"Não se pode perder o foco naquilo que já eram os problemas estruturais que vinham de trás", disse à Lusa, numa entrevista sobre o Orçamento do Estado para 2022, a professora na Universidade Católica do Porto, referindo-se depois aos temas da saúde e da educação.
Quando questionada se havia o risco de a sociedade portuguesa, num clima pós-pandemia de covid-19, esquecer que o país continua com problemas estruturais nessas áreas, a académica respondeu que sim, "definitivamente".
"Não podemos correr o risco de agora ficar sentados. 'OK, respondeu-se bem, agora passou, está feito, arrumado'. De maneira nenhuma", vincou.
Elogiando a "resposta absolutamente inacreditável" do Serviço Nacional de Saúde durante a pandemia e vincando que esta "expôs uma diferença entre o ensino público e o ensino privado brutal", a economista pediu mais atenção a essas áreas.
"A escola pública funciona e é eficiente e funciona como igualizador e mobilizador social se toda a gente estiver na escola pública. Porque se só estiverem determinadas faixas da população, isso não acontece", reforçou.
Apesar de reconhecer que "as maiores fatias do orçamento são a Segurança Social, saúde e educação", Francisca Guedes de Oliveira deixou um alerta: "Se compararmos com alguns países, nomeadamente nórdicos, vemos que há aqui ainda algum caminho para se fazer".
"No Orçamento do Estado temos que, de facto, conseguir apostar na educação. E quando falo na educação, falo na qualificação. É educação ao longo da vida, não é só o ensino obrigatório, não é só o ensino superior, é tudo ao longo da vida", disse.
Mesmo com a entrada em ação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), a economista continua a defender que o Orçamento do Estado "por exemplo, no que diz respeito a investimento público em áreas absolutamente capitais, continua a ser o instrumento que tem que ser privilegiado".
Francisca Guedes de Oliveira considerou ainda que "quase tão mais importante do que aumentar a rubrica do investimento público, é executar o investimento público que está orçamentado".
Para a professora universitária, "o PRR vai trazer outro tipo de possibilidade, vai ser um complemento em muitas coisas, mas em outras coisas vai ser mesmo olhar para áreas privilegiadas como a transição digital, como a transição climática, a parte obviamente de resiliência".
"Mas são complementares. De maneira nenhuma podemos usar o PRR para dizer que agora não precisamos de fazer determinadas coisas em sede de Orçamento do Estado", defendeu.
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