"Sendo crítico em alguns aspetos do plano (...), uma melhor e mais moderna administração pública traz seguramente desburocratização, um alívio a nível de burocracia, e isso dá facilidade à envolvente empresarial e, nesse sentido, acompanhamos [o Governo]", afirmou António Saraiva, em Lisboa, após o plenário do Conselho Económico e Social (CES) sobre o Plano de Recuperação e Resiliência, onde esteve o primeiro-ministro, António Costa.
António Saraiva disse que as verbas europeias vão permitir ter "o dobro" por ano, cerca de 6 mil milhões de euros anuais, sublinhando que "é necessário que o país acerte nas medidas concretas para que o fundo não seja atirar dinheiro para os problemas mas uma efetiva resolução dos problemas".
O presidente da confederação empresarial considerou, no entanto, que as empresas têm de estar "fortalecidas e robustas" para o "desafio" do Plano de Recuperação e Resiliência do Governo.
"Temos aqui um desafio porque este combate far-se-á com as pessoas e com as empresas e é o estado das empresas e as suas condições para assumirmos este desafio que importa acautelar", defendeu o presidente da CIP.
"Isso exige serem capitalizadas, recapitalizadas para ficarem protegidas em relação a outras empresas europeias", sustentou, acrescentando que as empresas têm de estar "robustas e fortalecidas e por isso fusões e concentrações, capitalização e recapitalização do tecido empresarial é fundamental."
Já o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes, disse que o plano do Governo "é muito vago na parte que se aplica às empresas, nomeadamente em termos do investimento no digital" e defendeu que existe "uma clara desproporção a favor dos serviços públicos".
"Pensamos que seria necessário um investimento maior nas empresas, nomeadamente na qualificação, mas está muito disperso o que se aplica a cada uma das áreas", afirmou Vieira Lopes.
Por sua vez, a secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, disse que "é preciso ver" como vão ser aplicados os fundos europeus, defendendo que é necessário "acabar com o modelo dos baixos salários" e da precariedade.
Debatemos esta tarde, com o Plenário do Conselho Económico e Social, o Plano de Recuperação e Resiliência. Trabalhamos na visão estratégica para os próximos dez anos. O debate continuará amanhã na AR e na próxima semana com o Conselho de Concertação Territorial. #prrpt pic.twitter.com/uAZIA5wzCA
— António Costa (@antoniocostapm) September 22, 2020
O esboço do Plano de Recuperação e Resiliência prevê um investimento de 12,9 mil milhões de euros em resiliência e transição climática e digital, sendo a maior fatia, 3.200 milhões de euros, destinada a saúde e habitação.
Na segunda-feira, na sequência das reuniões com os partidos com representação parlamentar em São Bento, a Iniciativa Liberal e o CDS criticaram a fatia de investimentos que o Governo tenciona fazer na administração pública, e também o presidente do PSD, Rui Rio, admitiu que o Governo vai investir nas empresas "provavelmente menos" do que se desejaria.
As críticas foram consideradas "absurdas" pelo primeiro-ministro. "Não se caia nesse debate absurdo sobre se este Plano de Recuperação e Resiliência deve investir no Estado ou nas empresas. Este plano tem de investir nas pessoas e nas empresas. E para servir melhor as pessoas e as empresas precisamos de um Estado mais robusto e eficiente", sustentou António Costa na abertura das "jornadas de trabalho" do Grupo Parlamentar do PS, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.