Berardo, a CGD, o bode expiatório e as dívidas? Uma comissão de inquérito

O empresário madeirense foi ouvido esta sexta-feira, na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD).

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Sara Gouveia com Lusa
11/05/2019 08:57 ‧ 11/05/2019 por Sara Gouveia com Lusa

Economia

Berardo

Joe Berardo, o empresário e gestor madeirense foi ouvido numa das audições da comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da Caixa Geral de Depósitos e cinco horas depois de estar a responder às perguntas dos deputados ficaram alguns momentos inesperados.

Tudo começou quando o empresário pediu para que a audição não fosse transmitida pelos órgãos de comunicação em nome da "defesa e proteção da sua imagem", como explicou o presidente da comissão de inquérito. Luís Leite Ramos, explicou ainda que acedeu ao pedido de Joe Berardo, mas que negou o pedido para que a audição não fosse transmitida pelo canal do Parlamento (ARTV), uma situação que o advogado de Berardo considerou "totalmente ilícita".

Depois de um arranque fora do comum, a audição teve início e a intervenção inicial foi lida pelo seu advogado, André Luiz Gomes, uma declaração na qual o empresário considera que tem servido de bode expiatório. "O meu nome e a minha situação creditícia têm servido como justificação para todos os males que afligiram a gestão da CGD nas últimas décadas", afirmou na declaração lida aos deputados.

Segundo a auditoria da EY à gestão da CGD entre 2000 e 2015, o banco público tinha neste ano uma exposição a Joe Berardo e à Metalgest, empresa do seu universo, na ordem dos 321 milhões de euros.

Os empréstimos a Joe Berardo serviram para financiar a compra de ações do BCP, naquilo que alguns deputados já classificaram de "assalto" ao banco, em 2007, cuja garantia eram as próprias ações, que depois desvalorizaram praticamente na totalidade, gerando grandes perdas para o banco público. Também no caso de empréstimos a incumprimento a outros bancos, deu títulos da Associação Coleção Berardo, mas também outras garantias (ações da Bacalhoa e da Madeirense Tabacos no BCP e prédios no Funchal ao BES).

Mas para o comendador foi tudo uma questão de "ajudar a situação dos bancos numa altura de crise", referindo-se à prestação de garantias. Declarando ainda que "foi a Caixa" que sugeriu os créditos para aquisição de ações no BCP, através de José Pedro Cabral dos Santos, e acusou o banco público de não cumprir os contratos com a Fundação Berardo e Metalgest, empresa da sua esfera. Dando ainda conta de que ter investido no BCP foi um grande erro. "O BCP foi o maior desastre que eu tive na minha vida", declarou.

Questionado por Mariana Mortágua sobre por que é que "não paga o empréstimo à banca ou dá a garantia que aparentemente foi dada aos bancos quando fez um acordo de renegociação em 2008 e reiterou em 2011", se dá sinais exteriores de riqueza e de ser "multimilionário", Berardo esclareceu que "claro" que não tem dívidas. "Eu pessoalmente não tenho dívidas, tenho tentado ajudar. Claro que não tenho dívidas", declarou.

Esclareceu também que a garantia dada à CGD são os títulos da Associação Coleção Berardo, e não das obras de arte em si. "O que os bancos têm são os títulos da associação, sempre souberam isso", disse o empresário, acrescentando que não sabe "como é que [os bancos] fizeram a valorização dos títulos" da instituição.

A bloquista perguntou então se "os bancos não achavam que estavam a penhorar as obras". "Inicialmente eles queriam isso, mas isso está fora de questão. Nunca ia dar aquilo como garantia, aquilo faz parte da minha vida", afirmou Joe Berardo.

Quando abordado por Cecília Meireles do CDS sobre o que aconteceria se os bancos tentassem executar os títulos da Associação Coleção Berardo, sugeriu que o fizessem pois "têm direito". "E se o fizerem deixa de ser o senhor a mandar na associação?", perguntou a deputada centrista. "Ah! Ah! Ah!", gargalhou Berardo.

Considerando que muitas perguntas dos deputados não deviam ser feitas a si, mas aos bancos que lhe concederam créditos, Joe Berardo respondeu assim a uma interpelação feita pelo deputado do PCP Duarte Alves, que questionou o empresário sobre como conseguiu, em 2006, 50 milhões de euros para compra de ações através da empresa Metalgest, que tinha então um volume de negócios de apenas 50 mil euros e um resultado operacional bruto (EBITDA) negativo. "Pergunte à Caixa, eles é que me emprestaram o dinheiro", atirou.

Sobre por que pediu dinheiro usando diferentes entidades - Metalgest, Fundação Berardo - o empresário respondeu ao deputado comunista: "pergunta bem". "O meu trabalho é ir pedir dinheiro, para rentabilizar, não deu certo, na vida é assim", acrescentou.

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