Christine Lagarde é a primeira mulher a assumir a presidência do BCE, depois de ter sido também a primeira mulher na liderança do FMI.
Antes de Mario Draghi, o BCE teve como presidentes o francês Jean-Claude Trichet e o holandês Wim Duisenberg, que foi o primeiro presidente da instituição.
Foi em 16 de julho que Lagarde apresentou a demissão do cargo de diretora-geral do FMI, com efeito em 12 de setembro, e o Conselho Executivo aceitou o pedido, elogiando a sua "excecional" administração e liderança "inovadora e visionária".
Os economistas contactados recentemente pela Lusa consideraram que as medidas anunciadas por Mario Draghi em setembro facilitaram o trabalho a Christine Lagarde, que recebe do italiano um legado "exigente", mas mais "leve" do que dos anteriores presidentes do BCE.
"Cremos que Mario Draghi facilitou o trabalho de Lagarde, nomeadamente ao ter anunciado já as medidas de estímulo na reunião de setembro. Diria que o legado de Draghi não é pesado, mas leve", afirmou Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio, à Lusa, acrescentando que "é mais fácil suceder a Draghi do que ter sucedido aos anteriores presidentes do Banco Central Europeu (BCE)".
Já Clara Raposo, professora e presidente do ISEG, considerou que "a herança deixada a Christine Lagarde é exigente", o que "não se deve propriamente a Mario Draghi, mas sim à natureza da união económica e monetária e ao atual contexto internacional, geopolítico e económico".
João Borges Assunção, professor da Universidade Católica, afirmou, por seu turno, que "a nova presidente do BCE entra numa altura em que há uma divisão clara entre os membros do Conselho de Governadores do BCE em matéria de condução da política monetária".
Segundo o professor da Católica, a "principal tarefa" de Lagarde "será conseguir dar ao Conselho a liderança intelectual que o seu antecessor atingiu, o que lhe permitirá comunicar eficazmente com o mercado e com os vários governos nacionais dos países que integram a zona euro".
A nova presidente do BCE defendeu, na quarta-feira, políticas sobre taxas de juros baixas, como forma de apoio às empresas, em vez de pagamentos mais elevados à poupança.
Questionada pela RTL sobre os efeitos negativos das taxas de juro próximas do zero sobre a remuneração da poupança, Lagarde interrogou: "O que teria acontecido se o BCE tivesse feito o contrário?".
Sobre a política monetária que vai ser adotada no futuro, Lagarde não quis pronunciar-se porque, justificou, precisa de "recursos e tempo" para definir as medidas.