O Banco Mundial refere que desde finais de 2019 o Líbano enfrenta desafios que incluem a sua maior crise económica e financeira em tempos de paz, os efeitos da pandemia de SARS-CoV-2 e os reflexos políticos e sociais da explosão no porto de Beirute, uma das maiores da história, em todo o mundo, e que destruiu uma parte da capital do país.
A crise tem vindo a agravar-se nos últimos meses devido aos conflitos entre grupos políticos rivais, que fazem tardar a formação de um novo Executivo, depois de o Governo de Hassan Diab ter apresentado a demissão na sequência da explosão do porto de Beirute, no dia 04 de agosto de 2020.
O incidente provocou a morte de 211 pessoas e seis mil feridos.
"As respostas dos líderes libaneses a todos estes desafios têm sido altamente inadequadas", considera o relatório do Banco Mundial.
"A crise económica e financeira ficará provavelmente no 'top 10', possivelmente no 'top 03', tratando-se de uma das crises mais graves, a nível global, desde o século XIX", refere o documento.
O relatório acrescenta que o Produto Interno Bruto (PIB) do país deve contrair 9,5% em 2021 depois de ter registado uma queda de 20,3% em 2020 e 6,7% no ano anterior.
O PIB caiu de quase 55 mil milhões de dólares em 2018 para 33 mil milhões de dólares em 2020, enquanto o PIB per capita caiu 40%.
"Tal contração, tão brutal, é normalmente associada a conflitos ou guerras", diz o Banco Mundial.
O Líbano tem sido dominado pela mesma elite política durante as últimas décadas, formada por antigos "senhores da guerra" ou ex-comandantes de milícias armadas do tempo da guerra civil.
Os níveis de corrupção aumentaram nas últimas décadas, "levando o país à beira da bancarrota".
Em março de 2020, o país não cumpriu os pagamentos da dívida externa pela primeira vez na história, após a moeda local se desvalorizar em 85%.
Dezenas de milhares de pessoas perderam o emprego e uma grande parte foi obrigada a emigrar por motivos económicos.
Quase metade da população do país -- de cinco milhões de pessoas - vive em situação de pobreza.
"O Líbano enfrenta uma grave depreciação dos recursos, incluindo de capital humano, e os trabalhadores mais qualificados abandonam o Líbano procurando oportunidades no exterior, o que constitui uma perda social e económica para o país", disse Saroj Kumar Jha, diretor regional do Banco Mundial.
"Apenas um governo reformista que venha a traçar um caminho no sentido da recuperação económica e financeira" pode reverter a situação libanesa, acrescentou.
Nas últimas semanas, com as reservas de divisas no Banco Central de Beirute em queda, assiste-se a uma grave falta de medicamentos assim como de combustível.
Os cortes de eletricidade prolongam-se durante mais de 12 horas por dia.
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