Banca deve evitar "experimentação total" na tecnologia, alerta Constâncio
O ex-governador do Banco de Portugal (BdP) Vítor Constâncio defendeu hoje que o sistema financeiro deve evitar que a tecnologia se desenvolva num clima de "experimentação total", sob o risco de ser "tarde demais" para voltar atrás.
© Reuters
Economia Vítor Constâncio
"Todo o tratamento das implicações tecnológicas no sistema financeiro não deve ser deixado à experimentação total", afirmou hoje o também antigo vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), contestando a ideia de experiências em pequena escala.
Para sustentar a sua ideia, Vítor Constâncio ilustrou o seu discurso com a metáfora da vida real "'vamos ver como é que resulta em pequena escala, e depois faremos algo'".
"Isto pode crescer rapidamente e depois é demasiado tarde para fazer alguma coisa e voltar atrás", considerou o economista, acrescentando que é precisa "clareza de conceitos" sobre o que se deseja da tecnologia no sistema financeiro, bem como sobre o 'shadowbanking'.
Durante a sua apresentação, o ex-governador deixou vários avisos à regulação, considerando que "continua a ser necessária" num tempo em que novos intervenientes se tentam intrometer no negócio bancário tradicional.
Vítor Constâncio afirmou que "a tecnologia é neutra para os fundamentos da regulação do sistema financeiro, o que significa que não é por causa de haver novas tecnologias para distribuir produtos que os problemas das externalidades, de risco moral, de seleção adversa, de comportamentos que justificam a regulação, desaparecem".
"Se alguma destas novas 'fintech' [empresas tecnológicas financeiras] começa a recolher fundos do público regularmente, e garante redenção ao valor nominal, então é um depósito. E, se é um depósito, então precisa de regulação, tal como os bancos", considerou o antigo responsável do BCE, referindo que este exemplo pode ser aplicado à criptomoeda do Facebook, a Libra.
O economista defendeu também que a "ameaça" para o sistema bancário vem "das 'bigtech' [grandes empresas tecnológicas] que entraram através dos [sistemas de] pagamentos, e através dos pagamentos em muito mais".
Vítor Constâncio destacou o "risco" da entrada de outras empresas ('openbanking'), que abrem a possibilidade de "os dados dos clientes nos bancos circularem, com autorização, a outros intervenientes no sistema".
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