"Os estabelecimentos de todos nós estão em risco e a administração nunca nos deu qualquer informação. A resposta é sempre evasiva", disse à agência Lusa o responsável por uma das várias lojas do Atrium Solum, um pequeno centro comercial, que funciona no rés-do-chão de um prédio de habitação, no centro da cidade.
Sem dar o nome por medo de represálias por parte da administração (situação que se repetiu com todos os comerciantes que falaram com a Lusa), o gerente da loja salienta que estão em risco mais de 20 lojas e cerca de 60 postos de trabalho.
Para além das implicações na vida dos comerciantes do Atrium Solum que a instalação de um Mercadona teria, o gerente aponta para a perda de qualidade de vida de quem frequenta aquele centro comercial.
"Há muitos reformados que vêm até aqui para conviver, há muita gente que faz disto uma espécie de segunda casa, muitos deles já são nossos amigos", afirmou, salientando que à hora de almoço não se arranja sequer uma cadeira para se sentar na praça de restauração, que durante a manhã e a tarde é ocupada, acima de tudo, por idosos que moram nas redondezas.
Com loja há mais de cinco anos, o gerente salienta que há uns anos a administração já mudou os contratos de duração de dois anos para seis meses, sendo que agora, para novos interessados nas lojas que estão fechadas, a proposta é "de contratos de um mês".
O responsável por um dos espaços de restauração, que emprega cerca de dez pessoas, teme que todo o investimento que fez "vá à vida".
A desilusão, salienta, é acompanhada pelos fregueses, que usam a praça de restauração como "um local de encontro".
"A nossa esperança é que haja algum tipo de pressão política", frisou, notando que já há demasiada oferta de supermercados e hipermercados na zona.
"Isto vai complicar o estacionamento e circulação de automóveis, bem como o bem-estar das pessoas", realçou outro comerciante.
Na segunda-feira, na reunião do executivo da Câmara de Coimbra, no período de intervenção do público, um munícipe alertou para a possibilidade de instalação do Mercadona naquela zona, "uma área que não precisa para nada dos seus serviços".
Hélder Rodrigues apontou para problemas nas obras de instalação que podem pôr em causa a estabilidade do prédio, uma garagem diminuta, congestionamento de trânsito numa área já muito movimentada e alteração da qualidade de vida dos moradores daquela zona, para além do desemprego futuro de mais de 60 trabalhadores.
O munícipe salientou que em reunião de condóminos do prédio, a 14 de outubro, a proposta da Mercadona foi derrotada "sem apelo", sendo agora surpreendidos com notícias de que a cadeia mantinha a sua intenção de ali instalar um supermercado.
Na reunião, a vereadora com o pelouro do urbanismo, Ana Bastos, recordou que este é "um processo longo e complexo", considerando que, caso a praça saia, "é uma perda para a cidade".
Segundo a vereadora, o anterior executivo autorizou um pedido de informação prévia "que é vinculativo", havendo por isso "porta aberta para o licenciamento".
"Neste momento, o que estamos a analisar são questões de pormenor, porque a grande decisão já está tomada, a 11 de março de 2021", referiu, explicando, no entanto, que o projeto de arquitetura está retido no seu gabinete, "por levantar algumas questões".
O presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, afirmou que é importante "que a Mercadona se possa instalar na cidade", mas considerou que não o devia fazer numa zona central, apelando à cadeia espanhola "para ponderar mudar a localização".
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