Os bares e cafés no centro de Leiria, perto da Fonte Luminosa - habitual ponto de comemoração dos títulos nacionais - encheram-se cedo para acompanhar os dois jogos decisivos da Liga portuguesa.

O vermelho predominou nas esplanadas, ganhando espaço à medida que os minutos passavam e o resultado era favorável ao Benfica.

Após o apito final, Leiria festejou ruidosamente o terceiro título consecutivo do Benfica. Milhares de pessoas concentraram-se na Fonte Luminosa, onde sistemas de som tocavam os hinos encarnados e puxavam pela multidão, que saltava e gritava "SLB".

Várias pequenas caravanas automóveis encaminharam-se para aquela parte da cidade. Até dois tratores serviram para transportar adeptos de uma das freguesias vizinhas até ao epicentro dos festejos.

No pensamento de muitos benfiquistas de Leiria esteve o 35.º título mas também um protagonista: Jorge Jesus.

"Não é um título saboroso por ser o terceiro. É saboroso pelas 'bocas' do Jorge Jesus! Ele comeu naquele 'prato' e não o soube respeitar", disse à Agência Lusa José Nunes, benfiquista de 62 anos.

Jonas e Mitroglou foram apontados como dois dos principais responsáveis pela carreira dos "encarnados", "e também o moço, o Renato Sanchez, que deu força grande à equipa".

José Nunes destacou ainda Rui Vitória:

"Muitos benfiquistas diziam mal do treinador, mas disse-lhes para terem paciência. É difícil chegar e por uma equipa a jogar futebol. Passados 5 meses a equipa estava a jogar. Além disso não respondeu a Jesus. Rui Vitória mostrou carácter".

Idalina Bernardino, 70 anos, viu o jogo na Casa do Benfica de Leiria e no final assumia-se "super-feliz" pela vitória:

"Estava convencida que íamos ganhar e conseguimos. O responsável? É o Jorge? o Rui Vitória! Até nem me importava que o Sporting ganhasse, mas como o Jorge Jesus deu com a língua nos dentes, é bem feita!".

Hugo Cruz, 29 anos, sócio do Benfica, admite que o título "foi complicado", mas atribui "o mérito todo a Rui Vitória":

"Ganhámos com a maior emoção do mundo. Foi até ao fim. Conseguimos fazer melhor que o Jorge Jesus e tínhamos uma equipa com jogadores que valiam menos do que os deles, mas com mais coração. Estes jogadores tiveram mais benfiquismo".

O presidente da Casa do Benfica de Leiria, Ramiro Antunes, concorda com as críticas a Jorge Jesus:

"Este é um prémio para uma pessoa excecional: o treinador do Benfica. Vivi o ano inteiro a chatear-me com sócios da Casa do Benfica por defender o Rui Vitória e a equipa do Benfica! Diziam que era melhor mandar embora, porque não prestava!".

Na hora da vitória, Ramiro Antunes admite preferir "nem dizer o nome" de Jorge Jesus:

"Se ele diz que o Rui Vitória não é treinador, ele também não é treinador! Ele não presta como treinador, não tem qualidade para treinar uma equipa como o Benfica e este ano isso ficou provado. Não tem qualidade nem para o Sporting".

Com milhares de pessoas concentradas no centro da cidade, o presidente da Casa do Benfica admite que a ideia de que Leiria é maioritariamente sportinguista está ultrapassada:

"Quando assumi a presidência, um dos 'slogans' era fazer esquecer a ideia que as pessoas têm de que Leiria é sportinguista. Pode haver um núcleo de 'velhos do Restelo' sportinguistas. Mas no concelho de Leiria há muito mais benfiquistas".

A alguns metros da festa, Patrícia Sequeira observava, calada, de cachecol do Sporting ao pescoço.

"Estou aqui à distância senão ainda me batem. Prefiro ficar aqui longe", assumiu.

A sportinguista acreditou que era possível, mas mantém a admiração pela equipa, apesar do segundo lugar:

"Tenho orgulho do Sporting, sempre. Quer ganhe, quer perca. O Sporting jogou melhor que o Benfica. Gostava de estar ali na Fonte Luminosa com os sportinguistas. Estamos há muitos anos à espera. Foi quase, mas está quase".