O dia em que o país correu às bombas (por causa da greve sem fim à vista)
Sindicato e transportadoras chegaram a acordo no que toca aos serviços mínimos, mas a greve mantém-se e sem fim à vista.
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Economia Combustíveis
A primeira coisa que deve saber é que a greve dos motoristas de transporte de matérias perigosas vai continuar, apesar de estarem assegurados os serviços mínimos - este foi o acordo possível entre os sindicatos e transportadoras, já no final do dia de terça-feira. O que é que isto significa? Já lá vamos.
O país acordou ontem com a notícia de que o Governo iria recorrer a uma requisição civil por causa da greve dos motoristas de matérias perigosas, que parecia longe de se assemelhar ao bloqueio de camionistas que parou o país em 2008, mas por pouco tempo.
Esta requisição civil tinha efeitos imediatos. A questão é que do efeito imediato ao efeito prático vai algum tempo e isso foi o suficiente para causar perturbações na vida dos portugueses. A meio da manhã começavam os avisos: a ANA Aeroportos de Portugal alertava para a falta de combustível nos aeroportos de Lisboa e de Faro, uma vez que já tinham sido atingidas as "reservas de emergência".
Pouco tempo depois, o Notícias ao Minuto noticiava já que a TAP tinha cancelado um voo, entre Lisboa e Faro, "devido à impossibilidade de abastecimento". Terá sido o único, até porque a meio da tarde já se sabia que iria partir um comboio de camiões-cisterna para abastecer o aeroporto de Lisboa. No entanto, várias companhias aéreas optaram por fazer escalas técnicas e abastecer, por exemplo, em Santiago de Compostela, precavendo-se da situação e evitando mais cancelamentos.
Resolviam-se uns problemas, enquanto outros se agravavam. Os postos de abastecimento de todo o país acumulavam filas, com os condutores portugueses preocupados com a possibilidade de ficarem sem combustível. O caos era tal, que o INEM até chegou a ter de fazer um apelo a pedir prioridade nas bombas.
Perante esta situação, não havia alternativa. O Governo declarou situação de crise energética, determinando medidas excecionais e possibilitando que as forças de segurança pudessem transportar combustível. Esta situação vigora até ao fim do dia 21 de abril, de acordo com um comunicado do Executivo.
Na prática, o que significam os serviços mínimos?
A luz ao fundo do túnel só começou a ser vista já noite dentro. Uma reunião entre o Governo, a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) e o Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) terminou com um acordo sobre os serviços mínimos, já a partir da manhã desta quarta-feira.
O que é que isto significa? Significa que o abastecimento será assegurado a 100% a entidades como aeroportos, hospitais e grandes centros de consumo. Mas há mais. Em Lisboa e no Porto será assegurado o abastecimento em 40% dos postos. O acordo contempla ainda que 30% do volume de combustíveis seja entregue em postos de abastecimento civis.
Constrangimentos vão continuar?
Apesar de estarem garantidos os serviços mínimos e de o Governo querer que o abastecimento seja retomado "mais rapidamente possível", o vice-presidente do sindicato dos trabalhadores de matérias perigosas, Pedro Henriques, antecipa "problemas sérios para o país", considerando que o problema não se vai resolver com os serviços mínimos.
A questão é que o presidente da ANTRAM diz que está disposto ao diálogo, mas não negoceia em contexto de greve. Por seu turno, o vice-presidente do sindicato garante também estar disponível para conversar, mas assegurou que "até se reunirem, a greve continuará e o estado crítico irá aumentar".
Do "bom senso" à normalização
Como seria de esperar, a situação que o país vive por causa dos combustíveis mereceu também comentários políticos. O líder do PSD, Rui Rio, defendeu que, além da necessidade de intermediação do Governo, é também preciso "bom senso" na esfera privada. O CDS optou por culpar o Governo pelo "caos" nas bombas e pediu soluções ao primeiro-ministro.
Por sua vez, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, assegurou que está a acompanhar a situação e que é necessário "normalizar a situação, independentemente do problema laboral, que é entre privados, e de exercício do direito constitucional à greve".
Até quando esta situação se vai manter é uma questão que ainda não tem resposta. Certo é que Portugal volta a ser notícia lá fora e, desta vez, por uma "crise de energia" causada pela escassez de combustível, como escreve a agência Reuters.
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