"Ser candidato à presidência do Benfica é uma porta que não fecho"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Mauro Xavier abordou o seu novo projeto, com o livro 'A Nossa Camisola - Caminho para o Futuro', que é lançado ao público a 22 de abril, falando também sobre algumas questões da atualidade do plantel dos encarnados e das possíveis negociações em curso.

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© Reprodução/ Mauro Xavier

Davide Rodrigues Araújo
17/04/2025 07:12 ‧ há 2 dias por Davide Rodrigues Araújo

Desporto

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A atualidade desportiva do Benfica tem vindo a estar nas 'bocas' da imprensa nacional, uma vez que muitos são os reforços que vão sendo associados ao regresso ao Estádio da Luz e as renovações que estão em cima da mesa são temas a debater por Rui Costa e a sua direção.

 

O emblema das águias é uma grande parte da vida dos adeptos e Mauro Xavier não é exceção. Gestor de profissão e comentador televisivo, o sócio encarnado tem um novo projeto, com um livro com propostas para o seu clube e as mudanças que gostaria de ver no futebol português.

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Mauro Xavier refere que não fecha a porta a uma candidatura à presidência do Benfica, abordando o possível regresso de Bernardo Silva, as renovações de Otamendi e Di María, assim como um vislumbre do seu novo livro.

O Benfica chegou por duas vezes ao primeiro lugar, mérito inequívoco de Bruno Lage. (...) Mas quando chegou ao primeiro lugar, das duas vezes, não se aguentou uma semana

Vários anos depois do último duelo no Estádio do Jamor, podemos voltar a ter um encontro entre Benfica e Sporting esta época para decidir o vencedor da Taça de Portugal. Quem está mais bem preparado para sair por cima na final da prova rainha?

Acredito sempre que os coletivos batem sempre as individualidades, portanto qualquer jogo que o Benfica entre em campo eu sonho com a sua vitória. Confirmando-se as passagens de Sporting e Benfica, acho que será um jogo de 50/50. Na final da Taça da Liga, o Benfica conseguiu vencer. Vamos ver se serão jogos equilibrados. Espero que seja um bom jogo de futebol e que não existam casos. Se o Sporting for melhor, não terei qualquer problema em dar os parabéns aos meus colegas sportinguistas, mas se o Benfica for melhor, não quero que seja prejudicado por casos de arbitragem que o impeçam de vencer.

Bruno Lage foi algo contestado no regresso ao comando técnico do Benfica. Acredita que é a pessoa certa para essa função para 2025/26, mesmo se não conquistar qualquer título até ao final da temporada?

Em nenhum momento há treinadores consensuais no momento do arranque. Os treinadores ficam consensuais consoante o seu trabalho. Bruno Lage tem vindo a ter um trabalho muito sólido durante a época, mas tem tido alguns momentos em que deixou passar o nervosismo para dentro de campo. O Benfica chegou por duas vezes ao primeiro lugar, mérito inequívoco de Bruno Lage. Duas vezes estivemos totalmente arredados do título e ele conseguiu colocar a equipa novamente na luta, uniu o grupo, conseguiu voltar a jogar bom futebol e isso é positivo. Mas quando chegou ao primeiro lugar, das duas vezes, não se aguentou uma semana. Há aqui uma espécie de medo cénico do Benfica sobre manter a liderança e esse trabalho de Bruno Lage tem de ser mais forte. Apesar de muitas das vezes ser empurrado pela arbitragem, tem de ser mais forte para não abanar quando o Benfica passe para a frente. Haverá tempo para discutir a renovação do treinador consoante o trabalho.

As renovações de Di María e Otamendi devem ser uma prioridade para a próxima temporada?

Renovações na praça pública são sempre um pouco esquisitas. Isto tem a ver com a vontade do treinador, do presidente e dos próprios jogadores. Estamos a falar de dois campeões do mundo, que têm estado em boa forma, com os picos normais ao longo da época, mas acho que temos de perceber primeiro a vontade deles e a vontade do clube. Eu diria que a vontade do adepto, que é uma coisa diferente do resto é que é essencial termos experiência num balneário de um clube formador. Eu gosto de ver estes jogadores com experiência que são críticos em momentos decisivos. Sou favorável à renovação de ambos, mas acho que antes de terminar o campeonato - e vimos isso o ano passado quando toda a gente já os colocava fora do Benfica -, é muito prematuro, quando ainda temos mais de 10 jogos por disputar, estar a falar de pessoas que já só têm contrato de ano a ano. Eles têm fome de ganhar troféus e nós também. Temos de ouvir os jogadores e depois o Benfica tem de perceber do seu lado consoante o momento em que se encontre o clube.

