O presidente do BCE, Mario Draghi, participa pela penúltima vez na reunião de política monetária - a última será em 24 de outubro - antes de passar o cargo no final do mês à francesa Christine Lagarde, depois de oito anos de mandato marcado por crises.
Os analistas referem que vai ser preciso satisfazer as altas expetativas dos mercados - alimentadas pelo próprio BCE -, através da adoção da resposta adequada à conjuntura da zona euro, de abrandamento mas ainda não imediatamente ameaçada por uma recessão.
Se o BCE "dececionasse em setembro, as medidas teriam de ser adotadas mais tarde e com hipóteses reduzidas de sucesso", resume Frédéric Ducrozet, estratega da Pictet Wealth Management.
As divergências surgiram neste verão no Conselho de Governadores da instituição, dividida pela oportunidade de sair agora do grande 'jogo monetário', correndo o risco de queimar prematuramente todos os cartuchos do instituto.
As "pombas", uma ala tradicionalmente a favor de forte apoio da economia e liderado por Draghi, defendem a descida de uma das taxas de juro e o regresso do extenso programa de compras de ativos realizado entre 2015 e final de 2018.
Mas os "falcões" no Conselho de Governadores do BCE, como a alemã Sabine Lautenschläger ou o holandês Klaas Knot, estão mais reticentes à ideia de adotar de novo o programa de compra de dívida.
Seja qual for a decisão, o BCE entende que a política monetária deve ser adotada "em função dos dados e não dos mercados", advertiu no final de agosto o vice-presidente da instituição, o espanhol Luis de Guindos, num esforço para acalmar as expetativas dos mercados.
O BCE poderá apoiar-se na quinta-feira em novas previsões económicas, já que as de junho apontavam para uma inflação de 1,3% em 2019 e 1,6% em 2021, ainda longe do objetivo do BCE "próximo de 2%" a médio prazo.
Após a reunião do BCE de julho, a economia da zona euro não mostrou sinais de melhoria e parece mesmo aproximar-se da economia alemã, que viu o seu Produto Interno Bruto (PBI) recuar 0,1% no segundo trimestre.
Certos fatores de incerteza diminuíram, como o risco político em Itália, mas o caos ainda reina em torno do 'Brexit' e o conflito comercial entre Washington e Pequim continua a envenenar o clima comercial.
No mínimo o BCE deveria portanto manter a taxa de refinanciamento dos bancos em zero e baixar a taxa dos depósitos, de -0,40%, já em terreno negativo e que penaliza os bancos pela liquidez que escolhem confiar ao BCE em vez de emprestar às empresas e às famílias.
Paralelamente, o BCE poderia anunciar um sistema de taxas decrescentes conforme os saldos, já em vigor na Suíça, Suécia ou Japão, para diminuir a carga com juros que pesa aos bancos.
Mas a decisão mais delicada será a de reiniciar a compra de dívida, o programa chamado "Quantitative Easing" ou "QE", que é a arma anti-crise mais poderosa, mas também a menos consensual.
"Um envelope total de 600 biliões de euros seria justificável hoje [...], mas as divergências entre "falcões" e "pombas" sugerem não ir tão longe", afirma Frederik Ducrozet, citado pela Afp.
Além destas medidas, novos pormenores poderiam ser comunicados sobre a nova onda de empréstimos gigantes a bancos, a terceira desde 2014 e que deve começar em setembro.
Finalmente, o BCE poderia ajustar a comunicação de acordo com as suas intenções, projetada para orientar as expetativas dos investidores, para evitar desvios nos mercados e preservar a sua credibilidade.
Segundo especialistas, o BCE poderia dar menos importância ao momento de um potencial aumento da taxa de juro, atualmente adiado até o final do primeiro semestre de 2020, e especificar a sua meta para a inflação.