Campanha defende que Governo deve nacionalizar fábrica que vai fechar
A campanha Empregos para o Clima em Portugal defendeu hoje que o Governo deve nacionalizar a MFS - Moura Fábrica Solar, que pertence a uma empresa espanhola e vai fechar, para produzir painéis solares para edifícios públicos.
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Economia Moura
Num comunicado enviado à agência Lusa, a campanha, que abrange várias associações, movimentos sociais e ambientalistas e sindicatos, defende que a MFS, situada na cidade de Moura, distrito de Beja, "deve ser nacionalizada, garantindo emprego digno para os trabalhadores e energia limpa para o país".
Neste sentido, refere, o Governo deve "intervir no processo" e "nacionalizar a fábrica" para nela "produzir painéis solares para montar" em edifícios públicos, nomeadamente escolas.
Segundo a campanha, atualmente, os edifícios públicos "estão a comprar energia a empresas privadas, o que faz com que o dinheiro público sirva interesses privados".
No entanto, defende, se comprarem painéis "financeiramente acessíveis" a uma empresa pública, "que não se foca no lucro", os edifícios públicos, "em poucos anos, tornar-se-iam energeticamente independentes, poupando custos de energia".
A MFS vai fechar "não porque não faz lucro, mas porque não faz lucro o suficiente", afirma a campanha, frisando que a empresa proprietária, a ACCIONA, anunciou que o seu parceiro tecnológico que geria a fábrica vai "transferir a sua produção para fábricas na Ásia".
"Na era das alterações climáticas e com a urgente necessidade de descarbonização, a energia não pode ser meramente um negócio para lucro", defende a campanha, frisando que "o abandono" da MFS por parte da ACCIONA é "uma oportunidade para tirar a energia dos jogos de mercado e pô-la ao serviço das populações e do planeta".
Cálculos da Empregos para o Clima "mostram que é possível descarbonizar a indústria energética de Portugal em 15 anos, criando dezenas milhares de novos postos de trabalho", refere a campanha, sublinhando que "o que falta é vontade política" e "situações como o fecho da MFS servem como teste da vontade dos governos".
O fecho foi anunciado este mês e justificado pela empresa proprietária, a espanhola ACCIONA, com o facto de a viabilidade económica da MFS ser "impossível, num ambiente de mercado competitivo dominado por fabricantes chineses".
A criação da MFS, que começou a funcionar em 2008, esteve vários períodos parada e parou de produzir definitivamente em setembro de 2018, foi uma das contrapartidas do projeto de construção da Central Solar Fotovoltaica de Amareleja, no concelho de Moura.
Após ter comprado a empresa criada pela câmara para construir e gerir a central, a ACCIONA construiu a MFS e, no âmbito de um acordo com o município, comprometeu-se a mantê-la a funcionar durante 10 anos, ou seja, até 2018, e com mais de 100 trabalhadores.
Um porta-voz da ACCIONA disse à Lusa que a empresa "cumpriu todos os seus compromissos" com as autoridades portuguesas, mantendo a atividade da fábrica durante 10 anos, "com uma média de mais de 100 empregados" e através de dois parceiros tecnológicos, um primeiro espanhol e um segundo chinês, que a geriram.
No entanto, o segundo parceiro, que geria a fábrica, "anunciou em 10 de setembro de 2018 - sete dias depois de a União Europeia ter decidido eliminar as tarifas sobre a importação de painéis da China - que iria concluir definitivamente a sua atividade em Moura e transferir a sua produção para fábricas na Ásia", explicou o porta-voz.
"Ao longo de 2018", a ACCIONA tentou negociar a entrada de um terceiro parceiro na gestão da MFS, mas "sem qualquer resultado, dada a evolução do setor à escala global", e, por isso, "não houve outra opção senão [a de] fechar a fábrica", o que vai deixar os 105 trabalhadores desempregados.
A campanha Empregos para o Clima, que decorre em vários países, como Portugal, visa combater as alterações climáticas e defende a criação massiva de postos de trabalho no setor público em setores-chave para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.
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