Bahia que não são fáceis de aguentar. A qualidade é diferente da nossa, para pior. Há outras coisas boas", acrescentou de seguida.
Franclim Carvalho arrancou o ano de 2024 a erguer uma Taça da Liga, pelo Sporting de Braga.© SC Braga
Questionado sobre uma preferência entre as andanças do futebol português e do futebol brasileiro, o técnico de 37 anos respondeu com o coração e não escondeu as "muitas saudades" da sua família sempre que está fora do território luso.
"Eu vou dizer sempre Portugal, porque adoro o meu país e tenho muitas saudades da minha família. Portanto, se eu estivesse na Premier League, provavelmente, iria dizer isto na mesma, pelas saudades de casa e da família. É muito duro estar fora", relatou Franclim Carvalho, rematando com uma garantia: "Adorei o futebol brasileiro, adorei as pessoas brasileiras e adorei o país, mas Portugal é Portugal. E a família é a família. Isso não é fácil".
De referir que, antes de rumar ao Botafogo, no passado mês de abril, onde conquistou a Taça Libertadores e o Brasileirão ao lado de Artur Jorge, Franclim Carvalho só tinha estado por uma ocasião no estrangeiro - no Gwangju, da Coreia do Sul, em 2017 -, pelo que fez grande parte da sua carreira em Portugal, com passagens por Eirense, Penelense, Nogueirense, Paços de Ferreira, Académica, Famalicão, B SAD e Sporting de Braga.
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