As ações da Shandong Dawn Polymer Co Ltd encerraram hoje a valer 36,88 yuan (4,7 euros), na bolsa de Shenzhen. Em 23 de janeiro, quando o Governo chinês colocou a cidade de Wuhan sob quarentena, reconhecendo a rápida propagação da Covid-19, as ações estavam a ser negociadas a 11,46 yuan (1,4 euro).
As ações da Dawn Polymer, com sede em Shandong, província do nordeste chinês, chegaram a valorizar até 417%, quando atingiram os 59 yuan por título (7,5 euros), em 9 de março, registando a seguir uma correção.
A crise de saúde pública, que começou em Wuhan, alastrou-se, entretanto, à Europa e aos Estados Unidos, resultando numa escassez global de máscaras cirúrgicas, à medida que os hospitais lidam com a carência de material de proteção para funcionários de saúde e o público em geral.
Os fabricantes chineses estão assim a embarcar na lucrativa produção de máscaras e equipamento médico para atender à explosão na procura mundial, face a uma pandemia que começou no país.
O valor da posição acionista de Yu Xiaoning, o fundador da Dawn Polymer, subiu mais de 13,5 mil milhões de yuan (1,7 mil milhões de euros), até ao dia 9 de março, segundo os últimos resultados divulgados pela empresa.
A Dawn Polymer foi fundada em 2002 e começou a aperfeiçoar o fabrico de tecidos e materiais como polipropileno, usado no filtro de partículas, durante a crise da pneumonia atípica, ou síndrome respiratória aguda grave (SARS), um outro coronavírus com origem na China.
"Devido à SARS, nesse ano passámos de produzir uma série de variedades de tecidos para nos focarmos num produto chave", apontou Yu, numa entrevista recente à revista Chinese Entrepreneurs.
"Após 17 anos de experiência, convertemo-nos na fabricante nacional líder em termos de tecnologia e produção", disse.
Segundo a unidade de investigação Hurun Report, considerada a Forbes chinesa, Yu tem um património pessoal avaliado em 3,6 mil milhões de yuan (4,6 mil milhões de euros).
Várias outras empresas do país começaram também recentemente a produzir máscaras, convertendo as suas fábricas em unidades de produção de máscaras respiratórias, incluindo a gigante petrolífera Sinopec.
A China fabrica metade das máscaras no mundo, incluindo as de categoria FPP3, que têm o nível mais alto de proteção respiratória, e cruciais para os funcionários de saúde que tratam infetados pelo novo coronavírus.
Compras e doações feitas quando a epidemia estava restrita à China permitiram ainda ao país concentrar grande parte do abastecimento mundial.
A venda e doação de equipamento médico pelas autoridades chinesas a países estrangeiros, numa altura em que a pandemia mata milhares de pessoas e paralisa cidades inteiras, servem agora como instrumento de propaganda para o regime chinês.
Jornais e cadeias televisivas por todo o mundo têm reproduzido imagens de aviões a transportar doações de equipamento médico ou especialistas chineses a desembarcarem em países estrangeiros para ajudarem no combate à epidemia, sempre acompanhados da bandeira da China.
As imagens são registadas pelos órgãos oficiais de Pequim, que nos últimos anos concluíram acordos para partilha de conteúdo com centenas de meios de comunicação por todo o mundo, ao mesmo tempo que as autoridades chinesas expulsam jornalistas estrangeiros do país num número inédito ou dificultam ao máximo o seu trabalho.
Esta semana, Josep Borrell, Alto Representante da União Europeia para a Política Externa fez um alerta contra a "política de generosidade" da China, que identificou como uma "luta por influência" e uma "batalha global pelo domínio da narrativa".
"Na batalha das narrativas, temos visto também tentativas de desacreditar a União Europeia e alguns casos em que europeus foram estigmatizados como se fossem todos portadores do vírus", disse.