Ferraz da Costa quer estrutura para controlar milhões de Bruxelas

O empresário Pedro Ferraz da Costa defende a criação de uma estrutura com representantes dos partidos com assento parlamentar para controlar a aplicação do dinheiro que Portugal receberá no âmbito Plano de Recuperação e Resiliência da União Europeia.

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Lusa
07/10/2020 09:30 ‧ 07/10/2020 por Lusa

Economia

Ferraz da Costa

 

"Tenho estado à espera de que o governo anuncie a criação de uma estrutura qualquer de 'governance' para a administração desse dinheiro", diz o líder do Fórum para a Competitividade em entrevista à agência Lusa.

A criação desta estrutura é "fundamental", sublinha o mesmo responsável, defendendo ainda que "os partidos com assento na Assembleia da República deviam estar representados" nessa mesma estrutura.

Para Ferraz da Costa a informação que viesse a ser prestada a esta estrutura de 'governance' devia ser "pública e devia estar à disposição da comunicação social" para que pudesse haver o "escrutínio das opções, de como é que foi feito e de quanto custou".

No âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência da União Europeia Portugal irá receber, como subvenções diretas, 15,3 mil milhões de euros, tendo o Governo já dito que enquanto a situação financeira do país não o permitir, apenas irá aproveitar estas verbas e que irá prescindir das verbas existentes no Fundo, mas apenas acessíveis através de empréstimos aos estados-membros.

A importância deste controlo é ainda mais fundamental, segundo o presidente do Fórum para a Competitividade, por Portugal aparecer mal classificado em termos de corrupção nos relatórios europeus.

"Não é com certeza por acaso que nós no último relatório da União Europeia sobre a corrupção aparecemos muito mal", salienta.

Na entrevista à Lusa o presidente do Fórum para a Competitividade abordou ainda outros temas:

OE2021: "Não me passa pela cabeça que Rui Rio vá aprovar o Orçamento"

Pedro Ferraz da Costa diz que as ameaças de crise política em torno da proposta de Orçamento do Estado para 2021 (OE2021) não são mais do que uma "negociação mais dura"

Para o líder do Fórum para a Competitividade até seria positivo que a proposta que o Governo vai apresentar fosse chumbada de forma a que tivesse de apresentar outra, mas dessa vez, negociada com o PSD.

"Aliás, não me passa pela cabeça que o Dr. Rui Rio vá aprovar o orçamento tal como ele anda a ser negociado com o Partido Comunista e com o Bloco de Esquerda", conclui.

"Temos uma Direção-Geral da Saúde delirante"

Pedro Ferraz da Costa é muito crítico em relação à Direção-geral da Saúde (DGS) quando avalia as recomendações que esta faz para aplicar nas empresas.

"Neste momento temos uma DGS delirante. A fazer relatórios de 40 páginas para os restaurantes e para as escolas. São coisas também inconcebíveis", afirmou.

Para o líder do Fórum para a Competitividade "nos restaurantes" e em muitas outras atividades, os empresários têm medo de ver as suas atividades fechadas pelas autoridades.

"Devíamos ter feito um balanço da primeira vaga [da pandemia], defende o empresário, adiantando que esse teria sido o período ideal para decidir o que fazer na segunda vaga e assim "evitar fazer na segunda os mesmos disparates que fizemos da primeira".

O líder do Fórum diz que o primeiro-ministro é, talvez "o único membro do Governo, que diz que não quer fazer um confinamento", mas Ferraz da Costa está convicto que "as autoridades de saúde gostavam imenso de voltar a tomar conta de todos outra vez nesse confinamento estrito".

"Acho que estamos a transmitir para o exterior uma imagem que é muito pior do que a realidade", conclui.

Salário mínimo: "Empresas vão ter dificuldade em manter a tripulação toda"

O líder do Fórum para a Competitividade está contra a subida do Salário Mínimo Nacional (SMS) e defende que era preciso ter uma economia competitiva que permitisse subir os salários todos.

Mas neste momento, assegura Pedro Ferraz da Costa, a subida do salário mínimo é "muito perigosa", porque "as empresas vão ter muita dificuldade em manter a tripulação toda".

Segundo o empresário, vai registar-se "uma quebra entre os 10 e os 20% de atividade", haverá "muitos sítios onde se vai trabalhar muito menos" e "as pessoas menos qualificadas vão ser os primeiros a sair". Neste sentido, prossegue, "quanto mais caras forem, mais depressa saem. Quanto mais elevado for o salário de admissão em outro emprego mais dificuldades vão ter a entrar. E há determinados trabalhos que depois deixam de ser possíveis fazer à medida que os custos forem subindo porque nós temos pessoas muito pouco qualificadas", assegura.

Ferraz da Costa sublinha que este é um momento especial e que a subida do salário mínimo nos últimos anos não pode ser comparada com a atualidade.

"Havia falta de gente para trabalhar. Nessa altura a subida do salário mínimo acompanhou a subida que estava a acontecer no mercado e a subida que estava a acontecer no mercado aconteceu também nos escalões mais elevados. Mas o que aconteceu é que nos salários mais elevados uma grande parte do dinheiro que as empresas pagaram a mais foi para a Segurança Social e para os impostos e só uma parte pequena é que foi para as pessoas", sublinha o empresário.

Em Portugal "temos dificuldades de retenção de pessoas mais qualificadas por causa dos salários que pagamos", e numa perspetiva económica "temos problemas mais graves na classe média do que nos níveis mais baixos", defendeu.

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