"A liquidez é a primeira necessidade dos países africanos, e mais do que anunciar a nova alocação de Direitos Especiais de Saque (DES), o importante mesmo é libertá-los", disse Vera Songwe durante um debate sobre a 'Armadilha da Dívida', que decorreu hoje em Washington no âmbito dos Encontros da Primavera do FMI e do Banco Mundial.
No debate, com a participação da diretora executiva do FMI, Kristalina Giorgieva, e do presidente do King's College de Londres, Mohamed El-Erian, moderados pelo comentador do Financial Times Martin Wolf, Vera Swonge sublinhou a discrepância entre os apoios dos países desenvolvidos e as circunstâncias dos países africanos.
"A Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) foi boa, deu cinco mil milhões de dólares [4,2 mil milhões de euros] em alívio da dívida, mas foi a única liquidez de que estes países beneficiaram, além do apoio dos bancos multilaterais, e isso não chega", acrescentou a responsável, salientando que mais do que dívida, o que isto representa é "mais 170 milhões de pessoas a caírem na pobreza, que em África significa que caem mais fundo e durante mais tempo".
Questionada sobre o que gostava que acontecesse no imediato para ajudar os países em maiores dificuldades, Vera Songwe resumiu: "primeiro, libertar os DES ontem, depois mais transparência, em terceiro lugar envolvimento do setor privado, não apenas nas reestruturações, mas também no acesso ao mercado, e por último a recapitalização dos bancos multilaterais".
A responsável lembrou que em 2010 a dívida média dos países africanos rondava os 40%, tendo descido nos anos seguintes para a casa dos 30% "e agora está nos 65%, acima do limiar dos 60% definidos pelo FMI como limite máximo" para o rácio da dívida face ao Produto Interno Bruto.
Falta, criticou, "o sentido de urgência que foi visto quando as economias desenvolvidas libertaram 7 biliões de dólares [6,9 biliões de euros] para ajudar as economias no princípio da crise da pandemia", e quanto menor for o crescimento, maior é a dívida e maior será a armadilha da dívida que impede o crescimento económico e a libertação de recursos para financiar o desenvolvimento.
No debate, Vera Songwe defendeu a importância de juntar todos os credores para uma abordagem abrangente do problema da dívida pública em África, que ameaça impedir os decisores políticos de financiarem o combate à pandemia e a recuperação das economias, que registaram uma recessão média de 1,9% no ano passado e crescerão 3,4% este ano, bem abaixo dos 6% previsto pelo FMI para a economia global.
"Os credores privados precisam de participar nas reuniões, é preciso recapitalizar os bancos de desenvolvimento multilateral e emprestar novos recursos, particularmente para os países de baixo rendimento [Low Income Countries, LIC na sigla em inglês], e não apenas reciclar os recursos atuais", concluiu a líder da UNECA, que é também sub-secretária-geral das Nações Unidas.
Leia Também: FMI: 'Aumento de capital' rende 17,7 mil milhões aos países pobres