Pandemia. As previsões macroeconómicas e ações dos bancos centrais
A pandemia de covid-19 causou a maior crise económica mundial desde a Grande Depressão de 1929, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), e as instituições mundiais tomaram medidas sem precedentes para combater os seus efeitos económicos.
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Economia bancos centrais
No dia 15 de março, quatro dias após ter sido declarada pandemia - há 100 dias - alguns dos bancos centrais mundiais (zona euro, Estados Unidos, Japão, Reino Unido, Canadá e Suíça) anunciaram que iriam agir concertadamente com vista a aumentar o aprovisionamento dos mercados financeiros em ativos líquidos, face ao impacto da pandemia.
Aqui estão algumas das previsões macroeconómicas das instituições internacionais e medidas adotadas pelos principais bancos centrais a nível mundial:
PREVISÕES MACROECONÓMICAS
As medidas para combater a pandemia paralisaram setores inteiros da economia mundial e levaram o Fundo Monetário Internacional (FMI) a fazer previsões sem precedentes nos seus quase 75 anos: a economia mundial poderá cair 3% em 2020, segundo uma estimativa de março.
O Banco Mundial (BM) prevê uma recessão mundial de 5,2% em 2020, a mais profunda em oito décadas, "apesar das políticas sem precedentes" de mitigação do impacto da covid-19, segundo as Perspetivas Económicas Mundiais divulgadas em 08 de junho.
"Esta seria a recessão mundial mais profunda desde a II Guerra Mundial, e quase três vezes tão acentuada como a recessão global de 2009", caso as projeções se confirmem, pode ler-se no documento, que aponta para uma queda de quase 8% num cenário mais adverso, e superior a 3% num mais otimista.
Já a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) considera que a pandemia de covid-19 deixou um rasto de consequências económicas "desastrosas" das quais vai ser difícil recuperar e estima que a economia mundial registe uma recessão entre 6,0% e 7,6% em 2020.
No relatório com as previsões económicas mundiais divulgado no dia 10 de junho (Economic Outlook), a OCDE refere que a covid-19 colocou o mundo perante a maior crise sanitária e económica desde a Segunda Guerra Mundial, criando disrupções nos sistemas de saúde e no mercado de trabalho, e "uma extraordinária incerteza".
BANCO CENTRAL EUROPEU
Até agora, o BCE deixou as suas taxas de juro inalteradas, mas para além da concessão de liquidez aos bancos, anunciou, em março, um programa de 750 mil milhões de euros de compra de dívida pública e privada a realizar até ao fim do ano para travar os efeitos económicos da pandemia.
Adicionalmente, em 04 de junho, o BCE anunciou que decidiu aumentar em 600 mil milhões de euros o volume do programa de compra de ativos de emergência (PEPP), destinado a limitar o impacto da crise causada pelo novo coronavírus.
O montante global deste programa que foi lançado em março passado ascende a 1,35 biliões de euros, indicou em comunicado o BCE, que também alargou a sua duração pelo menos até ao final de junho de 2021.
Inicialmente o programa previa a compra de 750 mil milhões de euros de dívida até ao final deste ano, uma medida destinada a apoiar a economia da zona euro.
Este programa junta-se ao programa de compra de ativos anteriormente em curso, lançados pelo anterior presidente do BCE, Mario Draghi.
RESERVA FEDERAL DOS ESTADOS UNIDOS
A Fed levou as taxas de juro ao intervalo entre 0,25% e 0%, mas o seu presidente, Jerome Powell, já sinalizou que a existência de taxas de juro negativas, por exemplo, na zona euro, não será transportada para os Estados Unidos, por não considerar uma estratégia adequada.
Inicialmente, a Reserva Federal e o Tesouro dos Estados Unidos lançaram medidas excecionais para aumentar a liquidez dos mercados financeiros no valor de mais de 1,2 biliões de dólares (1,1 biliões de euros).
Nas medidas de política monetária, a Fed anunciou que comprará títulos do Tesouro norte-americano no valor de 500 mil milhões de dólares, e ativos de garantia hipotecária no valor de 200 mil milhões, de forma a dar liquidez ao sistema financeiro.
A Fed lançou também um novo programa de 300 mil milhões de dólares (mais de 278 mil milhões de euros) para ajudas destinadas a "apoiar o fluxo de crédito para empregadores, consumidores e empresas".
A instituição liderada por Jerome Powell acabou mesmo por anunciar a compra sem limites de títulos do Tesouro e garantidos por hipotecas.
Em 09 de abril, foi anunciado um programa de empréstimos de 2,3 biliões de dólares destinados a empresas e a comunidades locais.
BANCO DE INGLATERRA
O Banco de Inglaterra anunciou em 19 de março uma descida nas taxas de juro de 0,25% para 0,1%, um mínimo histórico e um aumento do programa de estímulos para 645.000 milhões de libras (700.000 milhões de euros).