Têm vindo a ser falados vários regressos ao Benfica, como são os casos de Bernardo Silva, Lindelof e Nélson Semedo. Acredita que estas possibilidades estão dependentes dos casos de Di María e Otamendi?

Eu sou muito fã do modelo de regresso dos jogadores, mas este tem de estar assente naquilo que é a sustentabilidade financeira do clube. Estou curioso para saber que jogadores querem regressar ao Benfica. Isto trata-se de sabermos que eles têm um valor de mercado muito maior e para regressarem ao Benfica têm de dar o exemplo que Di María deu, que é de quererem jogar no clube. Nem sempre o Benfica tem tratado bem esses jogadores, mas acredito que não temos de escolher entre uns e outros, acredito que podemos ter um excelente plantel.

Bernardo Silva já disse que, quando voltasse ao Benfica, iria adequar o seu salário à realidade dos clubes portugueses. Seria um bom exemplo desse modelo de regresso?

O Bernardo vai ter uma decisão importante a fazer, ele está a um ano do final do contrato. Neste momento, o Manchester City também é parte envolvida, pelo que não é só uma opinião do Benfica e do jogador. Vamos perceber como está a situação, eu estou convencido de que, se o Bernardo puder ser um jogador livre, acabará por escolher o Benfica. Ele tem um filho recém-nascido, quererá regressar para perto da família. Ele também tem outro projeto do qual tem sido vocal, que é o Barcelona, mas acredito que, ou faz mais um ano no City, ou ruma ao Benfica ou ao Barcelona. Gostava muito de o ver com a camisola 10 no Estádio da Luz. Da parte dos adeptos, todos estamos a querer, basta o Bernardo conseguir um acordo com o City, até porque não acredito que alguém na direção do Benfica não concorde com este regresso.

Prestianni era titular com Roger Schmidt no início da temporada, mas depois acabou por perder o espaço com Bruno Lage, não tendo verdadeiras oportunidades para se mostrar. Quando as teve, como no jogo frente ao Tirsense, acabou por ser diferenciador. Embora não tenha sido um adversário de I Liga, deveria este jogador ter mais minutos na 1.ª equipa do Benfica?

Eu gostei muito de ver o João Rêgo a estrear-se pela mão de Bruno Lage, a ter minutos, porque isto tem a ver com os ativos que nós temos. Há mais concorrência para a posição de Prestianni e o Benfica tem um plantel muito profundo e muito vasto. Não sei como eles treinam diariamente, o que eu sei, e estamos todos de acordo, que Prestianni é um talento, para quem Bruno Lage tem dito que há um plano e que o jogador ainda não está preparado. De recordar que o Di María, na sua primeira passagem pela Luz também teve algumas dificuldades em se afirmar no primeiro ano. Os jogadores têm de ter persistência, estão a jogar com 'monstros' do futebol em picos de forma, e por isso não tenho qualquer crítica, acho que têm de merecer as oportunidades. Teve um bom lance e um bom golo frente ao Tirsense, temos um novo jogo frente a esse adversário prestes a acontecer, pelo que acredito que terá novas oportunidades.

Notícias ao Minuto Gianluca Prestianni marcou e assistiu no jogo da primeira mão da Taça de Portugal, frente ao Tirsense© Reprodução/Site Benfica

Com todos os casos que temos tido, a única forma que temos para que isto não aconteça é garantir que as avaliações dos árbitros sejam feitas em tabela transparente, para que se possa ver os valores em cada jogo

No seu livro 'A Nossa Camisola - Caminhos para o Futuro', tem um capítulo dedicado à arbitragem e como esta devia ser reformada. Sente que é o único caminho possível depois de tantos casos ao longo da temporada, incluindo este fim de semana?

No primeiro capítulo do livro 'A Nossa Camisola- Caminhos para o Futuro', tentei fazer o que chamo uma reforma para o futebol português, pelo que quis olhar para a indústria e um dos subpontos é a arbitragem. Fala-se muito de arbitragem, mas poucos trabalham para que esta seja melhor. Eu sou um dos grandes críticos em Portugal da arbitragem e achei que era minha responsabilidade não só apontar o dedo, mas trazer soluções.

O que eu defendo é que a arbitragem seja 100% profissional, porque estamos a falar de uma profissão de alta competição. Há escolas de jogadores, mas não temos escolas de árbitros. Depois há uma componente que tem a ver com a gestão da arbitragem e com a transparência e progressão dos árbitros. São os clubes que escolhem os árbitros, portanto, quem tiver mais capacidade de mobilizar clubes, no fim do dia está a nomear amigos ou pessoas de maior proximidade. Com todos os casos que temos tido, a única forma que temos para que isto não aconteça é garantir que as avaliações dos árbitros sejam feitas em tabela transparente, para que se possa ver os valores em cada jogo, e ficamos com o ranking de árbitros.

