A pandemia e as suas consequências na economia poderão levar a um "adiamento das intenções de retorno" dos emigrantes portugueses mais qualificados, com exceção daqueles que estão no Reino Unido, face ao Brexit e "sobretudo à falta de um acordo pós-Brexit", disse à agência Lusa o investigador do CES Pedro Góis, co-coordenador de um estudo sobre "expectativas de regressos de emigrantes portugueses", que juntou a Universidade de Coimbra e o Instituto Politécnico de Leiria.
"A economia ajudaria muito, mas não estamos à espera, até pela estrutura do Plano de Resiliência, de um forte investimento industrial que crie novas áreas que permitam atrair quadros portugueses, cientistas e trabalhadores altamente qualificados", constatou.
O estudo, que contou com um inquérito entre maio e novembro de 2020, notou que "a maioria dos inquiridos afirmaram que a sua intenção de regresso não foi afetada pela pandemia em curso", mas os investigadores salientaram que o inquérito foi realizado "num momento em que os efeitos da crise sanitária ainda não se encontravam perfeitamente visíveis e em que se tendia a perspetivar o regresso, a curto prazo, a uma situação de normalidade".
"A situação vivida a este respeito já tinha tido, contudo, reflexos, ainda que pouco expressivos, na situação laboral e económica dos inquiridos. A suspensão da atividade laboral constitui o efeito específico mais assinalado pelos inquiridos (15%), seguindo-se as situações de desemprego (2%)", concluíram os investigadores, notando que 34% dos inquiridos "registaram uma diminuição do seu rendimento e/ou dos rendimentos da sua família, 24% dos quais de forma substancial".
O estudo, com 2.349 respostas válidas, centrou-se em 1.126 inquiridos, que são residentes no Reino Unido, França, Suíça e Luxemburgo.
Segundo as conclusões do projeto, 44,6% dos inquiridos têm a expectativa de regresso a Portugal, contra 27,7% indecisos e 24,7% com intenções de permanecer no país onde estão.
Entre os quatro países analisados, são os residentes na Suíça que manifestam uma maior intenção de regresso (52,6%) e os do Reino Unido os que mostram mais vontade em permanecer (28,1%).
Cerca de 40% dos inquiridos ainda não tinha definido claramente o momento do regresso, sendo que somente um quinto o prevê fazer no curto prazo, concluiu o estudo.
A vida familiar, saudades ou dimensões intrínsecas ao país foram os fatores mais relevantes indicados nas intenções de regresso.
Já para quem não pretende retornar a Portugal, as principais razões centram-se com motivos de natureza profissional, rendimento ou oportunidades de progressão profissional.
Para Pedro Góis, a pandemia poderá influenciar de diferentes formas os emigrantes portugueses, dependendo da sua qualificação, da sua situação laboral, do contexto económico do país onde está inserido face à crise e do de Portugal, onde se prevê uma recuperação mais lenta, face ao peso que o turismo tinha na economia e à forma como este foi afetado.
"É mais complexo do que poderíamos pensar. Se pensarmos em posições com baixas qualificações, com salários médios baixos para o poder de compra, se calhar é mais fácil regressar, consumir essa poupança em Portugal, do que consumir essa poupança no país de destino", notou.
No entanto, num momento em que as migrações pararam e que se prevê um outro tipo de controlo no futuro, isso também "pode influenciar a decisão de portugueses, por exemplo no Luxemburgo ou na Suíça, que percebendo isso não vão sair para não perderem o seu posto".
Porém, vincou Pedro Góis, boa parte das decisões do regresso "deve-se mais a razões menos racionais, como a família ou as saudades do país", realçando que os emigrantes menos qualificados tendem a racionalizar menos a sua decisão.
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