"Um estudo sobre pobreza surpreendeu os investigadores, mostrando que uma parte significativa dos trabalhadores, sobretudo trabalhadores efetivos, está em situação de pobreza. Isto não nos surpreende, pois há muito que alertámos para esta situação, que é resultado do boicote patronal à contratação coletiva, que dura há anos", disse à agência Lusa, Andreia Araújo, da comissão Executiva da CGTP.
O estudo "Pobreza em Portugal -- Trajetos e Quotidianos", hoje divulgado, indica que um quinto da população portuguesa é pobre e a maior parte das pessoas em situação de pobreza trabalha, sendo que a maioria dos trabalhadores nessa condição tem vínculos laborais sem termo.
Segundo a dirigente da CGTP, as entidades patronais aproveitam-se da possibilidade de poder fazer caducar os contratos coletivos de trabalho para bloquear a negociação, congelando salários e carreiras.
"Aqui está o resultado: os trabalhadores não têm aumentos salariais, a não ser o do salário mínimo, que é obrigatório, e estão cada vez mais pobres porque os salários são em geral muito baixos", disse.
Andreia Araújo salientou que esta política de baixos salários tem repercussões nas situações de doença e na velhice, contribuindo para aumentar a pobreza, nomeadamente dos reformados, que "têm pensões muito baixas, porque tiveram salários muito baixos".
"Mas isto não é uma inevitabilidade, estas pessoas não têm de ser pobres toda a vida. Se as reivindicações da CGTP tivessem resposta não teríamos esta situação", disse.
A responsável da CGTP considerou que a valorização das carreiras e das profissões, o aumento de 90 euros para todos e um salário mínimo de 850 euros ajudariam a reduzir a pobreza.
"Sabemos que 90 euros de aumento não fariam milagres, mas melhorariam a situação de muitos trabalhadores, assim como um salário mínimo de 850 euros, pois há um número muito elevado de trabalhadores com a remuneração mínima", disse a sindicalista.
O estudo "Pobreza em Portugal -- Trajetos e Quotidianos", promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e coordenado por Fernando Diogo, professor de Sociologia na Universidade dos Açores, resulta da análise dos últimos dados disponíveis do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR), relativos a 2018, aliada a uma análise qualitativa de "91 entrevistas aprofundadas por todo o país".
Em declarações à agência Lusa, Fernando Diogo salientou que o estudo identificou "quatro perfis de pobreza em Portugal, que são uma novidade: os reformados (27,5%), os precários (26,6%), os desempregados (13%) e os trabalhadores (32,9%)".
Tendo em conta que mais de metade das pessoas em situação de pobreza trabalha, a análise concluiu que "ter um emprego seguro não é suficiente para sair de uma situação de pobreza".
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