Cabo Verde prevê inflação de 8% em 2022, valor mais alto em 25 anos
A inflação em Cabo Verde poderá chegar aos 8% este ano, a mais elevada dos últimos 25 anos, previu hoje o Governo, antevendo efeitos no poder de compra e "impacto muito forte" nas famílias mais vulneráveis.
© Lusa
Economia Cabo Verde
As previsões foram avançadas pelo secretário de Estado das Finanças, Alcindo Mota, numa apresentação que antecedeu uma comunicação do primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, que declarou a situação de emergência social e económica no país devido aos impactos da guerra na Ucrânia.
Os valores previstos pelo Governo são superiores aos do Banco de Cabo Verde (BCV), que para este ano prevê uma taxa média de inflação de 7,3%.
A concretizar-se a taxa de inflação em 2022 de 8%, será o valor mais alto dos últimos 25 anos, só superado pelos 8,7% em 1997, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
No primeiro trimestre deste ano, a taxa de inflação no país atingiu 3,8%, o valor mais alto em praticamente 11 anos, face à taxa nula no mesmo período de 2021, devido ao impacto da escalada de preços provocada pela guerra na Ucrânia, segundo o Ministério das Finanças.
Quanto ao crescimento económico, em 2021 o Governo cabo-verdiano admite que possa ter crescido 6,5, impulsionada pela retoma da procura turística, mas reviu esse crescimento em baixa para os 4%, devido às consequências económicas da invasão russa da Ucrânia.
Na semana passada, o BCV anunciou a revisão em baixa e uma moderação do crescimento económico para 2022 no intervalo de 3,5% a 4,5%, justificada com o conflito na Ucrânia e a tensão geopolítica.
O país vive uma profunda crise económica, após uma recessão de quase 15% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, face à ausência de turismo provocada pela pandemia de covid-19, setor que garante 25% do PIB e do emprego.
No setor da energia, o ministro da Indústria e Energia, Alexandre Monteiro, também fez uma apresentação, em que indicou que de abril a junho o Governo evitou aumentos médios dos combustíveis de 16,1%, graças às medidas tomadas.
"O nível do preço dos combustíveis no mundo hoje está cerca de duas vezes mais do que há um ano, o que obriga necessariamente ao reajuste de preços das tarifas de eletricidade", referiu, lembrando que em Cabo Verde cerca de 80% da produção de eletricidade é garantida por combustíveis fósseis.
"Há necessidade de readaptação a essa nova realidade do mercado energético", afirmou o ministro, indicando que as medidas de urgência no setor da energia têm um valor estimado de 5,4 mil milhões de escudos (49 milhões de euros).
O ministro da Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva, sublinhou, por seu lado, que a situação no mundo e no país "vem piorando", afetando a situação alimentar dos mais vulneráveis e dos países mais importadores, como é o caso de Cabo Verde.
Para aumentar o 'stock' e evitar mais aumentos de preços dos produtos alimentares, o ministro disse que o país está a organizar as compras agrupadas.
"Os importadores disseram que sim, o banco financiador já disse sim e nós estamos num processo positivo em que, efetivamente, estamos a caminhar para uma negociação, como consequência aumentamos a capacidade de 'stock' no país", previu.
Para o milho de segunda, o governante indicou que o objetivo é ter um 'stock' de 7,33 meses, para o arroz de quase 11 meses, o trigo para sete meses, açúcar com três meses, feijão quatro meses, o mesmo para o óleo alimentar.
"Vamos ter que continuar a fazer uma boa articulação com os atores comerciais no sentido de assegurarmos essa situação favorável no país", pediu o ministro da Agricultura e Ambiente, para quem a tendência é para o aumento dos preços a nível internacional.
Cabo Verde já tinha fechado 2021 com uma inflação média anual de 1,9%, o valor mais alto desde 2013, então influenciado pelo aumento do preço dos combustíveis no mercado internacional, segundo o Governo.
Na declaração da situação de emergência social e económica no país, o primeiro-ministro avançou que o custo total para implementação das medidas de mitigação dos efeitos das crises alimentar e energética é de 8,9 mil milhões de escudos (80,7 milhões de euros) até ao final do ano.
Garantindo uma "gestão mais rigorosa" de viaturas do Estado e apelando a um esforço de racionalização de todos, Ulisses Correia e Silva disse que o Governo vai reforçar as suas ações junto dos parceiros internacionais para mobilizar recursos para financiar as medidas.
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