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Draghi foi "amigo" da moeda única mas não dos países pequenos do euro

Os economistas sondados pela Lusa consideram que Mario Draghi foi um grande amigo do euro, que defendeu "com brilho e coragem", mas também adotou políticas "muito nocivas" para países pequenos da zona euro, como Portugal ou Grécia.

Draghi foi "amigo" da moeda única mas não dos países pequenos do euro
Notícias ao Minuto

14:19 - 19/06/19 por Lusa

Economia Draghi

"Draghi não se caracteriza por ser amigo dos países pequenos. Antes, foi amigo da moeda única e defendeu-a com brilho e coragem e esse foi o seu contributo para todos os países", considerou Luís Campos e Cunha, professor na Nova School of Business and Economics (Nova SBE), em declarações por escrito à Lusa.

O também antigo ministro das Finanças frisou que "as medidas, muitas vezes pouco ortodoxas, apenas pecaram por vezes por tardias", lembrando a crise das dívidas soberanas e dos períodos de deflação. "Mas as decisões chegaram e os problemas resolveram-se, pelo menos aqueles que o BCE poderia resolver", acrescentou.

No entender de Ricardo Reis, professor na London School of Economics, Mario Draghi também não foi amigo dos pequenos países da zona euro, em particular, e "as suas políticas sempre se focaram na zona euro como um todo, como aliás era o seu dever".

"Para além disso, as suas intervenções arrojadas só surgiram quando a crise estava prestes a alastrar-se a Itália e Espanha, já muitos meses depois dos problemas na Grécia, Irlanda e Portugal", recordou o economista, acrescentando que, na defesa de Mario Draghi, "só nessa altura havia condições políticas para o fazer".

"Mas não há nenhuma preferência ou sacrifício nas suas ações em prol dos países pequenos, como Portugal", frisou.

No mesmo sentido, João Duque, professor de Finanças no ISEG - Lisbon School of Economics & Management, salientou à Lusa que "o BCE, na sua política monetária de defesa da estabilidade dos preços, não é amigo das pequenas economias porque não está desenhado para elas".

No entanto, o economista admitiu que o BCE, enquanto instituição interveniente no processo de resgate, "acabou por ser preponderante na forma como ajudou a desenhar os mecanismos de superação das dificuldades que os países resgatados sentiam e que passavam, em primeiro lugar, pela total incapacidade de aceder ao mercado do crédito, mesmo estando empenhados e comprometidos na reestruturação e equilíbrio das suas finanças públicas".

"Era necessário tempo e, na ausência do mercado, o BCE concedeu-nos esse tempo", acrescentou João Duque.

Também Ricardo Cabral, professor da Universidade da Madeira, afirmou, em declarações por escrito à Lusa, que "os programas de política monetária não convencional adotados pelo BCE durante o mandato de Mario Draghi foram fundamentais para a zona euro e para os ditos "países periféricos" (Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha e Itália)", o que não significa que o atual presidente da instituição tenha sido amigo dos países pequenos do euro.

"Se mesmo assim essas economias estagnaram e o desemprego e as condições sociais se degradaram dramaticamente, imagine-se o que teria sido sem o seu contributo. Ou seja, a política monetária adotada pelo BCE traduziu-se na "melhoria" das condições de vida de muitos milhões de cidadãos da zona euro, em particular, nos países periféricos, ao evitar uma maior degradação do enquadramento macroeconómico desses países", considerou o economista.

Contudo, Ricardo Cabral sublinhou que "outras das políticas adotadas ou suportadas pelo BCE de Draghi foram muito nocivas para países como Portugal e Grécia".

Joaquim Miranda Sarmento, professor de Finanças do ISEG, referiu, por seu turno, que Mario Draghi "procurou proteger o euro, o que é bom para todos os países, mas porventura ainda mais para países pequenos, que, de outra forma, estariam muito mais expostos aos efeitos das crises financeiras".

O economista acrescentou que a política monetária motivou um efeito orçamental, a saber, a redução da despesa com juros e aumento dos dividendos do banco central nacional, que se sente em todos os países e que "representa 2/3 da consolidação orçamental dos últimos quatro anos".

Mario Draghi está em Portugal a participar na sua última edição do Fórum do BCE enquanto presidente da instituição, sob o mote dos 20 anos da zona euro.

O mandato de Draghi termina em 31 de outubro e os nomes mais referidos para lhe suceder incluem o governador do Banco de França, François Villeroy de Galhau, o membro da Comissão Executiva do BCE, Benoît Coeuré, o governador do Banco da Finlândia, Olli Rehn, e o seu antecessor Erkki Liikanen, e o presidente do Bundesbank (o banco central alemão), Jens Weidmann.

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