Desta forma, as pessoas têm capacidade para saber quais são os critérios para as decisões das nomeações para cada jogo, para não acontecerem coisas que toda a gente sabe que vão prejudicar e condicionar as decisões. Por fim, acredito que equipas de arbitragem com portugueses e estrangeiros poderia ser benéfico. Tivemos muitos anos em que houve uma coação não falada, mas visualizada. É com alguma mágoa que não vejo nenhum árbitro português no Mundial de Clubes quando vão estar presentes duas equipas portuguesas na prova e gostava que os nossos árbitros fossem dos melhores do mundo.

Fala ainda de um tema que tem sido muito abordado por Rui Costa, que é a centralização dos direitos televisivos. Que vantagens acredita que isto iria trazer ao futebol português?

Como em tudo na vida, se for bem feita pode, se for mal feita, não. Sou favorável à centralização. Só Portugal e o Chipre é que não estão centralizados neste momento e eu penso que a centralização fará sentido à competição, mas é preciso discutirmos duas coisas - e mais uma vez não tenho visto essa discussão - pelo que quis trazer neste livro essa discussão. Muito se tem falado no futebol português que ninguém quer perder e eu acho essa permissa totalmente errada. Deve-se é ganhar mais, tem de se fazer crescer o bolo e depois tem de se discutir como é que se vai partir o bolo.

O que defendo para a forma como se deve cortar este bolo seria 30% em fatias iguais para todos, e depois, os 70% restantes, cortar em três partes proporcionais. A primeira tendo em conta a classificação, em que o primeiro recebe mais e o último recebe menos, num proporcional igual entre todos. Noutra parte desses 70%, em termos de receita televisiva, tem de ser distribuído consoante as audiências e, por fim, o futebol é um espetáculo de audiências nos estádios, pelo que a última parte do bolo deve ser distribuída de forma proporcional pelos espectadores no estádio. Isto em Portugal, porque no estrangeiro, defendo que a responsabilidade deve ser dos clubes e não da Liga, para que todos os clubes possam vender todos os seus jogos, com 30% do montante a ser dividido por todos, e os outros 70% a irem para quem teve o trabalho, para que os clubes tenham responsabilidade sobre as suas receitas. Todos os clubes ganham mesmo que não globalizem o seu produto.

De que forma se poderia otimizar ao máximo o crescimento deste bolo no contexto nacional?

Portugal vai ter de reinventar o seu quadro competitivo, que é um dos pontos que toco no livro porque, se olharmos para a Liga dos Campeões, esta começou num formato apenas a eliminar, passou para uma fase de grupos e, agora, temos uma fase de liga. Reinventou-se três vezes para ir acompanhando os tempos. Em Portugal, continuamos a discutir se são 18, 16 ou 14 equipas… é ridículo. O que eu defendo é que se mantenham os 18 clubes, mas com um modelo inovador composto por uma primeira fase em que todos jogavam uma vez contra todos.

No final, os oito primeiros ficavam na série A e do nono ao 19.º classificado formava-se a série B. Depois a classificação ficava a zeros e, a duas mãos, ambas as séries decidem o campeão nacional e quem desce de divisão, respetivamente. A I Liga continuava a ter 18 classificados e isto melhora o produto da Liga porque passamos a ter mais um jogo entre duas equipas, em vez de dois Benfica-Sporting, passamos a ter três numa temporada, e por aí em diante. Isto também é bom porque as equipas da série A passam a fazer apenas 31 jogos, em vez dos 34 atuais, que permitiria com que houvesse menos congestionamento de calendários e que as equipas portuguesas fossem mais competitivas nas provas europeias.

As eleições presidenciais do Benfica estão perto de acontecer. Já disse em algumas entrevistas que não colocaria de lado uma candidatura à presidência do Benfica. É algo que está nos seus planos?

Integrar uma das listas presidenciais é uma porta que está fechada. Quanto a ser candidato, não é algo que esteja nos meus planos, mas essa é uma porta que não fecho. Ou seja, se o Benfica estiver bem, não precisará de mim, seguirá o seu caminho vencedor. Se em algum momento eu entender que o Benfica precisa e que eu posso ajudar e contribuir por alguma coisa que seja o futuro de um Benfica mais vitorioso e mais glorioso, essa é uma porta que não vou fechar, para depois não ter que me desmentir. O Benfica é uma grande parte da minha vida, não está no plano e espero nunca ser necessário, mas é uma porta que não fecho. Sou candidato a estar é no Marquês e espero lá estar este ano.

Leia Também: "Os árbitros têm estado condicionados desde que Varandas falou"

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