"Por muito que seja cómodo publicamente colarem-me às perdas do Novo Banco e às perdas dos contribuintes portugueses, tudo isso não passa de uma tentativa de alterar a realidade: não tive nenhum perdão de capital, nem nenhum perdão de juros. Nem eu, Luís Filipe Vieira, nem o grupo Promovalor", disse hoje na Assembleia da República.
O também presidente do Benfica está a ser ouvido pelos deputados da Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, no âmbito das audições realizadas aos grandes devedores do banco.
"Não pedi perdões de dívida, nem perdão de juros, nem eles me foram dados. É do conhecimento público que muitos empresários tiveram perdões de capital e de juros. Não foi o meu caso", reiterou Luís Filipe Vieira.
O presidente da Promovalor considerou ainda que "é muito fácil colocar o Luís Filipe Vieira como um grande devedor que não cumpriu" e "muito cómodo para muito boa gente colocar o presidente do Benfica como grande devedor da banca que não cumpriu".
Luís Filipe Vieira disse hoje parlamento que isso é cómodo "para os poderes políticos", para "a supervisão bancária" e "para uma certa sociedade que precisa de encontrar culpados".
"Cumpri com tudo o que me foi pedido. E mais: entreguei todos os ativos, não tive qualquer perdão de juros ou de capital, mantive o meu aval pessoal e ainda investi mais capital para ajudar na recuperação", disse o presidente da Promovalor.
"Digam uma, uma só, operação de reestruturação feita neste país com condições tão ou mais vantajosas para os bancos", acrescentou.
Recuando ao início do seu grupo empresarial, Luís Filipe Vieira disse que criou a Inland/Promovalor com 35 milhões de euros em capitais próprios.
"Não foi dinheiro dos bancos, foi património pessoal e das minhas empresas, fruto do meu trabalho e do trabalho de todos aqueles que me apoiaram nos mais de 30 anos que já levava como empresário", disse aos deputados.
Ao longo do seu percurso, Luís Filipe Vieira referiu que continuou a contar com o apoio das instituições financeiras, e não "por ser presidente do Sport Lisboa e Benfica", mas "naturalmente porque os projetos que eram apresentados mereciam uma análise positiva por parte do sistema bancário".
Segundo Luís Filipe Vieira, em 2011 o ativo do grupo Promovalor ultrapassava os 754 milhões de euros, e entre 2006 e 2017 pagou mais de 161 milhões de euros em encargos financeiros ao Novo Banco.
"Não houve nenhum perdão, não houve nenhum facilitismo para com o Grupo Promovalor", defendeu perante os deputados, acrescentando que não gastou nenhum dinheiro dos financiamentos obtidos "nem em iates, nem em aviões, nem em mordomias".
"Não desviei esse dinheiro para contas pessoais, seja aqui em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo", disse, acrescentando que o dinheiro foi aplicado nos projetos imobiliários das suas empresas.
Com a queda do BES, em 2014, a Promovalor "procurou encontrar uma forma de cumprir com as suas obrigações, em particular com o Novo Banco", de acordo com Luís Filipe Vieira.
Aí, as soluções encontradas "mereceram o acompanhamento e a autorização das entidades de supervisão do Novo Banco, nomeadamente do Fundo de Resolução", que tem sido chamado a cobrir as perdas do banco liderado por António Ramalho, com recurso a empréstimos do Tesouro público.
No decurso do trabalho, em 2017 a Promovalor "procedeu à entrega dos seus ativos para pagamento integral das suas dívidas", referiu Luís Filipe Vieira.
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