A estes 45.000 metros quadrados chegam diariamente milhares de produtos dos fornecedores, que depois são armazenados em estruturas com 12 metros de altura.
Num ciclo que se renova a cada dia, centenas de funcionários processam então as encomendas para todas as lojas do grupo (Continente, Continente Modelo, Continente Bom Dia e Meu Super) para as regiões Centro e Sul do país
"Nestas últimas três semanas tivemos um pico de atividade superior ao que temos no verão e no Natal de cerca de 20 por cento nas encomendas, mas em momento algum deixámos de fazer face à responsabilidade de assegurar o abastecimento alimentar e de ter produtos essenciais às nossas lojas", explica Luís Cruz, diretor de operações de logística da Sonae MC, em entrevista à Lusa.
Há cinco anos a percorrer este espaço e os dos outros sete centros de distribuição do grupo, Luís Cruz reconhece o "momento excecional" imposto pelo novo coronavírus na rotina do país e os desafios que colocou aos supermercados.
Entre o aumento da procura criado pela quarentena e as restrições de acesso dos clientes, o diretor relativiza eventuais ruturas de 'stocks' e enfatiza o "abastecimento regular" das lojas.
"Globalmente, acho que a resposta da grande distribuição foi extremamente positiva, porque houve uma taxa de sucesso enorme no abastecimento a todo o retalho nacional. Relativamente à logística da Sonae MC e às nossas lojas alimentares, acho que conseguimos manter uma performance de abastecimento e níveis de 'stock' nas nossas lojas muito bons", defende.
Por corredores sem fim, o trânsito de empilhadoras flui sem hesitações ou desorientações. Cerca de 700 funcionários de 20 nacionalidades diferentes operam neste centro (além da ajuda de alguns robôs), como se fossem abelhas numa colmeia. E tudo parece seguir o ritmo normal, a não ser as alterações introduzidas pela covid-19.
"Tivemos de garantir a confiança, a segurança e o bem-estar das nossas equipas nos seus locais de trabalho: informá-los muito bem sobre aquilo que é a covid-19 e qual o efeito da pandemia, assim como as medidas que podem reduzir esse risco -- a nível pessoal, com as suas medidas de autoproteção, como também as medidas de proteção coletiva", sublinha Luís Cruz.
De inúmeros recipientes de gel desinfetante a diversos pontos de informação bilingue (português e inglês) espalhados pela unidade, o alerta causado pelo coronavírus SARS-CoV-2 parece omnipresente.
A trabalhar há 15 anos neste centro de distribuição, Mário Correia assume que os "primeiros dias foram muito assustadores" e que "custou bastante" alterar hábitos de sempre, mas garante seguir "à risca" as orientações da empresa e da Direção-Geral da Saúde.
"O primeiro sentimento é de preocupação: 'O que é que me vai acontecer em mais um dia de trabalho?' Mas, ao mesmo tempo, quando chegamos aqui, eu, no meu caso, sinto-me seguro, preparado e determinado a cumprir a minha missão. Não podemos parar e temos de fazer com que os portugueses tenham os bens essenciais em casa. Enquanto estiver seguro no meu local de trabalho, vou estar tranquilo", declara,
Uma tranquilidade partilhada pela colega Paula Faria, colaboradora neste centro de distribuição há já 19 anos, e que vê esta pandemia como "apenas mais uma prova de fogo".
Sem ver "necessidade de estar em pânico" ou de ir a correr às prateleiras dos supermercados, a trabalhadora admite ter interiorizado rapidamente a importância de contrariar o apelo nacional para ficar em casa.
"Tenho um filho adolescente que está naquela idade em que já pergunta tudo, mas ao mesmo tempo compreende tudo. Vê as notícias, sabe o que se passa e compreende que existem pessoas que têm de estar na linha da frente para que não falte nada. Para ele poder ter comida na mesa todos os dias, alguém tem de lá estar para fazer chegar às lojas e a mãe é uma dessas pessoas", resume Paula Faria.
Até agora, segundo Luís Cruz, "nenhum funcionário está contaminado" com a covid-19 entre os colaboradores da logística, embora alguns se encontrem em quarentena "por precaução", devido a casos entre familiares ou amigos.
A uma crise inédita de saúde pública neste século seguir-se-á mais uma crise económica, algo que o diretor de operações da Sonae MC já vislumbra, sem perder o otimismo.
"Os efeitos económicos começam a ser visíveis agora e no futuro serão ainda mais visíveis. Não sabendo ainda, concretamente, o efeito final dessa crise económica, antevejo -- como em todas as crises anteriores -- que nós, enquanto organização e enquanto país, iremos encontrar as melhores formas de ultrapassar as repercussões daquilo que estamos a viver".
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais 505 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 23.000. Em Portugal, registaram-se já 60 mortes e 3.544 infeções confirmadas, segundo o balanço feito quinta-feira pela Direção-Geral da Saúde.