De acordo com o boletim económico de março, hoje divulgado pelo Banco de Portugal (BdP), o Produto Interno Bruto (PIB) poderá crescer 4,9% em 2022, 2,9% em 2023 e 2,0% em 2024, "beneficiando de maiores recebimentos de fundos da União Europeia e da manutenção de condições financeiras favoráveis".
Em dezembro, o regulador previa um crescimento da economia de 5,8% em 2022, 3,1% em 2023 e 2% em 2024.
As projeções hoje divulgadas para este ano ficam próximas das do Conselho das Finanças Públicas (CFP), que antecipa uma subida de 4,8%. A estimativa oficial do Ministério das Finanças é de 5,5% para este ano, mas o Governo já admitiu rever em baixa o cenário macroeconómico na proposta do Orçamento do Estado.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento prevê uma expansão do PIB de 5,8% e a Comissão Europeia de 5,5%. Já o Fundo Monetário Internacional espera um crescimento de 5,1%.
"A economia portuguesa mantém um perfil de crescimento em 2022-24, num contexto de incerteza acrescida associada ao conflito na Ucrânia", refere o boletim económico do regulador, que destaca que "a invasão da Ucrânia pela Rússia contribui para limitar o dinamismo económico e para intensificar as pressões inflacionistas".
O regulador bancário assinala que "o impacto negativo sobre a atividade decorre do agravamento da subida dos preços das matérias-primas, da redução da confiança dos agentes económicos, da turbulência nos mercados financeiros e dos efeitos das sanções comerciais e financeiras impostas à Rússia", afirmando que as projeções assumem que "não se verifica uma escalada do conflito e que o impacto destes fatores e dos constrangimentos de oferta global se dissipam no médio prazo".
A revisão em 2022 face às projeções de dezembro reflete, de acordo com a instituição, o menor crescimento no quarto trimestre de 2021 e indicadores mais fracos no primeiro trimestre, devido à quinta vaga da pandemia no final do ano passado e nas primeiras semanas de 2022 e ao conflito militar, "a par da redução do poder de compra devido à inflação e às hipóteses externas menos favoráveis".
O BdP prevê que o consumo privado cresça 3,6% este ano, 1,9% em 2023 e 1,6% em 2024, "sustentado pelo aumento do rendimento disponível e por condições financeiras favoráveis".
Já a taxa de poupança reduz-se para 7,3% em 2022 e "permanece relativamente estável em 2023 e 2024", estima.
No que toca ao investimento, prevê um crescimento médio entre 2022 e 2023 de 7,6%, refletindo o "aumento dos recebimentos de fundos europeus, das perspetivas de recuperação da procura e da dissipação progressiva dos problemas nas cadeias de fornecimento globais". Os economistas do supervisor preveem que a Formação Bruta de Capital Fixo suba 9,2% este ano, 6% em 2023 e 3,9% em 2024.
O BdP vê as exportações a crescer 14,2% este ano, 7,5% em 2023, desacelerando para 3,8% em 2024, enquanto as importações avançam 12,3% este ano, 5,5% em 2023 e 3,3% em 2024.
"As exportações continuam a conjugar a dinâmica favorável da procura externa de bens com a recuperação dos fluxos internacionais de turismo, assumindo-se efeitos limitados do conflito na Ucrânia. As exportações de serviços aumentam 38,5% em 2022 -- ultrapassando o valor pré pandemia durante o primeiro semestre -- e apresentam crescimentos mais moderados nos anos seguintes", indica o boletim económico.
De acordo com a instituição liderada por Mário Centeno, a balança corrente e de capital apresenta um défice em 2022 de 0,4% do PIB, refletindo a deterioração dos termos de troca, esperando que em 2023 e 2024 volte a registar um excedente, associado à recuperação do turismo e à maior entrada de fundos europeus.
No entanto, alerta para "os riscos de repercussões mais significativas do conflito na Ucrânia com a imposição de sanções adicionais sobre a Rússia, novas subidas dos preços das matérias-primas, maior disrupção das cadeias de valor global, uma amplificação da incerteza e das fricções financeiras" que "implicariam um menor crescimento da atividade económica e uma inflação mais elevada".
Neste sentido, o BdP desenvolve um cenário de projeções adverso, no qual estima que os choques implicam uma redução da taxa de crescimento anual do PIB para 3,6% este ano, para 2,7% em 2023 e para 2,2% em 2024.
"Neste cenário, a atividade estagna, em média, ao longo de 2022. A variação anual do PIB de 3,6% decorre exclusivamente do efeito de arrastamento do ano anterior ('carry-over'), dado o perfil de crescimento intra-anual observado em 2021. Em 2024, o PIB encontra-se cerca de 1,3% abaixo do valor nas projeções deste boletim, refletindo uma recuperação parcial da atividade no final do horizonte associada à reversão de uma parte dos choques assumidos neste cenário adverso", explica.
O BdP alerta, assim, para que no atual contexto "as respostas de política económica nacionais e europeias são cruciais para assegurar a manutenção de um crescimento sustentado".
"É importante que Portugal revele capacidade para absorver os recursos disponíveis do PRR e que estes se materializem num aumento permanente da capacidade produtiva. Para convergir com a União Europeia é também fundamental continuar a aumentar as qualificações da população e a produtividade", adverte.
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