Joaquim Duarte afirmou que a decisão de encerrar a edição semanal foi "dolorosa", mas que se tornou "incontornável, perante as contingências da revolução no digital, que agravou a crise de leitores nos jornais impressos, a somar às quebras de publicidade".
No editorial que acompanhará esta última edição, Joaquim Duarte lembra que O Ribatejo, criado por jornalistas profissionais, foi, à época, "caso raro de profissionalismo e arejamento" numa imprensa regional então, quase sempre, "amadora e dócil".
"Queremos continuar, agora noutro registo, porque sabemos que os tempos que correm são de futuro incerto para o jornalismo como o conhecemos e temos praticado até aqui. As empresas de comunicação viram o negócio dos jornais, sem que disso se tenham apercebido e acautelado em devido tempo, transferir-se para a voragem das redes sociais, onde tudo é oferecido graciosamente", escreve no texto que marcará a última edição impressa do título.
Joaquim Duarte alerta que o jornalismo, "central à qualidade da democracia e ao exercício da cidadania -- mesmo que os cidadãos já mal se deem conta disso - vem sendo secundarizado dentro deste grande negócio que são as plataformas das redes sociais", dominadas pelas multinacionais da comunicação global, "que conseguem controlar hoje quem publica o quê e para quem, e que publicação pode ou não gerar dinheiro, em praticamente qualquer lugar do mundo e em qualquer língua".
"O jornal em papel, além de sofrer uma rápida erosão do negócio, tem uma outra limitação: as notícias que publica envelhecem ainda antes de chegarem ao leitor. O papel não pode mais competir com a instantaneidade desta era digital", escreve.
O projeto de criação de uma revista, que deixa o "imediato" para o 'online' e tratará "em maior profundidade das relevâncias regionais", é, para o diretor de O Ribatejo, sinal de que continua a acreditar que "há alternativas a esta erosão de valores conceptuais e culturais do jornalismo".
A edição 1.688 de O Ribatejo, que, ao contrário do habitual, não estará nas bancas à quinta-feira, chegará pela última vez aos leitores na sexta-feira com um cartoon de António Maia a encher a primeira página e deixando impressa uma "breve viagem à memória" das principais etapas dos quase 33 anos de jornal, "cujas páginas ficarão agora entregues à patine do tempo, nos arquivos das bibliotecas".
O jornalista, que acompanhou o projeto desde a sua origem, referiu à Lusa a qualidade dos profissionais e dos colunistas que passaram pelo jornal, garantindo um jornalismo "rigorosamente isento e interventivo" e uma "opinião plural", mas também a capacidade de "inovar" que foi revelando ao longo dos anos.
Em particular, apontou a primeira revista, editada em 1990, com crónicas de "dois consagrados escritores ribatejanos", José Saramago e Álvaro Guerra, bem como a rádio criada em novembro de 1986 em colaboração com a cooperativa TSF e que teve o jornalista Fernando Alves como primeiro diretor.
A entrada na Internet aconteceu em 1997, com O Ribatejo a ser "dos primeiros no país a ter um 'site' na rede global" e a, alguns anos mais tarde, criar a TV-ORibatejo, com destaque para a produção de uma série de documentários históricos sobre Santarém.
Joaquim Duarte referiu ainda a edição de livros, desde a banda desenhada (sobre Salgueiro Maia e sobre Pedro Álvares Cabral) ao jornalismo, ao romance ou às crónicas, e a criação do "Troféu O Ribatejo", que, em cerca de 15 galas, destacou personalidades e instituições que se distinguiram "em prol do desenvolvimento da região".
"Iremos continuar a inovar com a renovação do 'online' e com a criação de uma revista mensal, já a pensar na futura região do Ribatejo e Oeste. Em setembro próximo voltaremos a dar notícias", prometeu.