Estas são algumas das conclusões da investigação que a organização não governamental (ONG) realizou em Espanha sobre a situação das famílias de origem migrante durante o confinamento, uma análise que é "especialmente preocupante", uma vez que quase 30% dessas famílias perderam o emprego permanentemente e uma em cada cinco teve um corte salarial definitivo.
O estudo está enquadrado na campanha #QueNadieQuedeAtrás (Ninguém fica para trás, em castelhano), que a ONG lançou para denunciar "a falta de compromisso político" com as famílias em situação de pobreza durante a pandemia e exigir dos governos e partidos políticos uma maior proteção aos grupos mais vulneráveis da população.
A sondagem on-line foi realizada a mais de 1.800 crianças e suas famílias em toda a Espanha para descobrir a sua situação económica e perceber como o encerramento das escolas durante o confinamento as afetou.
Os resultados mostram que mais de dois terços (66%) das famílias de origem migrante estão em situação vulnerável, o que representa o dobro da generalidade das famílias espanholas.
As famílias com pais de origem migrante foram severamente afetadas pela crise, já que se dedicavam sobretudo a atividades pouco qualificadas, informais, a empregos temporários ou a subemprego.
Segundo diretora de políticas de conscientização e infância da organização, Catalina Perazzo, a crise da covid-19 aumentou as desigualdades que já existiam, já que a Espanha era o segundo país da União Europeia com a maior taxa de desemprego entre a população migrante.
Mais da metade dessas famílias teve de cortar os seus gastos com a alimentação ou atrasar os pagamentos do aluguer das casas onde vivem.
Além disso, cerca de 40% dessas famílias tiveram de pedir ajuda financeira a amigos ou familiares ou pedir comida durante o confinamento: Entre a a população geral espanhol, essa percentagem rondou os 20%, ou seja, metade.
O tipo de alimentação das famílias migrantes também é, agora, pior (20%) ou muito pior (2,6%) do que antes da pandemia.
Relativamente à educação dos mais jovens, o estudo concluiu que três em cada 10 famílias migrantes não têm acesso à Internet ou não têm boas ligações, e quase 36% das crianças usam os telemóveis para estudar porque a maioria não tem computador próprio.
"O abismo educativo aumentou. Desde o início do confinamento, as crianças em situação de pobreza têm maior risco de 'chumbar' ou mesmo abandonar a escola".
Face a estas conclusões, a Save the Children propõe que as medidas adotadas para a recuperação da economia, como a existência de um rendimento mínimo ou os abonos por cada filho a cargo, incluam todos os lares em situação vulnerável, independentemente da sua situação administrativa, sendo o critério o facto de a família ter residência efetiva há pelo menos um ano no país.
A organização considera importante a adoção e o financiamento de um novo Plano Estratégico de Cidadania e Imigração (PECI) para a reintegração no mercado de trabalho de pessoas de origem migrante que ficaram desempregadas, incluindo medidas de apoio a jovens.
A ONG propõe ainda medidas que permitam uma autorização de residência e trabalho através de contratos nos setores essenciais, o que ajudaria a mitigar os efeitos da crise nas famílias migrantes.