A Comissão Europeia admitiu hoje que "qualquer Estado-membro" da União Europeia (UE) pode seguir-se à Bulgária e à Polónia no corte de gás pela energética russa Gazprom, pedindo planos de contingência para eventual rutura total no fornecimento.
"A decisão da Gazprom, de suspender o fornecimento de gás à Polónia e à Bulgária, marca um ponto de viragem na atual crise e é uma violação injustificada dos contratos existentes e um aviso de que qualquer Estado-membro pode ser o próximo", disse a comissária europeia da Energia, Kadri Simson.
Falando em conferência de imprensa após o Conselho extraordinário de ministros da Energia da UE, em Bruxelas, Kadri Simson vincou que a Gazprom "demonstrou que não é um fornecedor de confiança e isso significa que todos os Estados-membros têm de ter planos [de contingência] para uma rutura total".
E, de acordo com a responsável europeia pela tutela, os países da UE já se estão a preparar, aumentando os níveis de armazenamento de gás.
"A nossa prioridade deve agora ser a preparação para qualquer perturbação dos fluxos", vincou Kadri Simson.
Portugal esteve representado no encontro pelo ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, que no final disse aos jornalistas portugueses em Bruxelas que, relativamente a este caso da Gazprom, o país "está pouco exposto ao fornecimento de gás russo", explicando que, em 2021, este representou menos de 10% do gás importado por Portugal, valor que já estava previsto ser ainda mais baixo este ano.
"Essencialmente, somos abastecidos por gás natural liquefeito que chega a Portugal através do terminal de Sines. Os nossos níveis de abastecimento estão hoje a mais de 80% da nossa capacidade total e, até à data, não tivemos nem temos nenhuma razão que nos leve a acreditar que teremos problemas ao nível das entregas", sublinhou Duarte Cordeiro.
Segundo o governante português, na reunião de hoje, "houve da parte dos Estados-membros uma condenação desta decisão unilateral da Gazprom e foi demonstrada solidariedade por todos os países da União relativamente aos países afetados, a Bulgária e a Polónia".
Na semana passada, o grupo russo Gazprom anunciou que suspendeu todas as suas entregas de gás à Bulgária e à Polónia, dois países membros da União Europeia, por não terem feito o pagamento em rublos.
Sobre as pressões russas para o pagamento da energia em rublos, a comissária europeia apontou que o executivo comunitário "já deu indicações aos Estados-membros" e está a aconselhar as empresas para não pagar na moeda russa, já que isso é uma "alteração unilateral dos contratos" e uma "clara violação das sanções" europeias impostas à Rússia pela guerra da Ucrânia.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já veio garantir que a UE "está preparada", procurando alternativas à Rússia e reforçando o armazenamento comunitário.
A Rússia lançou, na madrugada de 24 de fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de dois mil civis, segundo dados da Organização das Nações Unidas, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A guerra na Ucrânia, causada pela invasão russa do país, agravou a situação de crise energética em que a UE já se encontrava.
As tensões geopolíticas devido à guerra da Ucrânia têm afetado o mercado energético europeu, já que a UE importa 90% do gás que consome, sendo a Rússia responsável por cerca de 45% dessas importações, em níveis variáveis entre os Estados-membros.
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