Paralisia de fábricas na China perturba cadeias de produção globais
Fábricas chinesas que produzem telemóveis, brinquedos e componentes para todo o mundo estão a ter dificuldades em retomar a produção, face a restrições impostas à movimentação de milhões de pessoas devido ao surto do coronavírus Covid-19.
© Lusa
Economia Coronavírus
A China é o ponto final de montagem de mais de 80% dos smartphones, mais de metade das televisões e uma grande parcela de outros bens de consumo, a nível mundial.
Mas milhares de empresas chinesas continuam a produzir a "meio-gás", desde o setor automóvel ao eletrónico, devido à falta de matérias primas e de trabalhadores, que estão retidos nos locais para onde viajaram no Ano Novo Lunar, que se celebrou em 24 de janeiro passado.
O surto do Covid-19 começou na China no final do ano passado, e provocou já 2.705 mortos e mais de 80 mil infetados, a maioria no país.
Entre os fabricantes de 'smartphones', uma indústria que depende da China para montar quase todos os seus aparelhos, alguns fornecedores de componentes dizem que a produção se encontra a 10% dos níveis normais, segundo a empresa de pesquisa Canalys.
Empresas globais que precisam de plásticos, produtos químicos, aço e componentes de alta tecnologia também "enfrentam uma produção reduzida", segundo a analista Kaho Yu, da consultora Verisk Maplecroft.
A sul-coreana Samsung admitiu também estar a ser afetada. Apesar de, nos últimos anos, ter deslocado a sua produção para o Vietname, o grupo continua a ter fábricas administradas por gerentes chineses que voltaram para casa nas férias do Ano Novo Lunar e estão agora impedidos de regressar ao trabalho.
A China responde por cerca de um quarto da produção mundial de automóveis e, de acordo com a UBS, fornece 8% das exportações globais de componentes automóveis
A construtora alemã Volkswagen admitiu, na segunda-feira, que os seus desafios incluem "uma cadeia de suprimentos mais lenta e desafios logísticos".
Agências de viagem e de retalho dependentes do mercado chinês foram também fortemente afetadas pela paralisia na segunda maior economia do mundo.
"A má notícia é que o impacto se prolongará e o impacto é pior do que muitas pessoas inicialmente previram", afirmou num relatório Nicole Peng, investigador da Canalys.
As previsões mais otimistas apontam para que as restrições na movimentação de pessoas, que neste momento afetam centenas de milhões de trabalhadores na China, sejam mantidas até março, permitindo depois que a produção fabril retome a normalidade.
As previsões mais negativas admitem que o surto durará até meados de maio ou que as autoridades não consigam impedir a sua disseminação global, como alertou a Organização Mundial de Saúde (OMS) esta semana.
Montadoras e outras fábricas na China começaram gradualmente a reabrir, mas analistas dizem que não restabelecerão a produção normal até pelo menos meados de março.
"Se o trabalho não voltar ao normal nas próximas semanas, provavelmente haverá escassez global de peças", disseram Taimur Baig e Samuel Tse, analistas do banco de consumo DBS, num relatório.
Pequim prometeu já reduzir impostos, embora economistas digam que a ajuda financeira terá impacto limitado enquanto as medidas de prevenção do surto se mantiverem em vigor, não permitindo aos trabalhadores voltar às fábricas e interrompendo os serviços de logística e transporte.
No domingo, o presidente chinês, Xi Jinping disse que "áreas de baixo risco" devem reduzir as medidas de controlo para restaurar completamente a produção, enquanto as áreas de alto risco devem concentrar-se no combate à epidemia.
As autoridades devem "desbloquear estradas e vias de transporte", escreveu a agência noticiosa oficial Xinhua.
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