"África tem um potencial tremendo em energias renováveis que continua, na maior parte, por explorar, por isso o desenvolvimento deste potencial devia ser uma prioridade para todos os países africanos", disse Al Hamdou Dorsouma em entrevista à Lusa.
Questionado sobre se os países produtores de petróleo devem manter a aposta nesta matéria prima ou migrar de imediato para as energias renováveis, Dorsouma reconheceu que a questão "é uma decisão soberana de cada país", mas argumentou que a decisão deve levar em conta que "todos os países africanos assinaram o Acordo de Paris, e qualquer decisão nesse sentido deve estar em linha com as Contribuições Nacionalmente Determinadas e fazer parte da Estratégia de Longo Prazo de cada país".
Na entrevista à Lusa a partir de Glasgow, onde é um dos representantes do BAD na 26.ª conferência do clima das Nações Unidas (COP26), Al Hamdou Dorsouma salientou que o banco "colocou as renováveis no topo da sua agenda e desde o lançamento do Novo Plano para a Energia de África, em 2016, 83% de todos os projetos de geração financiados pelo banco foram projetos de energia renovável".
A transição energética, reconheceu, "não é um processo que aconteça de um dia para o outro, vai precisar de tempo, principalmente para os países produtores de energia", como Nigéria ou Angola, os dois maiores produtores na África subsaariana.
"O banco é um membro do Conselho da Transição Energética da COP26, que está a trabalhar com vários países africanos esta questão, e também expandiu o Fundo Africano de Energia Sustentável, que tem uma compoente focada no aumento da contribuição das renováveis ligadas em rede, como alternativa às opções de geradores alimentados por combustíveis fósseis, que é um programa que pretende dar uma alternativa credível aos países africanos, com financiamento concessional que o torna financeiramente suportável", argumentou.
Decisores políticos e milhares de especialistas e ativistas reúnem-se até sexta-feira na COP26 para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030 e aumentar o financiamento para ajudar países afetados a enfrentar a crise climática.
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.
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