O que aconteceu na ferrovia "pode acontecer na aviação. Temos um 'cluster' que se tem mostrado muito dinâmico, com um conjunto de investimentos, o que são os ingredientes suficientes para que Portugal possa ter um setor em crescimento", afirmou Pedro Nuno Santos nos AED Days 2022, organizado pelo município de Oeiras e pela AED Cluster Portugal, que envolve mais de 100 entidades dos setores da aeronáutica, espaço e defesa.
Para isso, conforme sublinhou o governante, é preciso que o "público e o privado não se olhem como adversários, mas [como] cooperantes", também com a ajuda da academia.
No que se refere à TAP, o ministro esclareceu que "não é um tema polémico", notando que a intervenção feita na companhia foi justificada pela sua importância para o país.
"A principal razão para a nossa intervenção não foi só assegurar a conectividade do país com o mundo. O que a TAP significa é muito mais do que a conectividade", precisou.
O governante recordou a crise de 2008, apontando que Portugal tinha, na altura, uma dívida pública de 60%, enquanto a de Espanha rondava os 30% e ainda apresentava um excedente orçamental.
Assim, a semelhança entre Portugal, Espanha e Grécia, países com uma "explosão das taxas de juro" nas dívidas soberanas, é que estas economias estavam endividadas face ao exterior.
Por outro lado, referiu que um equilíbrio na balança de pagamentos pode significar que o país está em estagnação económica.
Neste sentido, vincou que a TAP é um dos maiores exportadores nacionais, o que constitui uma riqueza "da qual o país não podia prescindir".
A isto somam-se ainda 1.300 milhões de euros anuais em compras da transportadora aérea a 1.000 empresas nacionais.
"Foi uma decisão que gerou polémica e foi alvo de grande debate, mas para nós é clara", reiterou.
No que se refere ao novo aeroporto de Lisboa, Pedro Nuno Santos disse não existir "uma nova localização sem espinhas".
O ministro das Infraestruturas e da Habitação declarou assim ser importante que, independentemente da mudança do Governo e dos governantes, seja gerado um consenso em torno desta temática, para que não se verifique um recuo.
Em matéria de ferrovia, Pedro Nuno Santos lamentou que, durante décadas, o país tenha deixado de investir neste setor, com linhas encerradas e as empresas numa "situação difícil".
Para aumentar a oferta de material circulante, e tendo em conta que a encomenda de comboios "demora muito tempo", a opção passou pelo parque de material abandonado, procedendo à recuperação dos comboios. "Não somos um país rico, mas demo-nos ao luxo de encostar locomotivas, automotoras e outros a apodrecer [...]. Toda a recuperação teve mais de 90% de incorporação nacional", indicou.
A par da recuperação do material circulante, foi lançado um concurso para 117 comboios, sendo que todos os concorrentes já manifestaram a intenção de ter uma fábrica em Portugal.
"Temos carruagens ainda a circular em Nova Iorque [que foram feitas em Portugal]. Estamos a criar condições para que essas competências voltem a existir", concluiu.
Na mesma sessão, o secretário de Estado da Defesa Nacional, Marco Capitão Ferreira, já tinha mencionado que o sucesso da indústria e do Governo "não estão separados", apelando a que os processos de desenvolvimento sejam mais céleres.
Leia Também: TAP. Técnicos de manutenção de aeronaves pedem fim dos cortes salariais