"Há intenções de investimento que se retraem em virtude da incerteza. É mais uma incerteza. Nós temos incerteza sobre o custo das matérias-primas, quanto tempo vão estar os combustíveis com estes preços elevados, onde é que dispomos de mão-de-obra para responder às nossas necessidades... e agora temos mais uma incerteza a adicionar a isso", disse o ministro no debate, na generalidade, sobre o OE2022, referindo-se à possibilidade de rejeição da proposta do Governo.
Respondendo a pedidos de esclarecimento dos deputados do PS Nuno Sá e Vera Braz, o governante afirmou que um eventual 'chumbo' "vai ter um impacto sobre o ritmo" da recuperação económica.
"Da parte do Governo, da parte do ministro da Economia, estaremos aqui, durante todo o tempo em que estivermos em funções, para mitigar isso e responder às necessidades das empresas e das economias", sustentou.
Pedro Siza Vieira dirigiu-se posteriormente ao deputado do PCP Bruno Dias, defendendo o planeamento feito para a subida do salário mínimo até aos 750 euros no final da legislatura.
"É muito importante que nós possamos oferecer perspetivas de previsibilidade e estabilidade", advogou, dizendo que "as pessoas fizeram as suas projeções, as suas previsões, em virtude disso".
Num momento mais vigoroso da sua resposta, o governante lembrou que "desde 2015 o salário mínimo em Portugal aumentou um terço: 32%".
"A Alemanha vai agora aumentar 25%. A Alemanha não aumenta o salário mínimo há anos", exclamou, calculando que o aumento até aos 750 euros até 2023 representará "um aumento de 50%, 48% para ser exato".
Na sua intervenção inicial, Pedro Siza Vieira já tinha alertado que "qualquer passo maior que a perna pode fazer-nos perder a credibilidade" conquistada nos últimos anos, "podendo conduzir a um aumento brusco e descontrolado dos juros da dívida pública e privada".
"Mas isso não chega, dizem alguns. E preferem rejeitar o orçamento sob o pretexto de não ir suficientemente longe nem com maior rapidez. Preferem rejeitá-lo, na verdade, por motivos que não têm a ver com a proposta orçamental", disse.
Pedro Siza Vieira considerou que "nunca os partidos à esquerda do PS tiveram tanta capacidade para marcar a agenda da governação, e nunca um Orçamento do Estado foi tão moldado por esses partidos", afirmou no seu discurso.
Recuperando esta linha de raciocínio, na resposta a Bruno Dias (PCP), Pedro Siza Vieira também alertou para as consequências da hipotética queda do Governo.
"Se este Governo cai, se damos a oportunidade a alguém para vir aqui, aqueles senhores já disseram que o salário mínimo é muito elevado", afirmou, apontando para a bancada do PSD.
Assim, caso se rejeite o orçamento, no entender do ministro da Economia, abre-se a oportunidade "para aqueles que não gostam do salário mínimo aumentar exercerem o poder".
"Quando estamos a rejeitar um Orçamento do Estado porque não vamos suficientemente longe na 'destroikização' das leis laborais, estamos a dar oportunidade àqueles que as 'troikizaram', àqueles que querem voltar a mudá-las", advertiu.
"Apetece dizer: 'Que desperdício", tinha já desabafado, durante o seu discurso, o ministro.
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