Questionado sobre as três principais ações prioritárias para os países africanos recuperarem da crise económica agravada pela pandemia de covid-19, Selassie elencou o controlo da propagação do vírus, a definição de políticas macroeconómicas adequadas e o reforço do apoio da comunidade internacional como decisivas para superar este desafio.
Na entrevista à Lusa concedida por videoconferência a partir de Washington, a sede do FMI, o diretor do departamento africano disse que é "absolutamente essencial que a curto prazo o foco esteja no controlo da pandemia e fazer com que o peso da doença seja tão baixo quanto possível e que haja o maior número possível de pessoas vacinadas".
Sobre o processo de vacinação em África, Selassie defendeu que "a comunidade internacional deve garantir um acesso equitativo e acessível" e questionou "porque é que há só nove farmacêuticas a produzir a vacina, e não 900, dada a importância de acelerar a produção".
"A comunidade internacional tem de trabalhar em conjunto para encontrar recursos para comprar e distribuir as vacinas, mas também para as produzir", argumentou.
Os países, acrescentou, "têm de se preparar para distribuir as vacinas o mais rapidamente possível, por isso dedicar recursos a isto é extremamente importante".
A segunda prioridade, continuou, passa pela definição de políticas que favoreçam um regresso rápido ao crescimento económico: "Precisamos de ousadia. As crises trazem mudanças maciças, por exemplo no aumento do comércio digital, ou nas comunicações. Por isso, estas oportunidades têm de ser aproveitadas pelos governos e devem lidar com as dificuldades, colocando muito foco na mobilização das receitas internas", defendeu.
"É imperativo ter, a médio prazo, uma âncora orientadora de políticas que equilibrem a necessidade de investir nas economias e que, ao mesmo tempo, consigam garantir a sustentabilidade da dívida", disse.
A terceira área prioritária de atuação dos países para recuperarem as economias "tem a ver com o apoio forte e robusto da comunidade internacional" aos países africanos.
"Os Direitos Especiais de Saque são uma das componentes, e o financiamento concessional será muito importante para sustentar as reformas que precisam de ser feitas nos países", afirmou o diretor do departamento africano.
"Antes da crise da pandemia os países ficaram muito dependentes deste endividamento relativamente caro, usaram o financiamento comercial para financiarem os gastos necessários ao desenvolvimento, mas agora, com a pressão que enfrentam devido à pandemia, precisam de mais acesso a financiamento concessional para engendrar uma recuperação económica mais forte", defendeu Abebe Selassie.
Questionado sobre a atualização das previsões para o crescimento económico em África, que serão apresentadas nos próximos Encontros Anuais, em abril, Selassie escusou-se a dizer se a previsão de 3,2% de crescimento para a África subsaariana será revista em baixa ou em alta, apontando que houve fatores favoráveis e desfavoráveis.
"Nos últimos meses, têm havido dados económicos positivos e outros com aspetos menos positivos. Entre os negativos está o aumento agressivo da taxa de infeções por covid-19 entre dezembro e janeiro, como noutras partes do mundo, e temos visto uma significativa redução da atividade económica, nomeadamente na África Austral, mas também noutros países, o que vai pesar no crescimento económico deste ano", disse Selassie.
Pelo contrário, concluiu, "a parte positiva é o aumento dos preços das matérias-primas, e alguns indicadores económicos positivos no último trimestre, que são mais fortes do que aquilo que tínhamos previsto".
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