Em comunicado hoje divulgado, o presidente da APSTE, Pedro Magalhães, considera que "é inacreditável a permissividade concedida a alguns, um pouco por todas as regiões do país", quando os profissionais da cultura e do setor de eventos andam "há mais de um ano sem poder desenvolver a atividade, sob o pretexto de que concertos, peças de teatro, festivais (...) são um risco para a saúde pública."
Perante os acontecimentos dos últimos dias, relacionados com a vitória do Sporting na I Liga de futebol, em que "foram permitidas aglomerações a milhares de adeptos e muitos sem estarem devidamente protegidos contra os perigos da pandemia", Pedro Magalhães lança uma questão ao Governo: "Como classificaria aquele espetáculo a que tivemos oportunidade de assistir, sobretudo nas principais artérias de Lisboa, através de todas as televisões?".
O presidente da APSTE recorda o momento difícil que o setor da Cultura atravessa, com "pessoas sem trabalho, que perderam negócios de toda uma vida, inclusivamente a passar fome, exatamente devido às condicionantes trazidas pela pandemia e que tantas vezes serviram de alibi para as autoridades impedirem o normal desenvolvimento das atividades", lê-se no comunicado.
A APSTE considera que o seu setor de atividade, o da Cultura e de eventos, "tem sido um dos mais afetados por este tipo de decisões e continua a atravessar uma espécie de período probatório", em que os seus profissionais são "constantemente alvo de 'testes-piloto' extremamente rigorosos".
"Já o futebol, sobretudo depois de vermos as imagens dos últimos dias, parece viver numa realidade paralela, em que tudo é permitido, sem prejuízo do que daí possa advir", lamenta Pedro Magalhães.
Os "eventos teste" referidos pela APSTE fazem parte do processo de desconfinamento e servem para avaliar a exequibilidade dos espetáculos culturais com público.
Até ao momento, realizaram-se quatro eventos, entre os dias 29 de abril e 09 de maio: dois em Braga, com 400 espectadores cada, um Lisboa e outro em Coimbra, ambos com um público de mil pessoas; dois destes eventos foram com lugares sentados, outros dois, em pé.
Para a realização destes eventos, os espectadores não podiam pertencer a um dos grupos de risco definidos pela Direção-Geral da Saúde (DGS), nem ter estado infetados nos últimos 90 dias. Tiveram também de apresentar resultado negativo num teste à presença do SARS-CoV-2, no dia dos encontros.
Os resultados destes "eventos teste" estão ainda a ser avaliados pelas autoridades da saúde, para que seja feito um balanço global.
Na quarta-feira, a DGS, na sequência das celebrações da vitória do Sporting, que mobilizou milhares de pessoas nas ruas, muitas sem máscara, na noite anterior, aconselhou a redução de contactos, durante os próximos 14 dias, e a atenção a sintomas de covid-19, que possam surgir, a quem esteve envolvido nos festejos.
Em resposta à agência Lusa, a DGS disse ainda que, se houve momentos em que não foram respeitadas medidas de proteção contra a covid-19, a pessoa que os viveu deve fazer um teste entre o 5.º e o 10.º dia, a contar das celebrações.
A DGS considerou que os festejos associados à vitória do Sporting aumentaram a probabilidade de contacto entre as pessoas presentes, e aconselhou todos os que participaram a estarem atentos a sintomas como febre, tosse (agravada ou associada a dores de cabeça ou dores generalizadas do corpo), dificuldade respiratória ou perda total ou parcial do olfato ou do paladar, e que contactem o SNS24.
Na quarta-feira, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, disse que o Governo pretende retomar a próxima época com público nas bancadas dos recintos desportivos, e que está a "criar todas as condições" para que tal aconteça.
Os jogos da 34.ª e última jornada da I Liga, em 18 e 19 de maio, já vão poder contar com 10% da lotação dos estádios, aos quais apenas poderão aceder adeptos da equipa visitada que apresentem um teste de despiste à covid-19 com resultado negativo, segundo informação da Liga Portuguesa de Futebol Profissional.
Quanto aos incidentes da noite de terça para quarta-feira, que ocorreram sobretudo em Lisboa, João Paulo Rebelo disse que essa matéria "nada tem a ver com o desporto", antes com a Administração Interna.
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