Após outras medidas anunciadas no dia 11 de março, o Banco de Inglaterra aprovou por unanimidade um corte de 15 pontos base nas taxas de juro, para um mínimo histórico de 0,1%.
Foi também decidido aumentar em 200.000 milhões de libras (217.000 milhões de euros) a dotação do programa de compra de dívida pública e privada, fixando-o em 645.000 milhões de libras.
No dia 11, o Banco de Inglaterra já tinha aprovado uma redução das taxas de juro de 0,75% para 0,25% (o nível mais baixo desde 2016), numa ação coordenada com o Governo que revelou um programa de estímulos de 30.000 milhões de libras (quase 33.000 milhões de euros) para facilitar a liquidez a empresas e famílias.
Em 09 de abril, o Governo britânico chegou a um acordo com o banco central para receber fundos diretamente da entidade, em vez de os colocar no mercado de dívida, de forma a receber liquidez de emergência de forma direta.
A possibilidade de retirar fundos diretamente do banco central dá margem de manobra ao Governo, dada a prevista queda na receita de impostos devido à paralisação da economia e da volatilidade dos mercados financeiros e de dívida.
BANCO DO JAPÃO
No dia 13 de março, o Banco do Japão anunciou que iria injetar quase 6 mil milhões de euros (cerca de 700.000 milhões de ienes) para 'acalmar' os mercados, através da compra de títulos de dívida soberanos.
Três dias depois, a instituição manteve as taxas de juro nos -0,1%, ampliando o programa de compra de dívida soberana e de outros instrumentos financeiros a um ritmo de cerca de 675 mil milhões de euros anuais (80 biliões de ienes).
EM abril, o banco decidiu pela compra ilimitada de títulos de dívida pública, bem como o aumento do teto para a compra de obrigações de outros tipos, podendo ir agora até aos 20 biliões de ienes (172,03 mil milhões de euros), cerca de cinco vezes mais.
Em 16 de junho, o Banco do Japão decidiu aumentar a quantia do seu programa de créditos às empresas, até aos 110 biliões de ienes (901.000 milhões de euros) o programa de créditos a custo zero e outras medidas de liquidez para as empresas, acima dos 75 biliões de ienes (615 mil milhões de euros) destinados a esse fim em maio.
O banco central japonês leva a cabo, desde 2013, um programa de compra de títulos de dívida soberanos, com o objetivo que o rendimento dos títulos seja próximo do zero ao longo de dez anos, no quadro da sua estratégia de flexibilização monetária.
BANCO CENTRAL DA CHINA
Depois de injetar 100 mil milhões de euros na economia em janeiro, o banco injetou cerca de 26 mil milhões em fevereiro, e de ter baixado a taxa de juro base dos credores em 0,1 ponto percentual, reduzindo a taxa referencial para créditos de 4,15% para 4,05%, visando aliviar o impacto da pandemia.
No início de fevereiro, o banco central recorreu também a recompra reversa ("repos"), uma das suas principais ferramentas de injeção de liquidez a curto prazo, com juros de 2,4% para operações de sete dias.
Pequim lançou ainda dezenas de outras medidas para apoiar as empresas mais afetadas pela epidemia, incluindo empréstimos no total de 300 mil milhões de yuan (quase 40 mil milhões de euros) para as grandes empresas e alguns bancos das províncias mais atingidas, incluindo Hubei, centro do surto.
O Banco Popular da China (designação oficial) anunciou também, em abril, o corte em um ponto percentual no coeficiente de caixa - valor de reservas que os bancos não podem emprestar - para os pequenos e médios bancos do país.
No total, o banco central chinês espera libertar até 400.000 milhões de yuans (52.179 milhões de euros) em liquidez a longo prazo para o sistema bancário.
EM 15 de abril, decidiu reduzir em 20 pontos base, de 3,15% para 2,95%, a taxa de juros da sua principal ferramenta de empréstimos aos bancos, o maior corte de sempre.
O corte nas taxas de serviços de empréstimos de médio prazo (MLF) implica uma injeção de 100 mil milhões de yuan (12.914 milhões de euros) no sistema financeiro, com vencimento de um ano.
Já no dia 20 de abril, a instituição decidiu pela redução de 20 pontos base na taxa de juro diretora, para estimular a economia, que registou no primeiro trimestre do ano a maior contração desde 1970.
O Banco Popular da China reduziu a taxa de referência para empréstimos a um ano para 3,85%, o mínimo desde que há registo, a partir de 4,05%, em fevereiro e março, e 4,15%, nos três meses anteriores.
Em 29 de maio, foi executada a maior injeção de liquidez por parte da instituição desde meados de fevereiro, numa operação estimada em 300.000 milhões de yuan (37.797 milhões de euros).
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