Angola. Bancos querem dar crédito, mas falta quem queira contrair dívida
O economista-chefe do Standard Bank para Angola e Moçambique considerou hoje que a banca angolana está apta para dar mais crédito, mas faltam projetos viáveis e pessoas dispostas a contrair dívida.
© Flickr/David Stanley
Economia Angola
Fausio Mussá falava hoje durante o Briefing Económico apresentado pela instituição financeira em Luanda.
"Existe grande concorrência no setor bancário em Angola e os bancos fazem lucro quando conseguem fazer crédito. A banca está a tornar-se mais competitiva, o rácio de malparado tem vindo a reduzir e a concessão de crédito está mais atrativo", considerou.
Para Fausio Mussá, o que falta em Angola não são bancos dispostos a emprestar dinheiro, são pessoas dispostas a contrair divida: "só faz sentido contrair divida quem tenha um projeto economicamente viável", sublinhou.
"Vejo os bancos angolanos com forte apetite para emprestar, a dificuldade está em encontrar clientes com condições", de forma a manter o malparado em níveis aceitáveis, apontou.
Lembrou também que há pessoas que estão completamente excluídas do setor financeiro e não têm sequer uma conta bancária.
"Os bancos operam de acordo com as condições de mercado, operam num mercado em que a taxa de juro reflete um cerro nível de inflação da economia, um certo nível de valor do kwanza", complementou o economista
Por outro lado, salientou que o papel da banca é também garantir que haja qualidade de crédito e que os depósitos que a banca capta são legítimos, para que Angola não vote a experienciar situações que já viveu anteriormente.
Na sua análise, o economista falou também da tendência global de inflação elevada notando que foi um legado da pandemia, à qual se seguiu um novo choque devido ao conflito na Ucrânia.
Destacando o atual momento pré-eleitoral, defendeu que há pouco espaço de manobra para gerir a economia de forma diferente e que Angola tem de continuar a fazer reformas estruturais para reduzir dependência do petróleo.
Do lado positivo, referiu que Angola, depois do programa bem-sucedido com o Fundo Monetário Internacional, beneficia também de maior apoio externo seja de governos, seja de instituições financeiras internacionais, progresso que foi aproveitado para estabilizar a produção petrolífera que continua a ser o motor da economia angolana.
Abordou também a questão das alterações nas taxas de juro que "podem ter consequências muito negativas", na economia real, e o tema dos subsídios aos combustíveis cuja retirada defendeu, por distorcer os preços do mercado, apesar de ajudar a controlar a inflação.
No entanto, num ano de eleições "não são esperados grandes ajustes", admitiu.
Quanto à taxa de juro, prevê-se que baixe até ao final do ano, face à descida de inflação e tendência de aumento do crédito ao setor privado.
"Notamos que a redução do coeficiente de reservas obrigatórias é um claro sinal de que o banco central pretende aliviar a política monetária. Mas para produzir mais crédito em Angola não basta taxa de juro, é preciso que o registo de propriedade funcione melhor, que a central de risco envie informações sobre os beneficiários", exemplificou.
Apesar da pressão das eleições, prevê, no entanto, que no âmbito dos esforços de consolidação fiscal se consiga evitar um défice orçamental, podendo até ser gerado um excedente se o preço do petróleo se mantiver acima dos 100 dólares.
Por outro lado, depois de um longo período em que foi necessário estabilizar a economia o governo angolano vai ter de novo capacidade de endividamento, notou o especialista, acrescentando que é preciso saber como será usada essa capacidade e considerar os custos da divida.
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