A mais de dez mil quilómetros de distância, o futebol português não passa ao lado de Manuel Cajuda. A trabalhar na China, o técnico de 65 anos continua a acompanhar o a atualidade desportiva. Ou é levado a isso…
"Eu não acompanho, sou obrigado a ver as vergonhas e as maledicências constantes", atirou, em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto.
"Eu devo tudo ao futebol e tenho pena de ver como o tratam. O futebol português é a profissão que mais promove a incompetência e o protagonismo, todos querem ser o protagonista maior e se for para o arruaceiro melhor ainda", apontou.
Dando um exemplo mais concreto, Cajuda falou de Bruno de Carvalho: o Sporting deixou de ser o "coitadinho" com mérito para o presidente dos leões que, na sua opinião, também criou instabilidade no futebol português.
"Eu estava aqui na China e não gostei que, sendo eu do Olhanense, tenha de ir bardamerda. Deixou-me triste. Sei que aquela frase é dita com o calor do momento e emotividade, e a pessoa em questão até já pode ter reconhecido que se excedeu, mas temos de pensar nos outros que nos estão a ouvir", sublinhou.
"Se é bem verdade que criou instabilidade e agressividade também é importante dizer que trouxe muito bem ao Sporting e que melhorou muito o clube. E essas coisas mancham o seu trabalho fantástico. O Sporting deixou de ser o 'coitadinho'. O ano passado, foi um candidato ao título até ao último minuto, este ano esteve menos forte mas também esteve bem. Às vezes é deixar os resultados falarem por si", analisou.
"Classe". É o que, na sua ótica, é necessário para reverter o momento atual que vive o futebol português - de constante troca de acusações entre clubes e polémicas nas arbitragens.
"O palavreado do futebol está a tirar a classe a todos os resultados do futebol português. E a rivalidade está a chegar a um nível quase de ódio. Seria necessário que todos tivessem mais classe e melhores comportamentos. E um controlo emocional para a classe dos cargos que ocupam, seja ele qual for", diagnosticou.
"Não foi preciso vídeo-árbitro para ver a cabeçada de Zidane"
As novas tecnologias são uma realidade cada vez mais iminente no futebol. Em Portugal, o vídeo-árbitro vai estar presente nos jogos da I Liga já na próxima temporada. Para o treinador português essa é uma ferramenta que pode ser vantajosa, desde que não venha "adulterar o futebol"
"Eu sou a favor de que as novas tecnologias podem melhorar, não só o futebol mas tudo na vida. Agora dizer que o futebol precisa das novas tecnologias…Os erros acontecem em todo o lado e os estádios estão cheios. Tal como o vinho e a droga, tudo o que é demais não presta. O futebol estar dependente das novas tecnologias é um absurdo. No entanto, são válidas desde que não venham adulterar o futebol", opinou.
"A mediatização tornou os lances mais visíveis. Qualquer pessoa põe uma imagem no Facebook que 90% das pessoas não viram. Não foi preciso vídeo-árbitro para ver a cabeçada do Zidane na final do Mundial 2006. Os árbitros têm dois olhos e a televisão tem milhares de olhos, além disso, o espectador do sofá tem uma visão privilegiada. Estamos no futebol das queixinhas uns contra os outros e isso está a tornar-se um hábito, finalizou.