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Jorge Pina recebe título de herói, mas diz que é só "um sonhador"

Não será para muitos uma história desconhecida: o pugilista que se viu obrigado a abandonar a modalidade depois de perder a visão num combate mas que nunca desistiu do desporto. Mas talvez poucos saibam ou tenham acompanhado de perto a forma como Jorge Pina tem promovido o desporto junto de jovens e pessoas com deficiência. Um trabalho que, este mês, lhe valeu o prémio de Local Hero, atribuído pela Comissão Europeia.

Jorge Pina recebe título de herói, mas diz que é só "um sonhador"
Notícias ao Minuto

07:30 - 28/10/17 por Andrea Pinto

Desporto Paralímpicos

Foi em 2006, quando se preparava para o Mundial de Boxe, que a vida de Jorge Pina levou ‘um murro’. O atleta, hoje com 40 anos, ficou cego do olho esquerdo e perdeu 90% da visão no direito. Isso obrigou-o a abandonar os ringues, mas não os palcos do desporto. O atletismo passou a ser a sua nova modalidade de eleição e motivar os outros para a prática desportiva a sua missão de vida.

“Nasci num bairro social, um bairro problemático, fui um jovem delinquente e tive vários problemas de atritos e foi o desporto que mudou a minha vida. E a cegueira, porque esta situação fez-me ver as coisas de forma completamente diferente”, recorda-nos Jorge, referindo que foram estas duas circunstâncias que o levaram a querer “fazer alguma coisa pelos outros para que pudessem escolher um caminho, pudessem ser felizes e encontrar a essência da vida que é a nossa maior riqueza”.

Nasceu assim, em 2011, a Associação Jorge Pina, projeto criado depois de Jorge Pina ter perdido a visão...  e de ter começado a 'ver' melhor.

"Até ficar cego não via e não partilhava nem valorizava coisas simples como a vida. Odiava, catalogava e julgava. Agora não. Quero ver, quero saber, aprender. Temos a mania de julgar os outros pelo que vemos e isso não é bom. Aprendi com esta minha condição nova que há muita coisa boa", diz Jorge Pina, que se pudesse não alteraria nada no seu percurso de vida, porque se o fizesse "não seria o Jorge" que é hoje .

Quanto ao prémio que lhe foi atribuído, e com o qual concorria com mais 70 projetos de outros países, Jorge Pina confessa que “nunca” esperou ser o escolhido e que foi com “espanto”que percebeu que era ele o vencedor. Depois disso, veio o “orgulho”.

“É o sinal de que tenho feito um bom trabalho e que isso foi visto e reconhecido a nível internacional. É um grande orgulho, mas ainda não fiz o suficiente”, considera, feliz, ainda assim, por ter um novo projeto em mãos que lhe permite continuar a ajudar as pessoas.

A Câmara Municipal de Lisboa cedeu à associação um espaço em Marvila, onde o atleta paralímpico quer criar uma Academia de Desporto. Para o líder da associação, este é o maior reconhecimento que pode receber depois de tantos anos a andar “com a casa às costas” e  com “os miúdos de um lado para o outro”.

Quando questionado sobre se, por tudo isto, se reconhece no título de herói com que foi distinguido, Jorge prefere utilizar outro termo. “Heróis são todos os que trabalham na associação e todos os que ajudam e fazem com que as coisas aconteçam. Eu sou só um sonhador”, considera, acrescentando: "o meu prémio é quando sei que ajudo alguém ou quando vejo que uma pessoa está feliz. Essas são as minhas vitórias”.

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